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São Paulo, segunda-feira, 01 de setembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Fiéis saem de Bagdá rumo a Najaf para assistir ao funeral de Al Hakim e prometem se vingar dos assassinos

Procissão por líder xiita reúne 300 mil

Misha Japaridze/Associated Press
Xiitas iraquianos cantam ao esperar a vez de se aproximar do caixão do líder Al Hakim, em Bagdá


DA REDAÇÃO

Batendo as mãos contra o peito e exigindo vingança, mais de 300 mil xiitas iraquianos começaram ontem em Bagdá uma marcha de dois dias até a cidade sagrada de Najaf, a 160 km ao sul da capital, para lamentar o assassinato de um dos principais líderes xiitas do país, o aiatolá Mohammed Baqer al Hakim. Foi uma das maiores manifestações públicas desde a queda de Saddam Hussein.
O líder religioso está entre as dezenas de pessoas mortas no atentado da última sexta-feira, em Najaf. Ainda há controvérsia sobre o número de mortos: o governo local fala em 83, mas um porta-voz das forças americanas disse que 125 perderam a vida no ataque.
Os fiéis seguiam atrás de um caminhão que carregava um caixão simbólico de Al Hakim, um clérigo moderado e opositor de Saddam. De seu corpo, apenas a mão foi achada nos escombros.
"Nossa vingança será severa contra os assassinos", dizia uma das faixas carregadas pelos fiéis.
Em outras faixas carregadas pelos xiitas, liam-se críticas a Saddam e ao presidente dos EUA, George W. Bush.
"Saddam e Bush não nos humilharão", dizia uma faixa.
A procissão deve fazer uma parada em Karbala antes de chegar ao local da explosão, a mesquita onde está a tumba de Ali, genro do profeta Muhammad (570-563) e considerado o fundador do xiismo. O funeral de Al Hakim está previsto para amanhã.
O líder havia chegado ao Iraque em maio passado, após ter se exilado no Irã. Embora apoiasse a criação de um Estado islâmico no Iraque, ele também pregava a união entre xiitas e a tolerância à coalizão liderada pelos EUA.
Em Najaf, o major Rick Hall, porta-voz de um batalhão de marines estacionado na região, disse que o número de mortos no atentado chegou a 125. Esse número pode aumentar, já que alguns dos 142 feridos estão em estado grave.

Ajuda do FBI
Ontem, o governador de Najaf, Haider Mehadi, requisitou que o FBI (polícia federal americana) auxilie a polícia iraquiana a investigar o atentado, informou um funcionário da Autoridade Provisória da Coalizão (APC). O FBI já anunciou que vai ajudar.
Os americanos não haviam assumido até agora um papel ativo nas investigações em Najaf por causa da resistência iraquiana em aceitar qualquer presença americana no local sagrado.
Agentes do FBI estão liderando as investigações dos dois atentados anteriores, contra a Embaixada da Jordânia em Bagdá, no último dia 7, quando 19 morreram, e contra as instalações da ONU, que matou 22 pessoas, entre elas o representante da entidade no país, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
Para a polícia iraquiana, há semelhanças entre o atentado contra a mesquita e os outros dois ataques -o explosivo utilizados nos três casos são do mesmo tipo.
A política iraquiana afirma ter prendido 19 homens, dos quais muitos são estrangeiros, principalmente sauditas e palestinos com passaporte da Jordânia. Todos teriam admitido ligações com a Al Qaeda, de Osama bin Laden.
Esse número não foi confirmado ontem por Mehaddi. Segundo ele, houve no máximo a prisão de cinco iraquianos.
Anteontem, Muhammed Bahr al Uloum, líder xiita que voltou ao Iraque após se refugiar em Londres, anunciou a suspensão de sua participação no Conselho de Governo Iraquiano, formado por 25 líderes do país, por causa do clima de insegurança.

Atrás de Saddam
Dezenas de soldados americanos, apoiados por veículos blindados e helicópteros, vasculharam fazendas na região de Mossul (ao norte de Bagdá), atrás de forças leais a Saddam e do próprio ex-ditador. Segundo moradores da área, os EUA intensificaram na semana passada ações desse tipo. O Exército americano não comentou a operação de ontem.
As guerrilhas mataram 65 soldados americanos desde que Washington declarou o fim das principais operações militares no Iraque. Os EUA culpam forçais leais a Saddam e estrangeiros.
O ex-ditador permanece foragido apesar de uma recompensa de US$ 25 milhões pela sua captura. Os EUA têm afirmado que ele será eventualmente preso ou morto.

Com agências internacionais

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