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Uribe e Chávez dão início a lento acordo por reféns
Parentes de seqüestrados têm esperanças
por proximidade de venezuelano com Farc
Acordo humanitário prevê
45 reféns por 500 rebeldes
presos, mas Farc exigem
zona desmilitarizada para
negociar com governo
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
A reunião bilateral entre os
presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, e da Venezuela, Hugo
Chávez, ontem, em Bogotá, é
apenas o início de uma longa
negociação que pode colocar
fim a cinco anos de seqüestro
de 45 reféns da guerrilha colombiana.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a proximidade
de Chávez com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ajuda a pressionar a guerrilha a ceder em uma
troca de prisioneiros, para a
qual 500 guerrilheiros presos
seriam libertados. Mas não é
para já.
Até o final desta edição, os
dois presidentes não haviam
feito nenhum comunicado,
mas sobraram abraços e mostras de companheirismo entre
os dois. Chávez teria prometido voltar à Comunidade Andina e receberia representantes
das Farc em Caracas.
"Venho com minha fé e meu
otimismo para contribuir com
a busca da paz para todos", disse Chávez ao chegar.
O encontro aconteceu em
uma fazenda que serve de retiro para os presidentes colombianos. A Hatogrande foi casa
de Simón Bolívar, herói da independência hispano-americana e ídolo de Chávez, o que encantou o venezuelano.
Uribe anunciou na noite de
quinta-feira que falaria com
Chávez "com toda a sinceridade e fraternidade", mas que não
aceitaria desmilitarizar territórios para a guerrilha nem aceitaria que guerrilheiros presos
voltassem às Farc ao receber
anistia. Até agora, a posição pública das Farc é de rejeitar as
duas condições.
Rivalidade e desconfiança
O diálogo é inusitado pela
histórica rivalidade entre os
dois países e a desconfiança entre os presidentes ideologicamente opostos. Parecidos no
populismo, no carisma e nas altas taxas de popularidade em
seus países, os dois já tiveram
vários desencontros.
Vários ministros colombianos acusaram nos últimos anos
a Venezuela de fazer pouco caso para guerrilheiros das Farc
que buscam esconderijo ali.
Chávez abandonou no ano
passado a Comunidade Andina,
associação a que os dois países
pertencem, ao criticar a assinatura, pela Colômbia, de um tratado de livre comércio com os
EUA. No passado, já culpou a
"elite colombiana" pelo conflito armado.
No novo estágio de confiança, houve concessões dos dois
lados. Uribe nomeou uma de
suas maiores opositoras, a senadora esquerdista Piedad
Córdoba, amiga de Chávez, para coordenar as negociações.
Ela foi a Caracas para dialogar com Chávez em pleno "Alô,
Presidente", o programa dominical de tevê do venezuelano.
No programa, Chávez fez um
chamado público ao líder das
Farc, Manuel Marulanda. Há
expectativa de que Marulanda
apresente a Chávez suas condições para um acordo.
"Sou a favor do intercâmbio
humanitário, torço para que o
convite a Chávez tenha resultados positivos, pois o Estado colombiano é incapaz de impedir
seqüestros ou de resgatar os reféns de outra maneira", disse à
Folha o senador Jorge Robledo, do esquerdista Pólo Democrático Alternativo.
Pressão francesa
Quem acompanha de perto a
negociação é o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Ele ligou
nesta semana para Uribe e Chávez e seu chanceler receberá o
homólogo colombiano na semana que vem em Paris.
A refém mais popular do grupo é a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. Cidadã
francesa, onde estudou e se casou pela primeira vez, Betancourt é ídolo na França.
Antes, o ex-presidente Jacques Chirac e o ex-premiê Dominique de Villepin já tentaram intermediar, sem sucesso.
Sarkozy sabe que sua popularidade poderia crescer até mais
se ele conseguisse, de alguma
maneira, libertar Betancourt
de seus cinco anos de cativeiro.
"Os guerrilheiros dizem que
admiram Chávez. Talvez a
guerrilha não o obedeça, mas
deve tomar nota", diz o marido
de Betancourt, Juan Carlos Lecompte. "É a primeira vez que
eu vejo que pode haver uma luz
pequenina no fim do túnel."
Além de Betancourt, há três
cidadãos americanos, políticos,
militares e policiais entre os 45
seqüestrados.
No grupo original de reféns,
estavam 11 deputados regionais
que foram mortos, segundo as
Farc, em 18 de junho, durante
um ataque ao cativeiro. Uribe
anunciou na quinta-feira que
as Farc entregariam os cadáveres hoje, mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha não
confirmou a entrega.
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