São Paulo, sábado, 01 de setembro de 2007

Próximo Texto | Índice

Uribe e Chávez dão início a lento acordo por reféns

Parentes de seqüestrados têm esperanças por proximidade de venezuelano com Farc

Acordo humanitário prevê 45 reféns por 500 rebeldes presos, mas Farc exigem zona desmilitarizada para negociar com governo

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

A reunião bilateral entre os presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, e da Venezuela, Hugo Chávez, ontem, em Bogotá, é apenas o início de uma longa negociação que pode colocar fim a cinco anos de seqüestro de 45 reféns da guerrilha colombiana.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, a proximidade de Chávez com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ajuda a pressionar a guerrilha a ceder em uma troca de prisioneiros, para a qual 500 guerrilheiros presos seriam libertados. Mas não é para já.
Até o final desta edição, os dois presidentes não haviam feito nenhum comunicado, mas sobraram abraços e mostras de companheirismo entre os dois. Chávez teria prometido voltar à Comunidade Andina e receberia representantes das Farc em Caracas.
"Venho com minha fé e meu otimismo para contribuir com a busca da paz para todos", disse Chávez ao chegar.
O encontro aconteceu em uma fazenda que serve de retiro para os presidentes colombianos. A Hatogrande foi casa de Simón Bolívar, herói da independência hispano-americana e ídolo de Chávez, o que encantou o venezuelano.
Uribe anunciou na noite de quinta-feira que falaria com Chávez "com toda a sinceridade e fraternidade", mas que não aceitaria desmilitarizar territórios para a guerrilha nem aceitaria que guerrilheiros presos voltassem às Farc ao receber anistia. Até agora, a posição pública das Farc é de rejeitar as duas condições.

Rivalidade e desconfiança
O diálogo é inusitado pela histórica rivalidade entre os dois países e a desconfiança entre os presidentes ideologicamente opostos. Parecidos no populismo, no carisma e nas altas taxas de popularidade em seus países, os dois já tiveram vários desencontros.
Vários ministros colombianos acusaram nos últimos anos a Venezuela de fazer pouco caso para guerrilheiros das Farc que buscam esconderijo ali.
Chávez abandonou no ano passado a Comunidade Andina, associação a que os dois países pertencem, ao criticar a assinatura, pela Colômbia, de um tratado de livre comércio com os EUA. No passado, já culpou a "elite colombiana" pelo conflito armado.
No novo estágio de confiança, houve concessões dos dois lados. Uribe nomeou uma de suas maiores opositoras, a senadora esquerdista Piedad Córdoba, amiga de Chávez, para coordenar as negociações.
Ela foi a Caracas para dialogar com Chávez em pleno "Alô, Presidente", o programa dominical de tevê do venezuelano.
No programa, Chávez fez um chamado público ao líder das Farc, Manuel Marulanda. Há expectativa de que Marulanda apresente a Chávez suas condições para um acordo.
"Sou a favor do intercâmbio humanitário, torço para que o convite a Chávez tenha resultados positivos, pois o Estado colombiano é incapaz de impedir seqüestros ou de resgatar os reféns de outra maneira", disse à Folha o senador Jorge Robledo, do esquerdista Pólo Democrático Alternativo.

Pressão francesa
Quem acompanha de perto a negociação é o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Ele ligou nesta semana para Uribe e Chávez e seu chanceler receberá o homólogo colombiano na semana que vem em Paris.
A refém mais popular do grupo é a ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt. Cidadã francesa, onde estudou e se casou pela primeira vez, Betancourt é ídolo na França.
Antes, o ex-presidente Jacques Chirac e o ex-premiê Dominique de Villepin já tentaram intermediar, sem sucesso. Sarkozy sabe que sua popularidade poderia crescer até mais se ele conseguisse, de alguma maneira, libertar Betancourt de seus cinco anos de cativeiro.
"Os guerrilheiros dizem que admiram Chávez. Talvez a guerrilha não o obedeça, mas deve tomar nota", diz o marido de Betancourt, Juan Carlos Lecompte. "É a primeira vez que eu vejo que pode haver uma luz pequenina no fim do túnel."
Além de Betancourt, há três cidadãos americanos, políticos, militares e policiais entre os 45 seqüestrados.
No grupo original de reféns, estavam 11 deputados regionais que foram mortos, segundo as Farc, em 18 de junho, durante um ataque ao cativeiro. Uribe anunciou na quinta-feira que as Farc entregariam os cadáveres hoje, mas o Comitê Internacional da Cruz Vermelha não confirmou a entrega.

Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.