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PERIGO NUCLEAR
Entenda a provável
causa do acidente
GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
da Reportagem Local
A hipótese de que o excesso de
urânio usado para reprocessamento tenha causado o acidente
em Tokaimura pode estar correta,
segundo José Rubens Maiorino,
chefe do Departamento de Reatores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).
"A reação nuclear é influenciada por fatores como composição
dos materiais que ela consome e
geometria do equipamento onde
ela deveria ocorrer, normalmente
um reator nuclear", disse à Folha.
"O reator é uma bomba atômica
que não estoura. Ele gera calor e
radiação, mas está preparado para suportar ambos."
Segundo Maiorino, o excesso de
urânio, em número oito vezes
maior que o recomendado, segundo suspeitas da empresa que
controla a usina, teria interferido
nesses fatores e levado o urânio à
criticalidade, condição que permite à reação nuclear manter-se
sem interferência externa.
Todos os materiais existentes
no planeta são compostos por
átomos, considerados as unidades fundamentais da matéria.
Os átomos possuem elétrons,
elementos de carga negativa, e
núcleo. A reação atômica é provocada em elementos que têm núcleo instável.
Os núcleos são compostos por
nêutrons, de carga neutra, e prótons, de carga positiva. A modificação desses núcleos, retirando
deles um nêutron (processo chamado de fissão), gera uma quantidade enorme de energia. O nêutron que é retirado do núcleo provoca outra fissão nuclear, que
desloca mais um nêutron, e assim
a reação se mantém.
A combustão (uma reação química) de 0,012 kg de carbono permite aquecer 1,175 quilograma de
água de 20C até 100C. Com a
reação nuclear de 0,004 kg de hidrogênio, é possível aquecer à
mesma temperatura 6,25 milhões
de quilogramas de água.
De acordo com Maiorino, "as
instalações de reprocessamento
de urânio, que recuperam a parte
dos combustíveis atômicos já utilizados em usinas nucleares que
ainda podem servir para gerar
energia, são feitas para não atingir
o estado crítico". Não há usinas
desse tipo no Brasil.
Se atingir o estado crítico, um
equipamento de reprocessamento de urânio não consegue suportar os níveis de radiação e energia
desencadeados pela reação nuclear, causando um problema como o enfrentado ontem no Japão.
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