São Paulo, Sexta-feira, 01 de Outubro de 1999
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PERIGO NUCLEAR

Entenda a provável causa do acidente


GUSTAVO HENRIQUE RUFFO
da Reportagem Local

A hipótese de que o excesso de urânio usado para reprocessamento tenha causado o acidente em Tokaimura pode estar correta, segundo José Rubens Maiorino, chefe do Departamento de Reatores do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).
"A reação nuclear é influenciada por fatores como composição dos materiais que ela consome e geometria do equipamento onde ela deveria ocorrer, normalmente um reator nuclear", disse à Folha.
"O reator é uma bomba atômica que não estoura. Ele gera calor e radiação, mas está preparado para suportar ambos."
Segundo Maiorino, o excesso de urânio, em número oito vezes maior que o recomendado, segundo suspeitas da empresa que controla a usina, teria interferido nesses fatores e levado o urânio à criticalidade, condição que permite à reação nuclear manter-se sem interferência externa.
Todos os materiais existentes no planeta são compostos por átomos, considerados as unidades fundamentais da matéria.
Os átomos possuem elétrons, elementos de carga negativa, e núcleo. A reação atômica é provocada em elementos que têm núcleo instável.
Os núcleos são compostos por nêutrons, de carga neutra, e prótons, de carga positiva. A modificação desses núcleos, retirando deles um nêutron (processo chamado de fissão), gera uma quantidade enorme de energia. O nêutron que é retirado do núcleo provoca outra fissão nuclear, que desloca mais um nêutron, e assim a reação se mantém.
A combustão (uma reação química) de 0,012 kg de carbono permite aquecer 1,175 quilograma de água de 20C até 100C. Com a reação nuclear de 0,004 kg de hidrogênio, é possível aquecer à mesma temperatura 6,25 milhões de quilogramas de água.
De acordo com Maiorino, "as instalações de reprocessamento de urânio, que recuperam a parte dos combustíveis atômicos já utilizados em usinas nucleares que ainda podem servir para gerar energia, são feitas para não atingir o estado crítico". Não há usinas desse tipo no Brasil.
Se atingir o estado crítico, um equipamento de reprocessamento de urânio não consegue suportar os níveis de radiação e energia desencadeados pela reação nuclear, causando um problema como o enfrentado ontem no Japão.


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