|
Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NOS EUA / NEGÓCIO ARRISCADO
Despreparo de Palin leva até direita a pedir por sua saída
Insatisfação com vice de McCain cresce entre articulistas e políticos conservadores
Entrevistas malsucedidas levam a republicanos medo de que inépcia da candidata em economia e em política externa ameace a chapa
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Com pedidos para que ela se
retire da chapa e críticas a sua
presença "embaraçosa", vem
sendo formada entre conservadores dos EUA uma frente contra a candidatura da governadora do Alasca, Sarah Palin, à
Vice-Presidência do país pelo
Partido Republicano.
As críticas de seu próprio
partido chegam após três entrevistas a TVs americanas nas
quais seu conhecimento nas
áreas econômica e de política
externa foi questionado. E aumentam com a perspectiva do
debate entre Palin, 44, e o candidato a vice democrata, Joe Biden, 65, amanhã na Universidade Washington em St. Louis.
Kathleen Parker, respeitada
colunista conservadora que
apoiou a governadora inicialmente, escreveu na revista
"National Review" que, após
assistir às últimas entrevistas
de Palin, está exausta de fazer
caretas. "Se bobagem fosse
uma moeda, Palin poderia resgatar Wall Street [da crise econômica] sozinha", afirmou. "Só
Palin pode salvar McCain, seu
partido e o país que ela ama. Ela
pode sair [da chapa] por razões
pessoais, para cuidar de seu bebê. Ninguém critica uma mãe
que prioriza a família."
"Ela já provou totalmente -e
irreparavelmente- que não dá
conta do cargo de presidente
dos EUA", completou David
Frum, colunista conservador e
ex-redator de discursos para
George W. Bush. Uma frase de
Palin repetida à exaustão nos
EUA diz que, se a chapa republicana vencer, ela estará "a
uma batida de coração" de governar o país. O sentido é de "a
um passo", mas houve ilação
imediata à idade de seu cabeça-de-chapa, John McCain: 72.
Para David Brooks, colunista
conservador do "New York Times", a presença de Palin na
chapa é "embaraçosa". A opinião é partilhada também por
colunistas menos identificados
com o conservadorismo. "Sarah Palin está pronta [para a Vice-Presidência]? Por favor. Alguém deveria acabar logo com
sua agonia", afirmou em artigo
o editor da revista "Newsweek"
Fareed Zakaria, de centro.
Momento decisivo
Robert Erikson, especialista
em política e opinião pública da
Universidade Columbia, afirmou à Folha que o debate de
amanhã será decisivo para o futuro de Palin na chapa.
"Por enquanto a chance de
ela sair me parece pequena,
mas, se a situação piorar,
McCain pode não ter saída."
A substituição de um vice no
meio da campanha não seria
inédita: em 1972, o candidato
democrata, George McGovern,
forçou a saída do colega de chapa Thomas Eagleton quando
veio à tona que ele sofria de depressão. McGovern acabou
perdendo a eleição para Richard Nixon (1969-1974).
Também hoje, a decisão é arriscada. "Surgiriam novos problemas para McCain, que desagradariam a direita religiosa",
diz o analista. "Os que hoje pedem a substituição de Palin são
intelectuais conservadores na
área econômica, que nem sempre influenciam a base."
A campanha republicana, assim como McCain, aposta nesse apelo a conservadores sociais e cristãos evangélicos para
defender Palin.
Em entrevista à jornalista da
CBS Katie Couric, McCain afirmou que a mídia está praticando um jornalismo de "pegadinhas" com Palin, com armadilhas para provocar deslizes:
"Eu já vi pessoas sendo subestimadas antes. Estou muito orgulhoso da empolgação que Palin trouxe ao partido pelo país".
Para Erikson, Palin pode ter
parecido uma escolha brilhante inicialmente, mas agora
mais prejudica do que ajuda os
republicanos.
E muitos concordam: Mike
Murphy, ex-conselheiro de
McCain, disse que a performance de Palin na campanha
demonstrou que ela foi a escolha errada. Ele disse ao "New
York Times" torcer para que a
governadora do Alasca mude
essa impressão no debate de
amanhã: "Ela tem a oportunidade de desfazer um pouco do
dano se tiver uma atuação muito forte. É plausível. Mas vamos ter de esperar para ver".
Próximo Texto: Frase Índice
|