São Paulo, quarta-feira, 01 de outubro de 2008

Próximo Texto | Índice

SUCESSÃO NOS EUA / NEGÓCIO ARRISCADO

Despreparo de Palin leva até direita a pedir por sua saída

Insatisfação com vice de McCain cresce entre articulistas e políticos conservadores

Entrevistas malsucedidas levam a republicanos medo de que inépcia da candidata em economia e em política externa ameace a chapa

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Com pedidos para que ela se retire da chapa e críticas a sua presença "embaraçosa", vem sendo formada entre conservadores dos EUA uma frente contra a candidatura da governadora do Alasca, Sarah Palin, à Vice-Presidência do país pelo Partido Republicano.
As críticas de seu próprio partido chegam após três entrevistas a TVs americanas nas quais seu conhecimento nas áreas econômica e de política externa foi questionado. E aumentam com a perspectiva do debate entre Palin, 44, e o candidato a vice democrata, Joe Biden, 65, amanhã na Universidade Washington em St. Louis.
Kathleen Parker, respeitada colunista conservadora que apoiou a governadora inicialmente, escreveu na revista "National Review" que, após assistir às últimas entrevistas de Palin, está exausta de fazer caretas. "Se bobagem fosse uma moeda, Palin poderia resgatar Wall Street [da crise econômica] sozinha", afirmou. "Só Palin pode salvar McCain, seu partido e o país que ela ama. Ela pode sair [da chapa] por razões pessoais, para cuidar de seu bebê. Ninguém critica uma mãe que prioriza a família."
"Ela já provou totalmente -e irreparavelmente- que não dá conta do cargo de presidente dos EUA", completou David Frum, colunista conservador e ex-redator de discursos para George W. Bush. Uma frase de Palin repetida à exaustão nos EUA diz que, se a chapa republicana vencer, ela estará "a uma batida de coração" de governar o país. O sentido é de "a um passo", mas houve ilação imediata à idade de seu cabeça-de-chapa, John McCain: 72.
Para David Brooks, colunista conservador do "New York Times", a presença de Palin na chapa é "embaraçosa". A opinião é partilhada também por colunistas menos identificados com o conservadorismo. "Sarah Palin está pronta [para a Vice-Presidência]? Por favor. Alguém deveria acabar logo com sua agonia", afirmou em artigo o editor da revista "Newsweek" Fareed Zakaria, de centro.

Momento decisivo
Robert Erikson, especialista em política e opinião pública da Universidade Columbia, afirmou à Folha que o debate de amanhã será decisivo para o futuro de Palin na chapa.
"Por enquanto a chance de ela sair me parece pequena, mas, se a situação piorar, McCain pode não ter saída."
A substituição de um vice no meio da campanha não seria inédita: em 1972, o candidato democrata, George McGovern, forçou a saída do colega de chapa Thomas Eagleton quando veio à tona que ele sofria de depressão. McGovern acabou perdendo a eleição para Richard Nixon (1969-1974).
Também hoje, a decisão é arriscada. "Surgiriam novos problemas para McCain, que desagradariam a direita religiosa", diz o analista. "Os que hoje pedem a substituição de Palin são intelectuais conservadores na área econômica, que nem sempre influenciam a base."
A campanha republicana, assim como McCain, aposta nesse apelo a conservadores sociais e cristãos evangélicos para defender Palin.
Em entrevista à jornalista da CBS Katie Couric, McCain afirmou que a mídia está praticando um jornalismo de "pegadinhas" com Palin, com armadilhas para provocar deslizes: "Eu já vi pessoas sendo subestimadas antes. Estou muito orgulhoso da empolgação que Palin trouxe ao partido pelo país".
Para Erikson, Palin pode ter parecido uma escolha brilhante inicialmente, mas agora mais prejudica do que ajuda os republicanos.
E muitos concordam: Mike Murphy, ex-conselheiro de McCain, disse que a performance de Palin na campanha demonstrou que ela foi a escolha errada. Ele disse ao "New York Times" torcer para que a governadora do Alasca mude essa impressão no debate de amanhã: "Ela tem a oportunidade de desfazer um pouco do dano se tiver uma atuação muito forte. É plausível. Mas vamos ter de esperar para ver".


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.