São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2010

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Revolta policial leva tensão ao Equador

Presidente Rafael Correa se diz vítima de golpe e é hospitalizado após inalar gás; pelo menos uma pessoa morre

Governo decreta estado de exceção após motim; rebelados constroem barricadas e fecham o aeroporto da capital

Rodrigo Buendia/France Presse
Rafael Correa, líder do Equador, é levado para hospital após ser agredido por policiais

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

A rebelião de um grupo da Polícia Nacional do Equador, apoiada por ao menos uma facção militar, levou o governo equatoriano a decretar estado de exceção em todo o país por cinco dias.
Os rebeldes tomaram quartéis, os principais aeroportos internacionais e a Assembleia Nacional. Na capital Quito e em Guayaquil, centro econômico do país, saques e distúrbios foram registrados. Segundo o governo, uma pessoa morreu e 6 ficaram feridas na confusão. A Cruz Vermelha informou que os feridos chegam a 50.
Em dificuldades políticas, o presidente esquerdista Rafael Correa classificou a ação como uma tentativa de golpe de Estado.
Correa disse ainda que estava sendo feito refém no hospital militar para onde foi levado, após ter sido alvejado com bombas de gás lacrimogêneo e uma garrafa pelos rebeldes, em Quito.
O suposto sequestro também foi denunciado pelo chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, e pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que falou com Correa por telefone.
À rádio pública, por telefone, Correa fez um apelo: "Não vou retroceder. Se querem, venham me buscar".
Às 21h (23h de Brasília), militares que tentavam tirar Correa do hospital deram início a enfrentamento com a polícia. Em meio aos confrontos, Correa foi retirado do prédio.
Ele foi direto para o palácio presidencial onde, diante de centenas de aliados, fez um discurso inflamado. O presidente disse que a lei não vai ser revogada e que os policiais serão punidos.
"[Ver] Uma nação de opereta onde a força pública sequestra seu comandante em chefe e ataca ao povo que deveria proteger... Esse é um dia triste", afirmou.

BENEFÍCIOS CORTADOS
A rebelião teve início pela manhã, quando policiais tomaram um regimento na capital. O motivo alegado foi a ratificação, na véspera, de uma lei que acaba com o pagamento de bônus por condecoração a oficiais da polícia e das Forças Armadas.
Os rebelados exigiam ainda a destituição do comando da força de 20 mil homens, que é subordinada ao Ministério de Governo (equivalente à Casa Civil brasileira).
Em horas, os rebeldes haviam ateado fogo em pneus e erguido barricadas em Quito, Guayaquil e outras cidades.
Ainda pela manhã, Correa foi ao encontro de um grupo de manifestantes e tentou estabelecer diálogo, mas sofreu ofensas verbais e foi alvo das bombas de gás que o levariam ao hospital.
Irado, Correa reagiu e desafiou os policiais: "Se vocês querem matar o presidente, aqui está ele! Matem-me!".
Correa atribuiu a rebelião à influência do ex-presidente equatoriano Lucio Gutierrez -que rejeitou a declaração, em Brasília, à agência Efe.
Os protestos foram engrossados por militares dissidentes. Mas o chefe das Forças Armadas, Ernesto González, garantiu lealdade a Correa.
O presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Omar Simon, também garantiu respaldo a Correa e afirmou falar em nome ainda da Corte Nacional de Justiça, da Assembleia Nacional e da Procuradoria-Geral.

EXCEÇÃO
Relatos davam conta de saques a bancos e supermercados. As aulas foram suspensas em Quito.
Em Guayaquil, todo o comércio continuava fechado ontem à noite, apesar de os militares terem começado a ocupar as ruas, incumbidos da segurança pública.
Todos os canais de rádio e TV do país foram postos em cadeia nacional, comandada pela emissora oficial, a EcuadorTV. Foi imposto ainda um toque de recolher.
A atual rebelião remete ao histórico recente de instabilidade política no país. Desde 1997, três presidentes foram destituídos em golpes militares ou pelo Congresso.


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