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Revolta policial leva tensão ao Equador
Presidente Rafael Correa se diz vítima de golpe e é hospitalizado após inalar gás; pelo menos uma pessoa morre
Governo decreta estado de exceção após motim; rebelados constroem barricadas e fecham o aeroporto da capital
Rodrigo Buendia/France Presse
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Rafael Correa, líder do Equador, é levado para hospital após ser agredido por policiais
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
A rebelião de um grupo da
Polícia Nacional do Equador,
apoiada por ao menos uma
facção militar, levou o governo equatoriano a decretar estado de exceção em todo o
país por cinco dias.
Os rebeldes tomaram
quartéis, os principais aeroportos internacionais e a Assembleia Nacional. Na capital Quito e em Guayaquil,
centro econômico do país,
saques e distúrbios foram registrados. Segundo o governo, uma pessoa morreu e 6 ficaram feridas na confusão. A
Cruz Vermelha informou que
os feridos chegam a 50.
Em dificuldades políticas,
o presidente esquerdista Rafael Correa classificou a ação
como uma tentativa de golpe
de Estado.
Correa disse ainda que estava sendo feito refém no
hospital militar para onde foi
levado, após ter sido alvejado com bombas de gás lacrimogêneo e uma garrafa pelos
rebeldes, em Quito.
O suposto sequestro também foi denunciado pelo
chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, e pelo presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, que falou com Correa por telefone.
À rádio pública, por telefone, Correa fez um apelo:
"Não vou retroceder. Se querem, venham me buscar".
Às 21h (23h de Brasília),
militares que tentavam tirar
Correa do hospital deram início a enfrentamento com a
polícia. Em meio aos confrontos, Correa foi retirado
do prédio.
Ele foi direto para o palácio presidencial onde, diante
de centenas de aliados, fez
um discurso inflamado. O
presidente disse que a lei não
vai ser revogada e que os policiais serão punidos.
"[Ver] Uma nação de opereta onde a força pública sequestra seu comandante em
chefe e ataca ao povo que deveria proteger... Esse é um
dia triste", afirmou.
BENEFÍCIOS CORTADOS
A rebelião teve início pela
manhã, quando policiais tomaram um regimento na capital. O motivo alegado foi a
ratificação, na véspera, de
uma lei que acaba com o pagamento de bônus por condecoração a oficiais da polícia e das Forças Armadas.
Os rebelados exigiam ainda a destituição do comando
da força de 20 mil homens,
que é subordinada ao Ministério de Governo (equivalente à Casa Civil brasileira).
Em horas, os rebeldes haviam ateado fogo em pneus e
erguido barricadas em Quito,
Guayaquil e outras cidades.
Ainda pela manhã, Correa
foi ao encontro de um grupo
de manifestantes e tentou estabelecer diálogo, mas sofreu
ofensas verbais e foi alvo das
bombas de gás que o levariam ao hospital.
Irado, Correa reagiu e desafiou os policiais: "Se vocês
querem matar o presidente,
aqui está ele! Matem-me!".
Correa atribuiu a rebelião
à influência do ex-presidente
equatoriano Lucio Gutierrez
-que rejeitou a declaração,
em Brasília, à agência Efe.
Os protestos foram engrossados por militares dissidentes. Mas o chefe das Forças
Armadas, Ernesto González,
garantiu lealdade a Correa.
O presidente do Conselho
Nacional Eleitoral, Omar Simon, também garantiu respaldo a Correa e afirmou falar em nome ainda da Corte
Nacional de Justiça, da Assembleia Nacional e da Procuradoria-Geral.
EXCEÇÃO
Relatos davam conta de
saques a bancos e supermercados. As aulas foram suspensas em Quito.
Em Guayaquil, todo o comércio continuava fechado
ontem à noite, apesar de os
militares terem começado a
ocupar as ruas, incumbidos
da segurança pública.
Todos os canais de rádio e
TV do país foram postos em
cadeia nacional, comandada
pela emissora oficial, a EcuadorTV. Foi imposto ainda um
toque de recolher.
A atual rebelião remete ao
histórico recente de instabilidade política no país. Desde
1997, três presidentes foram
destituídos em golpes militares ou pelo Congresso.
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