São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA / RETA FINAL

Novos eleitores são incógnita da votação nos Estados indefinidos


Seis Estados-chave devem definir o futuro presidente dos EUA amanhã Para analistas, vontade de votar não se deve à mobilização partidária


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Além de mais divididos, alguns dos poucos Estados que decidirão o resultado da eleição dos EUA amanhã foram os que concentraram o maior volume de registros de novos eleitores em 2004.
O fato aumenta substancialmente a imprevisibilidade dos resultados. A maioria das pesquisas cobre apenas marginalmente esse grande grupo de pessoas que pode fazer a diferença amanhã.
A Flórida, por exemplo, epicentro da confusão de 2000, é o segundo Estado onde mais cresceu o número de novos eleitores neste ano. O primeiro da lista, Missouri, é outro Estado dividido.
Outros na mesma situação, como Iowa, Nevada, Novo México e Pensilvânia, também tiveram um aumento do número de novos eleitores em 2004 maior do que a média nacional, segundo dados do Comitê de Estudos do Eleitorado Americano.
Em 2000, a maioria desses mesmos Estados também já teve um nível de comparecimento às urnas acima da média do país. Se a disputa neles foi grande em 2000, tudo indica que ela será ainda maior neste ano.
Entre as duas eleições, o eleitorado americano registrado cresceu em 10 milhões de pessoas, atingindo 143 milhões hoje.
Pesquisas indicam a existência de 12 Estados divididos. Nos últimos dias, algumas análises fecharam o foco em seis Estados apenas: Flórida, Ohio, Minnesota, Wisconsin, Iowa e Novo México.
A Pensilvânia, que vinha sendo considerada muito dividida, estaria pendendo para o candidato democrata John Kerry. Já o presidente George W. Bush teria avançado no Colorado e em Nevada.
Como resultado da votação popular, o vitorioso precisa de 270 votos no Colégio Eleitoral para se tornar presidente.
Segundo cálculos do "Washington Post", Bush tem quase certos 197 votos de 23 Estados. Ele pode vencer em outros quatro, elevando seu total de votos a 227.
Kerry está sólido em 13 Estados, que têm 178 votos no colégio, e lideraria em outros cinco, o que o levaria a 232 dos 270 necessários.
Dos seis Estados mais concorridos, a Flórida, com 27 votos no Colégio Eleitoral, e Ohio, com 20, são os principais. Isso explica a maratona que Bush e Kerry fizeram ontem nesses dois Estados.
Se os novos eleitores agregados (a maioria registrada como "independente") forem em massa às urnas nesses dois Estados e nos outros ainda divididos, o resultado pode surpreender.
Análises indicam que Kerry poderia se beneficiar de um comparecimento maior às urnas. Mas Bush poderia compensar isso levando mais republicanos a votar.
Doug Lewis, diretor do apartidário Centro Eleitoral, acha arriscada qualquer aposta e diz que é "impossível" prever resultados com a suposição de que mais eleitores vão às urnas este ano.
"Em 40 anos acompanhando eleições, nunca estive tão em dúvida. Um dia acordo achando que é Kerry. No outro, Bush", diz.
Ontem, nova pesquisa Reuters/ Zogbi, a primeira depois da aparição de uma fita com o terrorista Osama bin Laden falando sobre a eleição, mostrou novamente um empate entre Kerry e Bush (48%).
A pesquisa, feita com os chamados eleitores prováveis, que quase sempre vão às urnas, não registra, por exemplo, o possível impacto dos novos eleitores -como o voto não é obrigatório nos EUA, para procurar determinar com a maior certeza possível se o entrevistado irá mesmo votar, os pesquisadores fazem uma série de perguntas, incluindo uma sobre se votou na última eleição.
A dificuldade das previsões, mesmo considerando o aumento do número de eleitores, é agravada pela volatilidade das preferências de cada grupo.
Em 2000, por exemplo, os democratas tinham 11 pontos de vantagem entre as mulheres. Neste ano, a diferença caiu para três pontos. Entre outros grupos, como pessoas que cursaram a universidade e jovens com menos de 30 anos, foram os republicanos que perderam terreno.
Thomas E. Mann, diretor do instituto Brookings, de Washington, acha que, se acontecer, um comparecimento maior de novos eleitores ocorrerá "mais por causa de eventos passados do que pela mobilização de partidos".
Mann afirma que a expectativa de votação recorde na terça pode se concretizar tanto porque os eleitores estão cansados de Bush quanto pelo fato de temerem que uma vitória de Kerry deixe os EUA mais vulneráveis depois do 11 de Setembro.


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