São Paulo, quinta-feira, 01 de novembro de 2007

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Jornais de dentro e de fora da Espanha têm visões divergentes sobre sentenças

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Dependendo do ângulo político, foram dois, e não apenas um, os julgamentos dos indiciados pelo atentado de 2004 nos trens de Madri. Um dos ângulos é representado pelo "El País", de centro-esquerda e que apóia o primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero.
"Nenhuma prova aponta o ETA", dizia a manchete de sua edição eletrônica, em referência ao grupo separatista basco que, antes do atentado islâmico de 2004, exercia o monopólio do terrorismo espanhol.
O ataque aos trens ocorreu às vésperas das eleições legislativas em que o PP (Partido Popular), conservador, era favorito. Os terroristas muçulmanos se vingavam da participação espanhola na invasão do Iraque. O então premiê, José Maria Aznar, tentou envolver o ETA, mas conseguiu apenas por algumas horas. A polícia identificou os simpatizantes da Al Qaeda, e os socialistas de Zapatero ganharam a eleição.
O outro ângulo do julgamento foi dado pelo "El Mundo", jornal próximo do PP. Sua manchete era de que o atentado de Madri ficou sem um mentor intelectual, uma crítica à decisão de inocentar o suposto cérebro da operação.
Mariano Rajoy, atual líder do PP, disse que apoiaria uma reabertura do processo, diante da não-condenação dos idealizadores da carnificina.
Fora da Espanha também surgiram leituras diferentes. Em Paris, o "Le Monde", simpático aos socialistas espanhóis, dá a entender que o Judiciário cumpriu seu papel: "Três principais acusados são condenados à pena máxima".
Em Londres, o conservador "Times" exprime a lógica da oposição. Dá título para a absolvição do "cérebro", sem levar em conta que a única prova contra ele era frágil.
Nos EUA, o "New York Times" destacou em título que sete réus foram absolvidos. Com o terrorismo incorporado à cultura jornalística, isso é mais importante que a existência de 29 réus e os milhares de anos a que três deles foram condenados. A CNN, na internet, vai na mesma direção. Em texto editorializado, assusta-se porque só três foram condenados por homicídio em massa e cita um especialista espanhol para quem havia evidências para condenar muito mais.
A mídia americana tem dificuldades para explicar que a Espanha, como os demais 26 países da União Européia, não tem pena de morte.


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