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Jornais de dentro e de fora da Espanha têm visões divergentes sobre sentenças
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Dependendo do ângulo político, foram dois, e não apenas
um, os julgamentos dos indiciados pelo atentado de 2004 nos
trens de Madri. Um dos ângulos é representado pelo "El
País", de centro-esquerda e que
apóia o primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero.
"Nenhuma prova aponta o
ETA", dizia a manchete de sua
edição eletrônica, em referência ao grupo separatista basco
que, antes do atentado islâmico
de 2004, exercia o monopólio
do terrorismo espanhol.
O ataque aos trens ocorreu às
vésperas das eleições legislativas em que o PP (Partido Popular), conservador, era favorito.
Os terroristas muçulmanos se
vingavam da participação espanhola na invasão do Iraque. O
então premiê, José Maria Aznar, tentou envolver o ETA,
mas conseguiu apenas por algumas horas. A polícia identificou os simpatizantes da Al Qaeda, e os socialistas de Zapatero
ganharam a eleição.
O outro ângulo do julgamento foi dado pelo "El Mundo",
jornal próximo do PP. Sua
manchete era de que o atentado de Madri ficou sem um mentor intelectual, uma crítica à
decisão de inocentar o suposto
cérebro da operação.
Mariano Rajoy, atual líder do
PP, disse que apoiaria uma reabertura do processo, diante da
não-condenação dos idealizadores da carnificina.
Fora da Espanha também
surgiram leituras diferentes.
Em Paris, o "Le Monde", simpático aos socialistas espanhóis, dá a entender que o Judiciário cumpriu seu papel:
"Três principais acusados são
condenados à pena máxima".
Em Londres, o conservador
"Times" exprime a lógica da
oposição. Dá título para a absolvição do "cérebro", sem levar em conta que a única prova
contra ele era frágil.
Nos EUA, o "New York Times" destacou em título que
sete réus foram absolvidos.
Com o terrorismo incorporado
à cultura jornalística, isso é
mais importante que a existência de 29 réus e os milhares de
anos a que três deles foram
condenados. A CNN, na internet, vai na mesma direção. Em
texto editorializado, assusta-se
porque só três foram condenados por homicídio em massa e
cita um especialista espanhol
para quem havia evidências para condenar muito mais.
A mídia americana tem dificuldades para explicar que a
Espanha, como os demais 26
países da União Européia, não
tem pena de morte.
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