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Camponeses são presos após invadir terra de brasiguaio
Sem-terra ameaçavam incendiar fazenda de maior produtor de soja do Paraguai
Tranquilo Fávero concentra revolta do campo contra agricultores brasileiros, tidos como maior empecilho ao plano de reforma agrária
DA REDAÇÃO
A polícia paraguaia prendeu
ontem cinco militantes sem
terra que haviam invadido a fazenda do brasileiro Tranquilo
Fávero, o maior produtor individual de soja do Paraguai, localizada no departamento de San
Pedro, norte do país.
O incidente acirra as tensões
entre os camponeses paraguaios e os produtores brasileiros no país, os brasiguaios, cuja
presença maciça é vista como
uma ameaça à soberania nacional e um obstáculo à reforma
agrária prometida pelo presidente Fernando Lugo.
Eleito com apoio dos sem-terra, o presidente sofre, desde
que assumiu, em agosto, pressões para repartir as terras cultiváveis do país.
Insatisfeitos com o que consideram promessas não cumpridas de Lugo, os sem-terra
paraguaios -estimados em
400 mil- vêm recorrendo a invasões às vezes violentas de
propriedades de brasiguaios,
irritando o Itamaraty, que exigiu de Assunção reforço à proteção aos proprietários e trabalhadores brasileiros.
Autoridades paraguaias reforçaram o policiamento em
várias regiões agrícolas do país
para garantir o início do plantio
de soja, mas a atmosfera no
campo ainda é de conflito.
No episódio mais recente da
crise, a Promotoria de Capiibary (departamento de San Pedro), 340 km ao norte de Assunção, decretou a prisão de
300 camponeses que acampavam havia dias num terreno adjacente à propriedade de Fávero. Eles derrubaram a cerca da
fazenda e entraram no local por
alguns instantes, ameaçando
incendiar o silo de soja.
Com a chegada da polícia,
que usou armas de efeito moral, os militantes se dispersaram, e somente cinco foram detidos. Segundo a Promotoria,
eles responderão por incitação
à realização de atos puníveis,
perturbação da paz pública e
associação para o crime.
Entre os presos está Florencio Martínez, líder da esquerdista Luta pela Terra e um dos
principais expoentes dos sem-terra. Na véspera de sua prisão,
ele havia prometido "expulsar
os colonos brasileiros ".
Os brasiguaios são responsáveis por pelo menos 60% da
produção paraguaia de soja -o
país é o quarto maior produtor
e exportador mundial da commodity- e se defendem com o
argumento de que geram empregos e riqueza ao país.
Assunção afirma que existem
pelo menos 300 mil brasiguaios. Mas, para o Itamaraty,
hoje não passam de 150 mil.
Boa parte da revolta camponesa é dirigida contra Fávero,
70, que possui 45 mil hectares
de terra no Paraguai.
Neto de italianos e nascido
no interior de Santa Catarina,
já plantava soja no Paraná antes de comprar as primeiras
terras no Paraguai durante a ditadura de Alfredo Stroessner
(1912-2006), na década de 60.
Desde então naturalizou-se paraguaio e tornou-se um dos
maiores empresários do país.
Apesar de ter constituído família no país e de elogiar com
freqüência a terra paraguaia,
Fávero muitas vezes projeta
uma imagem do estrangeiro
que enriqueceu sem dar atenção para a cultura e os valores
locais. Uma imagem antipática
para muitos paraguaios. O empresário fala espanhol fluentemente, mas nem uma palavra
de guarani, a segunda língua
oficial do país. Casado há 50
anos com a brasileira Verônica
Comelli, Fávero tem três filhas
e seis netos paraguaios.
Com agências internacionais
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