São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Camponeses são presos após invadir terra de brasiguaio

Sem-terra ameaçavam incendiar fazenda de maior produtor de soja do Paraguai

Tranquilo Fávero concentra revolta do campo contra agricultores brasileiros, tidos como maior empecilho ao plano de reforma agrária

DA REDAÇÃO

A polícia paraguaia prendeu ontem cinco militantes sem terra que haviam invadido a fazenda do brasileiro Tranquilo Fávero, o maior produtor individual de soja do Paraguai, localizada no departamento de San Pedro, norte do país.
O incidente acirra as tensões entre os camponeses paraguaios e os produtores brasileiros no país, os brasiguaios, cuja presença maciça é vista como uma ameaça à soberania nacional e um obstáculo à reforma agrária prometida pelo presidente Fernando Lugo.
Eleito com apoio dos sem-terra, o presidente sofre, desde que assumiu, em agosto, pressões para repartir as terras cultiváveis do país.
Insatisfeitos com o que consideram promessas não cumpridas de Lugo, os sem-terra paraguaios -estimados em 400 mil- vêm recorrendo a invasões às vezes violentas de propriedades de brasiguaios, irritando o Itamaraty, que exigiu de Assunção reforço à proteção aos proprietários e trabalhadores brasileiros.
Autoridades paraguaias reforçaram o policiamento em várias regiões agrícolas do país para garantir o início do plantio de soja, mas a atmosfera no campo ainda é de conflito.
No episódio mais recente da crise, a Promotoria de Capiibary (departamento de San Pedro), 340 km ao norte de Assunção, decretou a prisão de 300 camponeses que acampavam havia dias num terreno adjacente à propriedade de Fávero. Eles derrubaram a cerca da fazenda e entraram no local por alguns instantes, ameaçando incendiar o silo de soja.
Com a chegada da polícia, que usou armas de efeito moral, os militantes se dispersaram, e somente cinco foram detidos. Segundo a Promotoria, eles responderão por incitação à realização de atos puníveis, perturbação da paz pública e associação para o crime.
Entre os presos está Florencio Martínez, líder da esquerdista Luta pela Terra e um dos principais expoentes dos sem-terra. Na véspera de sua prisão, ele havia prometido "expulsar os colonos brasileiros ".
Os brasiguaios são responsáveis por pelo menos 60% da produção paraguaia de soja -o país é o quarto maior produtor e exportador mundial da commodity- e se defendem com o argumento de que geram empregos e riqueza ao país.
Assunção afirma que existem pelo menos 300 mil brasiguaios. Mas, para o Itamaraty, hoje não passam de 150 mil.
Boa parte da revolta camponesa é dirigida contra Fávero, 70, que possui 45 mil hectares de terra no Paraguai.
Neto de italianos e nascido no interior de Santa Catarina, já plantava soja no Paraná antes de comprar as primeiras terras no Paraguai durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1912-2006), na década de 60. Desde então naturalizou-se paraguaio e tornou-se um dos maiores empresários do país.
Apesar de ter constituído família no país e de elogiar com freqüência a terra paraguaia, Fávero muitas vezes projeta uma imagem do estrangeiro que enriqueceu sem dar atenção para a cultura e os valores locais. Uma imagem antipática para muitos paraguaios. O empresário fala espanhol fluentemente, mas nem uma palavra de guarani, a segunda língua oficial do país. Casado há 50 anos com a brasileira Verônica Comelli, Fávero tem três filhas e seis netos paraguaios.

Com agências internacionais



Texto Anterior: Ásia: Sobe para 77 o número de mortos em atentados na Índia
Próximo Texto: Governo equatoriano fecha acordo com Petrobrás e expulsa a Repsol
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.