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Em Nova York, "Fome Zero" já funciona
DE NOVA YORK
Ela não tinha ouvido falar de
Luiz Inácio Lula da Silva nem de
sua proposta até o petista ter sido
eleito, mas a norte-americana Julia Erickson pode ser considerada
a mãe do "Fome Zero" em Nova
York. Presidente da ONG City
Harvest, ela passa os dias distribuindo alimentos de graça.
"Sim, na cidade mais rica do
país mais rico do mundo, existem
pessoas passando fome", disse
ela, em entrevista à Folha. E muitas, segundo cálculos de sua organização, que são levados em conta
até mesmo nos documentos oficiais da prefeitura da cidade.
Há hoje, em Nova York, 1,5 milhão de habitantes que dependem
de doações para se alimentar, sendo que 500 mil deles são crianças e
300 mil são idosos. O principal
motivo, segundo Erickson, é
"desperdício": "Só de alimentos
que seriam jogados fora recolhemos 21 toneladas por dia".
(SD)
Folha - Há mais pessoas atrás de
alimentos hoje do que antes?
Julia Erickson - Muito mais. Um
estudo que acaba de ser divulgado
pelo Departamento da Agricultura mostra que 33 milhões passam
fome hoje em dia nos EUA, contra
os 31 milhões de dois anos atrás.
São americanos que não sabem
quando vão comer.
Temos uma "hunger hot-line",
uma linha telefônica gratuita,
aqui no City Harvest, em que as
pessoas descobrem se podem arrumar comida perto de onde estão. Afinal, o número de chamadas tem crescido nos últimos tempos. Em outubro, nós ajudamos
10 mil pessoas, contra 7.400 em
outubro de 2001.
Folha - Qual o motivo?
Erickson - Há dois. As pessoas
não têm dinheiro suficiente para
viver em Nova York, para pagar o
aluguel e comprar comida, ou pagar o aquecimento e comprar comida. Nos anos 90, a maioria dos
empregos criados foi no setor de
serviços, com salários baixos.
E o aluguel aumentou muito. O
preço mínimo para um apartamento hoje em dia é US$ 800, ou
seja, mais do que o salário mínimo da região de Nova York [US$
775]. Ganhando o mínimo, uma
pessoa faz US$ 9.300 por ano, e o
aluguel custa US$ 9.600. E houve
os ataques de 11 de setembro, que
levaram 100 mil empregos.
Folha - Desperdiça-se muita comida em Nova York?
Erickson - Tenho a impressão de
que é a cidade do mundo onde
mais se joga comida fora. As estimativas oficiais dão conta de algo
entre 13 mil e 23 mil toneladas de
comida jogada fora por ano. As
porções dos restaurantes são
grandes, as pessoas sempre compram mais do que comem, os lixos estão sempre cheios de comidas que não foram nem abertas.
Uma parte disso não é aproveitável, mas boa parte é, e gostaríamos de poder recolher essa boa
parte. Recolhemos, no ano passado, 9.000 toneladas.
Folha - Um dos primeiros programas anunciados por Lula após a
eleição foi o de "Fome Zero". O que
a sra. acha disso?
Erickson - Não conheço o plano
em detalhes, mas já estou achando uma ótima idéia.
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