São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Chávez ameaça cortar petróleo a EUA

Presidente prevê um "nocaute" amanhã e anuncia represálias aos que não reconhecerem sua vitória

Ele adverte para complô da CIA e ordena que Exército ocupe campos petrolíferos; EUA haviam manifestado "preocupação" com votação

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

Diante de uma imensa multidão vestida de vermelho, o presidente Hugo Chávez encerrou a campanha eleitoral ontem à noite com um violento discurso recheado de ameaças condicionadas aos EUA, a canais de TV, a jornalistas estrangeiros, à Espanha e à oposição. O presidente venezuelano previu uma vitória fácil no referendo amanhã e se disse disposto a governar até 2050, "se o povo quiser".
"Saiba o governo dos EUA que, se a Operação Tenaza (alicate, em espanhol) se ativar no domingo, nesta segunda, ou quando for, não haverá uma só gota de petróleo para os Estados Unidos da América do Norte", discursou Chávez. "E se quiserem vir tirar nosso petróleo, teriam de passar por cem anos de guerra na Venezuela."
"Juro por Deus e por minha mãe que, se tenho de usar um fuzil de novo, o usarei, nada me importa", afirmou.
Em seguida, o presidente venezuelano ordenou que os militares ocupassem os campos de petróleo e refinarias do país como medida preventiva contra o suposto plano da CIA (inteligência americana). "A partir desta noite, serão tomados pelo Exército, junto com os trabalhadores da (estatal) PDVSA."
Nos últimos dias, a imprensa chavista tem acusado a CIA de ter preparado o Plano Tenaza, para criar atos de violência na Venezuela depois de anunciada a vitória do "sim" no referendo de amanhã, sobre a reforma constitucional proposta pelo presidente venezuelano.
Chávez ameaçou expulsar os correspondentes da rede internacional CNN e tirar do ar a emissora oposicionista Globovisión caso elas divulguem resultados antes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Chávez, que já havia anunciado o "congelamento" das relações com a Espanha, aumentou ainda mais o tom ontem ao dizer que, se o rei Juan Carlos não pedir desculpas por tê-lo mandado calar no mês passado, nacionalizará as operações dos bancos BBVA e Santander, ambos entre os principais em operação no país.

Estado socialista
A proposta de reforma constitucional modifica 69 dos 350 artigos da Constituição atual, aprovada em 1999, já sob o governo Chávez. As novidades incluem reeleição indefinida apenas para presidente, mais poderes para o Executivo, e impõem a implementação de um Estado socialista.
Sobre a eventual aprovação da reeleição indefinida, Chávez disse que queria governar até 2020, mas depois disse que, "se o povo quiser", será presidente até 2050, quando completaria 96 anos. O presidente disse que é mais fácil "matar cem burros a beliscões" e que "saia pêlo em rãs" do que perder o referendo amanhã, mas que respeitará o resultado caso saia derrotado.
Chávez disse ainda que o verdadeiro adversário não é a oposição. "Os que votam pelo "não", estão votando em George W. Bush." Ontem, a porta-voz da Casa Branca havia expressado "preocupação" de que a votação amanhã "não seja justa e livre como as pessoas merecem".
O presidente venezuelano voltou a dar um caráter plebiscitário ao referendo sobre a reforma constitucional, que introduz, entre outras mudanças, a reeleição presidencial indefinida: "Os que votem pelo "sim" estão votando por Chávez, os que votam pelo não, estão votando contra Chávez."
Com mais gente e menos cores do que a concentração oposicionista, a gigantesca maré vermelha tomou ontem o centro de Caracas. O evento foi realizado à na avenida Bolívar, o mesmo local escolhido pela oposição para encerrar a sua campanha, na véspera. A pista foi ocupada ao longo de centenas de metros por dezenas de milhares de pessoas uniformizadas com camisas vermelhas distribuídas por caminhões.
Várias pesquisas de opinião mostram que Chávez chega à reta final pela primeira vez com chances reais de perder, depois de nove vitórias eleitorais (incluindo eleições legislativas e para a Constituinte de 1999) e quase nove anos de governo. Os últimos levantamentos revelam um empate técnico ou uma ligeira vantagem do "não".
"No domingo, daremos um novo nocaute nos esquálidos (apelido pejorativo dos oposicionistas). Um novo nocaute na oligarquia venezuelana, nos que pretendem deter esta marcha do povo", disse ele.


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