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Chávez ameaça cortar petróleo a EUA
Presidente prevê um "nocaute" amanhã e anuncia represálias aos que não reconhecerem sua vitória
Ele adverte para complô da CIA e ordena que Exército ocupe campos petrolíferos; EUA haviam manifestado "preocupação" com votação
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Diante de uma imensa multidão vestida de vermelho, o presidente Hugo Chávez encerrou
a campanha eleitoral ontem à
noite com um violento discurso
recheado de ameaças condicionadas aos EUA, a canais de TV,
a jornalistas estrangeiros, à Espanha e à oposição. O presidente venezuelano previu uma vitória fácil no referendo amanhã
e se disse disposto a governar
até 2050, "se o povo quiser".
"Saiba o governo dos EUA
que, se a Operação Tenaza (alicate, em espanhol) se ativar no
domingo, nesta segunda, ou
quando for, não haverá uma só
gota de petróleo para os Estados Unidos da América do Norte", discursou Chávez. "E se
quiserem vir tirar nosso petróleo, teriam de passar por cem
anos de guerra na Venezuela."
"Juro por Deus e por minha
mãe que, se tenho de usar um
fuzil de novo, o usarei, nada me
importa", afirmou.
Em seguida, o presidente venezuelano ordenou que os militares ocupassem os campos de
petróleo e refinarias do país como medida preventiva contra o
suposto plano da CIA (inteligência americana). "A partir
desta noite, serão tomados pelo
Exército, junto com os trabalhadores da (estatal) PDVSA."
Nos últimos dias, a imprensa
chavista tem acusado a CIA de
ter preparado o Plano Tenaza,
para criar atos de violência na
Venezuela depois de anunciada
a vitória do "sim" no referendo
de amanhã, sobre a reforma
constitucional proposta pelo
presidente venezuelano.
Chávez ameaçou expulsar os
correspondentes da rede internacional CNN e tirar do ar a
emissora oposicionista Globovisión caso elas divulguem resultados antes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Chávez, que já havia anunciado o "congelamento" das relações com a Espanha, aumentou ainda mais o tom ontem ao
dizer que, se o rei Juan Carlos
não pedir desculpas por tê-lo
mandado calar no mês passado,
nacionalizará as operações dos
bancos BBVA e Santander, ambos entre os principais em operação no país.
Estado socialista
A proposta de reforma constitucional modifica 69 dos 350
artigos da Constituição atual,
aprovada em 1999, já sob o governo Chávez. As novidades incluem reeleição indefinida apenas para presidente, mais poderes para o Executivo, e impõem a implementação de um
Estado socialista.
Sobre a eventual aprovação
da reeleição indefinida, Chávez
disse que queria governar até
2020, mas depois disse que, "se
o povo quiser", será presidente
até 2050, quando completaria
96 anos. O presidente disse que
é mais fácil "matar cem burros
a beliscões" e que "saia pêlo em
rãs" do que perder o referendo
amanhã, mas que respeitará o
resultado caso saia derrotado.
Chávez disse ainda que o verdadeiro adversário não é a oposição. "Os que votam pelo "não",
estão votando em George W.
Bush." Ontem, a porta-voz da
Casa Branca havia expressado
"preocupação" de que a votação amanhã "não seja justa e livre como as pessoas merecem".
O presidente venezuelano
voltou a dar um caráter plebiscitário ao referendo sobre a reforma constitucional, que introduz, entre outras mudanças,
a reeleição presidencial indefinida: "Os que votem pelo "sim"
estão votando por Chávez, os
que votam pelo não, estão votando contra Chávez."
Com mais gente e menos cores do que a concentração oposicionista, a gigantesca maré
vermelha tomou ontem o centro de Caracas. O evento foi
realizado à na avenida Bolívar,
o mesmo local escolhido pela
oposição para encerrar a sua
campanha, na véspera. A pista
foi ocupada ao longo de centenas de metros por dezenas de
milhares de pessoas uniformizadas com camisas vermelhas
distribuídas por caminhões.
Várias pesquisas de opinião
mostram que Chávez chega à
reta final pela primeira vez com
chances reais de perder, depois
de nove vitórias eleitorais (incluindo eleições legislativas e
para a Constituinte de 1999) e
quase nove anos de governo. Os
últimos levantamentos revelam um empate técnico ou uma
ligeira vantagem do "não".
"No domingo, daremos um
novo nocaute nos esquálidos
(apelido pejorativo dos oposicionistas). Um novo nocaute na
oligarquia venezuelana, nos
que pretendem deter esta marcha do povo", disse ele.
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