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Impacto ambiental de estrada preocupa
Rodovia que cruza a Amazônia peruana deve atrair agricultores e pecuaristas
Governo do Peru responde a receio de desmatamento afirmando que obra também ataca problemas, como a extração de madeira
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO PERU
O trecho da Interoceânica
Sul que cruza a Amazônia peruana tem causado calafrios em
ambientalistas. Para eles, trata-se de abrir caminho -literalmente- para a agropecuária.
A principal preocupação é
com a especulação imobiliária,
que elevou os preços da terra na
região.
Segundo o presidente regional (governador) de Madre de
Dios, Santos Kaway Komori,
desde o começo da construção
o valor do terreno no povoado
disparou de US$ 2.000 para
US$ 20 mil.
Os ambientalistas atribuem a
inflação de 900% a sojicultores
e pecuaristas interessados em
terras próximas a uma estrada
que permitirá o escoamento da
produção.
"O Estado deve ter consciência de que a estrada por si só
não é garantia de desenvolvimento", dizem Patrícia Patrón
e Doris Balvín, da ONG Labor,
autoras de um estudo sobre o
impacto da obra.
O temor é que se repita no
Peru o que vem acontecendo
com a BR-163, a Cuiabá-Santarém, que está em construção.
Estudo recente realizado pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia) mostrou que 25%
do desmatamento no Pará entre agosto de 2006 e julho de
2007 aconteceram em áreas
protegidas. E o maior estrago
foi feito justamente na zona de
influência da rodovia.
"Fábrica de oxigênio"
"Temos que parar de ver a
Amazônia apenas como a fábrica de oxigênio do planeta", responde Dow Seiner, executivo
do Inrena (Ibama peruano).
Ele diz que a estrada facilitará o
combate a problemas que "já
existem", como a extração ilegal de madeira.
Andrés Mego, da ONG Labor,
até concorda. Mas se o governo
conhecesse o que acontece
dentro selva. E, segundo ele,
não conhece.
Mego afirma que o estudo de
impacto ambiental realizado só
trata dos impactos diretos, a
uma distância de até 7,5 km ao
lado da rodovia, quando o ideal
seria de, no mínimo, 50 quilômetros.
Contaminação
O engenheiro florestal Marc
Jean Dourojeanni prevê desmatamento, invasão de áreas
protegidas e a contaminação
dos rios, inclusive o Madre de
Dios, tributário do Amazonas.
Ex-consultor do BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento), ele pondera que a principal objeção à estrada não se
refere diretamente a ela, mas à
falta de planejamento para
amenizar impactos ambientais
e sociais.
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