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Filho de Politkovskaia crê que Kremlin quer resolver o caso
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Aos 29 anos, o relações-públicas Ilia Politkovski se viu
lançado do anonimato a uma
desconfortável notoriedade:
ele é o filho de Anna Politkovskaia, a jornalista investigativa
que foi assassinada ao chegar
em casa em outubro do ano
passado, levantando suspeitas
sobre o eventual envolvimento
de membros do Exército ou do
governo no caso.
Trabalhando parte do tempo
em casa, parte numa empresa
de marketing em Moscou, Politkovskoi é bem menos assertivo sobre as suspeitas acerca de
quem matou sua mãe do que
seria correto supor.
"Não tenho a menor idéia de
quem fez isso, quem mandou",
disse à Folha. Contudo, ele
acredita que o esclarecimento
do assassinato tornou-se um
ponto de honra do governo Putin, que estaria ansioso com a
repercussão internacional do
incidente.
Indagado por um repórter na
Alemanha sobre a importância
do assassinato, Putin apenas
disse que Politkovskaia não tinha representatividade política. Isso gerou uma onda de críticas. "Para mim é bem pouco
usual o fato de que não estou
recebendo pressão nenhuma.
Isso pode mudar amanhã ou
depois, mas é significativo",
disse Politkovskoi por telefone.
Ele afirma que o processo,
até aqui, está sendo conduzido
de uma forma correta, apesar
de uma afirmação desastrada
do procurador-geral da Rússia,
Iuri Tchaika, que, ao anunciar a
prisão de dez suspeitos pelo
crime neste ano, sugeriu que os
mandantes eram conhecidos:
oligarcas como Boris Berezovksi, que mora em Londres.
"Não tenho indicações de
que haja problemas, não até
aqui", afirmou.
Nada melhorou
A jornalista Anna Politkovskaia trabalhava no jornal "Novaya Gazeta" e tinha por especialidade contar histórias humanas de pessoas oprimidas
pelo sistema legal russo, além
de ter feito uma cobertura crítica da guerra na Tchetchênia.
"Mamãe sabia de muitas coisas. E, de sua morte para cá, nada melhorou no país", afirma o
filho, que também tem uma irmã, Vera.
Além das reportagens e textos, alguns explicitamente panfletários, Politkovskaia irritou
as autoridades ao agir como
mediadora no ataque de rebeldes tchetchenos a um teatro
em 2003, que acabou com a
morte de 129 reféns, e foi envenenada quando se dirigia para
tentar assumir o mesmo papel
na tomada da escola de Beslan
(Ossétia do Norte), em 2004.
E Putin?
Ilia Politkovskoi repete o argumento que sua mãe escrevera no livro "A Rússia de Putin",
uma coletânea de histórias sobre pessoas em dificuldade e
sem amparo do Estado: "Ele
não tem estatura, a Rússia é
muito grande para ele. Ele era
um apanhador de espiões, não
tem visão", afirma.
No livro, de 2004, a jornalista
escrevia em sua introdução:
"Por que é difícil sustentar o
ponto de vista róseo quando
você encara a realidade da Rússia? Porque Putin, um produto
do mais tenebroso serviço de
inteligência, falhou em transcender suas origens e parar de
se comportar como um tenente-coronel da KGB soviética.
Ele ainda está ocupado perseguindo seus compatriotas
amantes da liberdade."
Paradoxalmente, será nos
comunistas tão criticados por
sua mãe que Ilia irá votar no
domingo. "Eu odeio o Partido
Comunista, mas é o único modo de expressar meu protesto
contra o Rússia Unida [partido
de Putin]. Então, mesmo não
gostando deles, do [líder comunista] Gennadi Ziuganov, eu
vou votar", disse Politkovski.
(IGOR GIELOW)
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