São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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Para especialista, país do islã moderno tem de criar mais empregos

DO ENVIADO À INDONÉSIA

Uma maneira de ajudar a enfraquecer o radicalismo islâmico no mundo árabe é disseminar as interpretações modernas das escrituras feitas pelos muçulmanos indonésios. O principal obstáculo é a língua. "Mas alguns estudiosos britânicos e alemães começam a traduzir os textos e distribuí-los em inglês no Oriente Médio", conta Hadi Soesastro, diretor do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais local. Criado nos anos 70, o CSIS da Indonésia não está ligado ao seu homônimo de Washington, mas é considerado um dos principais irradiadores de pensamento do arquipélago. Ex-professor da Universidade Columbia, em Nova York, e consultor de diversos organismos multilaterais, o economista Soesastro é sua estrela. O acadêmico recebeu a Folha na sede do centro, na capital do país, cidade de 18 milhões de habitantes. (SD)

 

FOLHA - O governo tenta vender o "jeito indonésio" de encarar o islamismo como a via do futuro. O sr. concorda?
HADI SOESASTRO -
Há muita verdade nisso. Quando você fala do modelo, a grande questão é: o islã é compatível com a democracia? É o que tentamos provar aqui. Queremos provar que sim, é possível. Na verdade, é a maneira com que lidamos com o problema dos grupos radicais. Eles podem se organizar e participar do processo político democrático, então têm de aceitar ser derrotados nas eleições, por exemplo. De fato, as duas eleições mais recentes mostraram que partidos políticos com plataformas religiosas não são muito efetivos. O número de votos deles vem caindo.

FOLHA - Por quê?
SOESASTRO -
Parcialmente porque os partidos têm disputas internas sérias. Mas o principal é o golpe para eles que é esse jeito moderno do indonésio de pensar o islã. O problema é que a maior parte das interpretações do islã é escrita na língua local, então sua disseminação fica restrita. Mas alguns estudiosos malaios, britânicos e alemães começam a traduzir os textos e distribuí-los em inglês no Oriente Médio.

FOLHA - Do ponto de vista econômico, o quanto a questão do terror atrapalha o país?
SOESASTRO -
Não muito. Por um tempo, é claro que sim. Sempre que há um ataque há reflexos na economia. Mas, de modo geral, mesmo com dois ataques em Bali, só houve impactos localizados na economia. A Bolsa de Valores não foi afetada, pelo menos não na segunda vez. O turismo foi afetado, é claro, mas começa a se reerguer.
Nosso principal problema é a criação de empregos. Estamos crescendo a 6%. Não é suficiente, pois não equivale ao mesmo número de empregos criados há 20 anos. Então, para cada ponto percentual, criávamos 400 mil vagas. Assim, 6% significavam 2,4 milhões de empregos, e esse era o número de pessoas que entravam no mercado de trabalho a cada ano. Assim, 6% era o mínimo.
Hoje, porém, o mesmo ponto percentual resulta em 100 mil empregos. Então, há um ciclo econômico vicioso. Alguns culpam a competição com a mão-de-obra mais barata na China, no Vietnã, na Índia. Mas há também o problema das leis trabalhistas, que são extremamente protecionistas.


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