São Paulo, terça-feira, 01 de dezembro de 2009

Próximo Texto | Índice

"Zelaya é história", diz presidente eleito

Porfirio Lobo cita respaldo dos EUA e afirma que pouco a pouco mais países reconhecerão sua eleição em Honduras

Candidato mais votado evita se posicionar sobre restituição do líder deposto e cobra do governo interino resolução de problemas

Yuri Cortez/France Presse
Porfirio Lobo, vencedor da eleição presidencial de Honduras, entra no carro após conceder entrevista para TV em Tegucigalpa

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A TEGUCIGALPA

Um dia após vencer a controvertida eleição presidencial em Honduras, o conservador Porfirio Lobo, 61, disse que o mandatário deposto, Manuel Zelaya, "já é história". "Estou aqui alegre, olhando em direção ao futuro, e vocês aqui, [perguntando sobre] Zelaya. Ele já é parte da história, do passado", disse Lobo ontem a jornalistas.
Amanhã, o Congresso se reúne para decidir se Zelaya será ou não restituído, conforme prevê o acordo assinado entre o presidente deposto e o governo interino, de Roberto Micheletti. Com a segunda maior bancada, o Partido Nacional (PN, direita), de Lobo, tem sido apontado como o fiel da balança.
Ontem, Lobo novamente se recusou a dizer qual será a sua posição ou de seu partido amanhã. Ao longo da campanha, o nacionalista disse que o assunto era do Congresso, buscando retratar a crise como problema do Partido Liberal, ao qual pertencem Zelaya e Micheletti.
Questionado sobre o não reconhecimento por vários países do resultado da eleição, Lobo disse que, "para nós, a relação mais importante no meio internacional, logicamente, é com os EUA". E previu que "muitos outros países, pouco a pouco, irão reconhecendo".
Já sobre a posição do Brasil especificamente, o nacionalista reiterou que buscará o reconhecimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, insistiu, de "todos os países do mundo".
Sobre Micheletti, Lobo disse que "tem de terminar com todos os problemas existentes hoje. Se não terminar, se faltar algo, veremos o que fazer".
Os EUA são o principal parceiro comercial de Honduras, comprando dois terços das exportações do país, que depende ainda de remessas dos cerca de 1 milhão de hondurenhos que trabalham em solo americano. Além disso, Washington tem longa tradição de intervenção na política centro-americana.
Ontem, o embaixador americano em Tegucigalpa elogiou o eleito. "Lobo é um homem de grande experiência política, um bom executivo. Os EUA trabalharão com ele para o bem de ambos os países (...), e nossas relações serão muito fortes."
Produtor rural, Lobo é do departamento rural de Olancho, assim como Zelaya. De família rica, estudou administração nos EUA e concorreu pela segunda vez à Presidência. Na primeira, em 2005, perdeu para o presidente deposto por pouco mais de 70 mil votos.
O nacionalista tem prometido melhorar os índices de segurança, criar uma versão local do Bolsa Família e distribuir 1 milhão de computadores para estudantes pobres nos quatro anos de seu mandato. Ele deve assumir em 27 de janeiro.

Comemoração
A festa da vitória de Lobo foi realizada no salão do hotel Honduras Maya, um dos mais luxuosos de Tegucigalpa.
Apesar do espaço relativamente pequeno, as centenas de militantes, a maioria de classe média e vestida de azul e branco, não chegaram a lotar o local.
Lobo só apareceu pouco antes da meia-noite de anteontem, após a primeiro parcial do TSE (Tribunal Supremo Eleitoral), que lhe dava 55,9% dos votos válidos, contra 38,6% do segundo colocado, o liberal Elvin Santos (centro-direita).
O candidato nacionalista também esperou o reconhecimento da derrota por Santos, que prometeu fazer uma "oposição responsável".
Em discurso conciliador, Lobo falou várias vezes em "unificar a família hondurenha" e evitou menções diretas à crise.
Indagado por uma emissora colombiana de TV sobre eventual influência do venezuelano Hugo Chávez -aliado de Zelaya-, foi enfático: "Que nem ele nem ninguém se atreva a meter o nariz em Honduras".
Além de presidente, as eleições de anteontem elegeram um novo Congresso, prefeitos e vereadores. Até o fechamento desta edição, o TSE não tinha resultados para esses cargos.
Mas a maioria deve ficar nas mãos de liberais e nacionalistas, que têm se revezado no poder durante as últimas décadas.


Próximo Texto: Deposto só aceita voltar sem reconhecer eleição
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.