São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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ÁSIA

Para o presidente dos EUA, crise com Pyongyang é diferente do confronto com Bagdá e pode ser resolvida pela via diplomática

Coréia do Norte não é Iraque, sugere Bush

Mike Theiler/Reuters
O presidente George Bush chega a uma lanchonete em Crawford, no Texas, próxima a seu rancho


DAVID E. SANGER
DO "THE NEW YORK TIMES"

O presidente dos EUA, George W. Bush, marcou a distinção entre o impasse com a Coréia do Norte e o confronto com o Iraque dizendo que o projeto de armas norte-coreano pode ser detido "pacificamente, pela diplomacia". Ele disse que o ditador iraquiano, Saddam Hussein, por outro lado, "ainda não ouviu a mensagem" de que deve se desarmar ou enfrentar uma ação militar.
"Eu acredito que [a situação com a Coréia do Norte" não seja de enfrentamento militar, e sim de enfrentamento diplomático", disse o presidente, em seu rancho em Crawford, no Texas.
Mas o tom as advertências do presidente mudam significativamente quando ele trata do Iraque. Bush cita os esforços de Saddam em desenvolver um arsenal nuclear no começo dos anos 90 e diz que agora "nós não sabemos se ele tem ou não armas nucleares".
Conseguir informações sobre a capacidade nuclear de norte-coreanos e iraquianos tem se mostrado uma das mais difíceis tarefas das agências de inteligência.
A CIA e o serviço homólogo britânico estimam publicamente que o Iraque levaria cerca de cinco anos para desenvolver uma arma desse tipo -ou apenas um ano, se Saddam conseguir material físsil. A Coréia do Norte já teria duas bombas nucleares, segundo estimativa da CIA, e poderia construir mais cinco ou seis nos próximos seis meses se reprocessar seu grande estoque de combustível nuclear e os transformar em plutônio para bombas.
Para aumentar a pressão, a Coréia do Norte pôs fim aos controles internacionais no país, com a expulsão dos inspetores da ONU que monitoravam o congelamento de seu programa nuclear, e vem sugerindo que pode deixar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, ao qual aderiu em 1985.
Os sinais que Bush envia com seus comentários são particularmente significativos agora, que ele recebe crescentes críticas, tanto de democratas quanto de republicanos, por ter subestimado a importância das ações da Coréia do Norte enquanto alimentava a confrontação com o Iraque.
O ex-secretário de Estado Warren Christopher afirma que, a menos que Bush tenha evidências secretas de que a capacidade militar iraquiana é muito maior do que a publicamente conhecida, "a Coréia do Norte e o terrorismo internacional se apresentam como ameaças muito maiores do que a imposta pelo Iraque".
Questionado sobre se teria como gastar US$ 60 bilhões numa ação militar contra o Iraque, Bush disse: "Um ataque de Saddam -ou de um de seus parceiros- feriria nossa economia dramaticamente". Ele nada disse sobre o que pensa da ameaça imposta pela Coréia do Norte.
Durante sua campanha presidencial, Bush citava sempre a possibilidade de um ataque norte-coreano como razão para que os EUA construíssem sistema de escudo de mísseis. Pyongyang já tem um arsenal de mísseis cujo alcance chega à Coréia do Sul, ao Japão e aos 100 mil soldados americanos estacionados na Ásia. Acredita-se que Saddam tenha apenas alguns Scud, de menor alcance.

Pyongyang inspira Bagdá
Em Bagdá, o jornal oficial do partido Baath, de Saddam, saudou o exemplo da Coréia do Norte em enfrentar os EUA. "Nós, árabes, precisamos revisar nosso comportamento em relação aos EUA, assim como fez a Coréia do Norte", afirmou o "As Saura".
Segundo o diários, os árabes devem aprender com o exemplo norte-coreano para que se mobilizem com o objetivo de "evitar uma agressão contra o Iraque e prevenir a cruzada americano-sionista no mundo árabe".

Com agências internacionais


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