São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2007

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Reforma de US$ 1,9 bilhão provoca polêmica na ONU

Sede projetada por Le Corbusier será adaptada a normas de segurança atuais

Edifício em Manhattan foi inaugurado há 54 anos; valorização imobiliária contribui para custo das obras, diz organização


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK

Em plena transição entre os secretários-gerais Kofi Annan e Ban Ki-Moon, que assumiu ontem, a ONU recebe críticas pelo orçamento de US$ 1,9 bilhão para reforma de sua sede, às margens do rio East, em Nova York. Críticos do projeto apontam superfaturamento de 60% nos custos da construção, bancados pelos países-membros.
O excesso, diz a organização, é justificado pelo valorização imobiliária de Manhattan, por regras de segurança e pelo encarecimento da construção.
Em estrutura de vidro e aço, projetado pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier, o edifício de 39 andares era vanguardista na época da inauguração, há 54 anos. Hoje, viola normas de segurança e antiterroristas.
"É a reforma mais ridícula que já vi em toda a minha vida, tocada por um bando de incompetentes. Não deveria custar mais de US$ 700 milhões. Do jeito que está, vai sair por US$ 3,5 bilhões", ataca o bilionário Donald Trump, investidor do mercado imobiliário dos EUA.
A Assembléia Geral aprovou o US$ 1,9 bilhão numa manobra na antevéspera do Natal, com baixo quórum em plenário. Antes de deixar o posto nas Nações Unidas, Annan havia enviado um relatório sobre o projeto à comissão internacional do órgão. O documento corre em sigilo, mas a Folha apurou com diplomatas brasileiros e estrangeiros que:
1) O reforço contra ataques terroristas e a modernização do sistema de vigilância custarão US$ 166 milhões;
2) O gasto com aluguel de salas e edifícios comerciais para abrigar diplomatas e delegações durante a reforma será de cerca de US$ 215 milhões;
3) O custo para a construção de uma sala de conferências temporária que abrigue as reuniões da Assembléia Geral é de US$ 66 milhões.
O valor será dividido entre os 192 países-membros (Brasil, inclusive). A ONU entrará com US$ 300 milhões do próprio orçamento.
O projeto já se arrasta há seis anos. Algumas propostas foram rejeitadas por prever a mudança temporária de toda a organização. O dinheiro será arrecadado com o aumento escalonado da contribuição de cada país ao longo de cinco anos. Há a opção de pagamento à vista.
As nações mais pobres pagarão US$ 2 milhões. Os EUA, que mais contribuem com o orçamento da ONU, com 22%, pagarão US$ 400 milhões.
O complexo das Nações Unidas, que vai das ruas 42 a 49 ao longo da Primeira avenida, no extremo leste de Manhattan, levou três anos para ser construído, logo depois da Segunda Guerra. Custou US$ 65 milhões, a preço da época.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Nova York, o edifício não atende às normas de segurança exigida dos edifícios modernos da cidade, sobretudo depois do 11 de Setembro. A prefeitura aponta ainda irregularidades nas instalações elétricas e hidráulicas e de telefone.
Relatório de inspeção, ao qual a reportagem teve acesso, diz que "a deficiência da estrutura põe em risco a saúde e o bem-estar dos servidores, das delegações, de visitantes e turistas". O prédio da ONU é um dos pontos turísticos mais visitados de Nova York.


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