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Reforma de US$ 1,9 bilhão provoca polêmica na ONU
Sede projetada por Le Corbusier será adaptada a normas de segurança atuais
Edifício em Manhattan foi inaugurado há 54 anos; valorização imobiliária contribui para custo das obras, diz organização
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DE NOVA YORK
Em plena transição entre os
secretários-gerais Kofi Annan e
Ban Ki-Moon, que assumiu ontem, a ONU recebe críticas pelo
orçamento de US$ 1,9 bilhão
para reforma de sua sede, às
margens do rio East, em Nova
York. Críticos do projeto apontam superfaturamento de 60%
nos custos da construção, bancados pelos países-membros.
O excesso, diz a organização,
é justificado pelo valorização
imobiliária de Manhattan, por
regras de segurança e pelo encarecimento da construção.
Em estrutura de vidro e aço,
projetado pelo arquiteto franco-suíço Le Corbusier, o edifício de 39 andares era vanguardista na época da inauguração,
há 54 anos. Hoje, viola normas
de segurança e antiterroristas.
"É a reforma mais ridícula
que já vi em toda a minha vida,
tocada por um bando de incompetentes. Não deveria custar
mais de US$ 700 milhões. Do
jeito que está, vai sair por US$
3,5 bilhões", ataca o bilionário
Donald Trump, investidor do
mercado imobiliário dos EUA.
A Assembléia Geral aprovou
o US$ 1,9 bilhão numa manobra na antevéspera do Natal,
com baixo quórum em plenário. Antes de deixar o posto nas
Nações Unidas, Annan havia
enviado um relatório sobre o
projeto à comissão internacional do órgão. O documento corre em sigilo, mas a Folha apurou com diplomatas brasileiros
e estrangeiros que:
1) O reforço contra ataques
terroristas e a modernização do
sistema de vigilância custarão
US$ 166 milhões;
2) O gasto com aluguel de salas e edifícios comerciais para
abrigar diplomatas e delegações durante a reforma será de
cerca de US$ 215 milhões;
3) O custo para a construção
de uma sala de conferências
temporária que abrigue as reuniões da Assembléia Geral é de
US$ 66 milhões.
O valor será dividido entre os
192 países-membros (Brasil,
inclusive). A ONU entrará com
US$ 300 milhões do próprio
orçamento.
O projeto já se arrasta há seis
anos. Algumas propostas foram
rejeitadas por prever a mudança temporária de toda a organização. O dinheiro será arrecadado com o aumento escalonado da contribuição de cada país
ao longo de cinco anos. Há a opção de pagamento à vista.
As nações mais pobres pagarão US$ 2 milhões. Os EUA, que
mais contribuem com o orçamento da ONU, com 22%, pagarão US$ 400 milhões.
O complexo das Nações Unidas, que vai das ruas 42 a 49 ao
longo da Primeira avenida, no
extremo leste de Manhattan,
levou três anos para ser construído, logo depois da Segunda
Guerra. Custou US$ 65 milhões, a preço da época.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Nova York, o edifício não
atende às normas de segurança
exigida dos edifícios modernos
da cidade, sobretudo depois do
11 de Setembro. A prefeitura
aponta ainda irregularidades
nas instalações elétricas e hidráulicas e de telefone.
Relatório de inspeção, ao
qual a reportagem teve acesso,
diz que "a deficiência da estrutura põe em risco a saúde e o
bem-estar dos servidores, das
delegações, de visitantes e turistas". O prédio da ONU é um
dos pontos turísticos mais visitados de Nova York.
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