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ARTIGO
A ascensão e os desafios de McCain
DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"
John McCain está exausto.
Há muito tempo não sabe o que
é uma noite bem dormida. Mas
de alguma maneira, em meio a
todo esse frenesi, McCain precisa conduzir a transição: de
azarão, ele se tornou favorito
nas prévias republicanas. De
insurgente, ele precisa se transformar em líder de uma coalizão de centro-direita capaz de
oferecer uma visão mais ampla
sobre como unificar o país.
Pelo final da próxima semana, McCain, para todos os efeitos, pode se tornar o líder do
Partido Republicano. A equipe
de sua campanha está consciente do que será necessário
para que ele se torne capaz de
operar nesse novo patamar.
Primeiro, o tom de sua campanha terá de mudar. Em 2000
[quando também foi pré-candidato, derrotado por George W.
Bush], McCain era um guerreiro feliz. Passeava de comício
em comício, portando seu sabre de luz e lançando ataques
verbais contra o império Bush.
Mas hoje a campanha de
2000 de McCain parece mais
refletida na candidatura de Barack Obama do que na atual
campanha do senador pelo Arizona. Obama reluz com brilho
superior ao de McCain na posição de guerreiro da esperança,
que transcende a mensagem
puramente partidária.
Guerra do Iraque
McCain parece sobrecarregado pelo custo emocional da
guerra no Iraque. Mas Franklin
Roosevelt conseguiu conduzir
uma campanha jubilosa em
tempo de guerra e, para concorrer com os democratas no
final do ano, McCain terá de se
reconectar ao espírito do momento. O país, como aponta Peter Hart, um dos mais renomados especialistas em pesquisas
de opinião, não deseja irritação
e raiva.
McCain também terá de esclarecer sua visão quanto ao futuro. Ele fala sobre a luta contra
os extremistas islâmicos como
o desafio político transcendente de nossa era. Mas também
existe um desafio transcendente a enfrentar na política interna. Os EUA estão se segmentando. O país está se dividindo
em termos de nível educacional, renda, religião e estilo de
vida, e isso abre espaço para o
cinismo e a desconfiança.
Subúrbios
McCain terá de reforçar
aquilo que tem a oferecer em
termos de política interna. Ele
tem algumas idéias excelentes,
como seu plano de controle dos
custos da saúde, mas não as explica bem. E ainda não se concentrou no grupo de eleitores
que representa a chave para o
sucesso ou fracasso eleitoral
dos republicanos: a classe trabalhadora suburbana.
Imaginem um bairro de subúrbio ocupado por famílias
com renda de entre US$ 40 mil
e US$ 60 mil ao ano. Talvez
uma das casas abrigue uma
mãe solteira que odeia seu emprego, mas precisa dos benefícios que ele oferece. Talvez outra delas abrigue pais imigrantes com nível de educação médio que estão enfrentando problemas com a educação de seu
filho. A definição do que constitui a classe média mudou. Agora, ela é um lugar incerto. Manter posição como um de seus
integrantes se transformou em
uma batalha. Qualquer candidato que não trate dessa preocupação estará condenado.
Caso McCain se saia bem na
Superterça, ele terá protagonizado uma das grandes reviravoltas políticas da história moderna. Essa vitória se deveria
ao seu caráter, à sua honestidade e à sua tenacidade.
Mas ele já começa a ser julgado sob padrões diferentes. Os
republicanos estão avaliando
como ele se sairia em disputa
contra Hillary Clinton (a quem
temem moderadamente) ou
contra Obama (a quem temem
muito). Para unificar o partido,
McCain teria de respeitar as diferentes partes da coalizão.
Mas, acima disso, ele teria de
animar os republicanos com a
possibilidade de uma vitória
nas urnas. Ele terá de garimpar
seu passado e apresentar com
destaque os ideais e as causas
que costumava defender, na
forma de um pacote coerente.
McCain terá de demonstrar
que conquistar a indicação presidencial de um Partido Republicano desmotivado é uma coisa; conquistar a Presidência e
unir o país é outra.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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