São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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ARTIGO

A ascensão e os desafios de McCain

DAVID BROOKS
DO "NEW YORK TIMES"

John McCain está exausto. Há muito tempo não sabe o que é uma noite bem dormida. Mas de alguma maneira, em meio a todo esse frenesi, McCain precisa conduzir a transição: de azarão, ele se tornou favorito nas prévias republicanas. De insurgente, ele precisa se transformar em líder de uma coalizão de centro-direita capaz de oferecer uma visão mais ampla sobre como unificar o país. Pelo final da próxima semana, McCain, para todos os efeitos, pode se tornar o líder do Partido Republicano. A equipe de sua campanha está consciente do que será necessário para que ele se torne capaz de operar nesse novo patamar. Primeiro, o tom de sua campanha terá de mudar. Em 2000 [quando também foi pré-candidato, derrotado por George W. Bush], McCain era um guerreiro feliz. Passeava de comício em comício, portando seu sabre de luz e lançando ataques verbais contra o império Bush. Mas hoje a campanha de 2000 de McCain parece mais refletida na candidatura de Barack Obama do que na atual campanha do senador pelo Arizona. Obama reluz com brilho superior ao de McCain na posição de guerreiro da esperança, que transcende a mensagem puramente partidária.

Guerra do Iraque
McCain parece sobrecarregado pelo custo emocional da guerra no Iraque. Mas Franklin Roosevelt conseguiu conduzir uma campanha jubilosa em tempo de guerra e, para concorrer com os democratas no final do ano, McCain terá de se reconectar ao espírito do momento. O país, como aponta Peter Hart, um dos mais renomados especialistas em pesquisas de opinião, não deseja irritação e raiva.
McCain também terá de esclarecer sua visão quanto ao futuro. Ele fala sobre a luta contra os extremistas islâmicos como o desafio político transcendente de nossa era. Mas também existe um desafio transcendente a enfrentar na política interna. Os EUA estão se segmentando. O país está se dividindo em termos de nível educacional, renda, religião e estilo de vida, e isso abre espaço para o cinismo e a desconfiança.

Subúrbios
McCain terá de reforçar aquilo que tem a oferecer em termos de política interna. Ele tem algumas idéias excelentes, como seu plano de controle dos custos da saúde, mas não as explica bem. E ainda não se concentrou no grupo de eleitores que representa a chave para o sucesso ou fracasso eleitoral dos republicanos: a classe trabalhadora suburbana.
Imaginem um bairro de subúrbio ocupado por famílias com renda de entre US$ 40 mil e US$ 60 mil ao ano. Talvez uma das casas abrigue uma mãe solteira que odeia seu emprego, mas precisa dos benefícios que ele oferece. Talvez outra delas abrigue pais imigrantes com nível de educação médio que estão enfrentando problemas com a educação de seu filho. A definição do que constitui a classe média mudou. Agora, ela é um lugar incerto. Manter posição como um de seus integrantes se transformou em uma batalha. Qualquer candidato que não trate dessa preocupação estará condenado.
Caso McCain se saia bem na Superterça, ele terá protagonizado uma das grandes reviravoltas políticas da história moderna. Essa vitória se deveria ao seu caráter, à sua honestidade e à sua tenacidade. Mas ele já começa a ser julgado sob padrões diferentes. Os republicanos estão avaliando como ele se sairia em disputa contra Hillary Clinton (a quem temem moderadamente) ou contra Obama (a quem temem muito). Para unificar o partido, McCain teria de respeitar as diferentes partes da coalizão.
Mas, acima disso, ele teria de animar os republicanos com a possibilidade de uma vitória nas urnas. Ele terá de garimpar seu passado e apresentar com destaque os ideais e as causas que costumava defender, na forma de um pacote coerente. McCain terá de demonstrar que conquistar a indicação presidencial de um Partido Republicano desmotivado é uma coisa; conquistar a Presidência e unir o país é outra.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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