São Paulo, quarta-feira, 02 de fevereiro de 2011

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Reação na praça tem sapatos ao alto, sinal de protesto

DO ENVIADO AO CAIRO

Parte da multidão reunida na praça Tahrir, centro dos protestos no Cairo, reagiu ao anúncio de Hosni Mubarak mostrando seus sapatos sobre as cabeças, sinal ofensivo no mundo árabe.
Pouco antes, seu discurso havia sido exibido na TV ao vivo para os manifestantes.
"Trabalharei os últimos meses do atual mandato para completar os passos necessários a uma transferência pacífica de poder", disse o ditador em discurso na TV.
"Essa querida nação é onde eu vivi, lutei e defendi seu solo, sua soberania e seus interesses. E neste solo morrerei. A história vai me julgar."
Mubarak comanda o país com mão de ferro desde o golpe cometido em 1981.
As bases de seu regime, secular mas autoritário, ficaram estremecidas após muitos egípcios se inspirarem na revolta que depôs o ditador da Tunísia Zine el Abidine Ben Ali no mês passado.
O discurso surgiu horas depois de o maior protesto antigoverno na história moderna do Egito reunir ao menos 250 mil pessoas na praça.
Muitos expressavam dúvidas sobre a sinceridade do anúncio e diziam que o ditador deveria renunciar ao cargo imediatamente.
"Mubarak nos mente há 30 anos. Já basta!", disse o escritor Khaled Suleiman, 48.
"É um absurdo ele nos acusar de fazer mal ao país com nossos protestos. Quem fez mal ao país por 30 anos foi ele", diz Maie El Kharat, 22, advogada recém formada.
Sentado numa calçada após um dia protestando de pé, o desempregado Hicham Faris, 49, disse que Mubarak blefa: "Ele jogou uma carta na mesa, mas venceremos".
Para Suleiman, os EUA e Israel estão por trás da manobra e o objetivo é dar tempo para que os americanos e israelenses preparem um sucessor que lhes convenha.
Madrugada adentro, o clima na praça refletia uma mistura de irritação e cansaço. "Estou dormindo aqui há três dias, mas ficarei o tempo que precisar até que Mubarak saia", disse o empresário Nasser Ahmed Ali, 43.
Em volta dele, centenas de pessoas estavam deitadas no chão, espremidas entre cobertores escurecidos pelo contato com chão. Os mais privilegiados dormiam amontoados em barracas.
Alguns grupos se mantinham acordados jogando xadrez e espantando o frio com fogueiras improvisadas. Altofalantes tocavam em som chiado o hino nacional.
Contrariando a opinião dominante, a psiquiatra Radwa Said ben Abdellah, disse que Mubarak atendeu às demandas populares e por isso os protestos deveriam parar.
"Essa baderna paralisou o turismo e custou bilhões de dólares à economia. As pessoas serão estúpidas se continuarem protestando."
(SA)


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