São Paulo, quarta-feira, 02 de fevereiro de 2011

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REVOLTA ÁRABE

EUA manobram por queda de Mubarak

Em pronunciamento, Obama afirma ter ouvido de ditador reconhecimento de que situação atual é insustentável

De acordo com jornal americano, enviado sugeriu a retirada imediata de ditador, mas este não cedeu

ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK

O ditador egípcio, Hosni Mubarak, anunciou ontem que não vai concorrer à reeleição em setembro, mas afirmou que vai continuar no poder até o pleito.
O anúncio, feito em cadeia de TV, ocorreu após os EUA terem pedido que ele não buscasse novo mandato, na manifestação mais clara de que o governo Barack Obama retirou o apoio ao tradicional aliado, no poder desde 1981.
O ditador afirmou que o vice-presidente Omar Suleiman, apontado para o cargo no sábado, tentou negociar com os partidos de oposição a composição de um novo governo, mas que vários deles não aceitaram a proposta.
Uma queixa ouvida com frequência é a de que já eram reduzidas as chances de Mubarak concorrer à reeleição.
O ditador tem 82 anos e saúde debilitada.
Gamal, seu filho, chegou a ser apontado como provável sucessor, mas deu nos últimos meses sinais dúbios sobre se seria ou não candidato -pleitos no Egito são reconhecidamente manipulados.
A revolta enterrou de vez as chances de Gamal e alavancou a figura do general Suleiman, chefe do poderoso aparato de inteligência. Na semana passada, Mubarak reativou a vice-presidência e a entregou a Suleiman.
A manobra foi vista como sinal de que Suleiman, com reputação interna melhor que a de Mubarak, deve ser o candidato governista.
A decisão foi comemorada pelos manifestantes, que acompanharam o discurso em telão no centro do Cairo. Mas ainda não está claro se vai aplacar os protestos.

MANOBRAS
Horas antes do anúncio de Mubarak, jornais americanos afirmavam que o enviado especial de Obama, Frank Wisner, teria mandado o recado de que os EUA não apoiavam um novo mandato. Wisner já serviu como embaixador no Egito.
Ainda não está claro se os EUA queriam saída imediata, com a criação de um governo de transição, ou continuidade de Mubarak até a eleição.
Segundo o "Los Angeles Times", o enviado americano disse a Mubarak que ele deveria deixar o poder imediatamente, mas que a proposta foi recusada.
Mas o recado de Obama marcou uma mudança de atitude de Washington.
Desde o início da crise egípcia, os EUA foram bastante cautelosos, buscando não melindrar o país aliado. As palavras mais fortes vieram no domingo, quando a secretária de Estado, Hillary Clinton, cobrou uma "transição ordenada" no país.
Ontem, depois do anúncio de Mubarak, Obama afirmou, na sua manifestação mais enfática desde o início dos protestos, que a transição no Egito precisa ser "significativa, pacífica e agora".
Disse que falou com Mubarak por telefone e que o ditador "reconhece que o status quo não é sustentável e que a mudança tem que ocorrer".
Para alguns analistas, porém, as críticas vieram tarde demais, e Washington perdeu a força que poderia ter nas negociações com o possível futuro governo, ao não manifestar apoio mais claro.

ALIADO
Por trás desse cuidado, está a importância que o Egito tem para os EUA no Oriente Médio, com papel de mediador nas negociações de paz entre Israel e Palestina.
O canal de Suez é utilizado para abastecer as tropas americanas no Iraque.
O Egito também teria sido usado por George W. Bush na chamada "rendição extraordinária", em que suspeitos de terrorismo eram sequestrados e levados para serem interrogados em nações que praticam tortura.
Essa ajuda, porém, não é sem custo. Os EUA gastaram dezenas de bilhões de dólares nas últimas décadas para investimento nas Forças Armadas egípcias -US$ 1,3 bilhão apenas no ano passado.


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