São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Gangues se instalam no interior do Haiti

Ao perder terreno na capital, ocupada por forças da ONU, criminosos migram para o campo e para o país vizinho

Embaixador brasileiro diz que Porto Príncipe ainda não está pacificada; falta de infra-estrutura é um dos principais problemas

RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

A ocupação militar de Porto Príncipe pela Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti) está levando as gangues armadas a deixar a capital do Haiti rumo ao interior do país ou à vizinha República Dominicana.
Sob o comando do Brasil, os capacetes azuis da ONU tomaram anteontem Bois Neuf, último sub-bairro da violenta Cité Soleil, maior favela da capital. As tropas militares têm informações de que o líder de Bois Neuf, Belony, fugiu para Saint-Michel, área controlada pelos capacetes azuis argentinos, ao norte de Porto Príncipe.
O Batalhão Brasileiro de Força de Paz recebeu na manhã de ontem informações de que criminosos fugitivos de Boston, área tomada em fevereiro pela Minustah, se preparavam para partir para Santo Domingo, na República Dominicana.
O objetivo dos grupos é fugir do alcance imediato das tropas multinacionais de paz, que estão espalhadas por toda a capital e contam com 6.782 soldados de 19 países.
O Brasil atua apenas na capital. O comentário de um militar brasileiro, de que "para nós, só existe Porto Príncipe", reflete a lógica dos soldados.
Cabe à Minustah analisar se efetua mudanças caso as gangues armadas de fato se estabeleçam e comecem a praticar crimes no interior. Nesse caso, parte dos brasileiros seria deslocada.
Para as gangues, porém, no campo sem camuflagem tornaria mais difícil combater tropas regulares, como já disse o chefe da missão da ONU no país, o guatemalteco Edmond Mulet.
O embaixador do Brasil no Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, não acredita que a capital haitiana esteja pacificada com a ação de anteontem, bem como a porta-voz da ONU, Sophie Lacombe.
"A situação não está resolvida. Pode estar em uma região de caráter altamente simbólico, Cité Soleil. Mas há áreas como Martissant [bairro sob o controle dos capacetes azuis de Sri Lanka] que continuam críticas. Porto Príncipe tem todas as mazelas de uma grande cidade latino-americana sem a infra-estrutura de outras. No Rio, você sai da Rocinha e vai a Ipanema. Aqui não há Ipanema", disse o embaixador à Folha.
Bois Neuf era um desses lugares em Cité Soleil onde os soldados sempre enfrentavam tiroteios e forte resistência. Longe de ter a infra-estrutura da carioca Rocinha -que conta com comércio irregular significativo e até com uma TV comunitária-, é uma favela com uma rua principal e muitas vielas com valas abertas, sem luz e com odor fétido.


O repórter Raphael Gomide viajou a convite do Exército brasileiro


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