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Gangues se instalam no interior do Haiti
Ao perder terreno na capital, ocupada por forças da ONU, criminosos migram para o campo e para o país vizinho
Embaixador brasileiro diz que Porto Príncipe ainda não está pacificada; falta
de infra-estrutura é um
dos principais problemas
RAPHAEL GOMIDE
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE
A ocupação militar de Porto
Príncipe pela Minustah (Missão das Nações Unidas para a
Estabilização do Haiti) está levando as gangues armadas a
deixar a capital do Haiti rumo
ao interior do país ou à vizinha
República Dominicana.
Sob o comando do Brasil, os
capacetes azuis da ONU tomaram anteontem Bois Neuf, último sub-bairro da violenta Cité
Soleil, maior favela da capital.
As tropas militares têm informações de que o líder de Bois
Neuf, Belony, fugiu para Saint-Michel, área controlada pelos
capacetes azuis argentinos, ao
norte de Porto Príncipe.
O Batalhão Brasileiro de Força de Paz recebeu na manhã de
ontem informações de que criminosos fugitivos de Boston,
área tomada em fevereiro pela
Minustah, se preparavam para
partir para Santo Domingo, na
República Dominicana.
O objetivo dos grupos é fugir
do alcance imediato das tropas
multinacionais de paz, que estão espalhadas por toda a capital e contam com 6.782 soldados de 19 países.
O Brasil atua apenas na capital. O comentário de um militar
brasileiro, de que "para nós, só
existe Porto Príncipe", reflete a
lógica dos soldados.
Cabe à Minustah analisar se
efetua mudanças caso as gangues armadas de fato se estabeleçam e comecem a praticar
crimes no interior. Nesse caso,
parte dos brasileiros seria deslocada.
Para as gangues, porém, no
campo sem camuflagem tornaria mais difícil combater tropas
regulares, como já disse o chefe
da missão da ONU no país, o
guatemalteco Edmond Mulet.
O embaixador do Brasil no
Haiti, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, não acredita que a
capital haitiana esteja pacificada com a ação de anteontem,
bem como a porta-voz da ONU,
Sophie Lacombe.
"A situação não está resolvida. Pode estar em uma região
de caráter altamente simbólico, Cité Soleil. Mas há áreas como Martissant [bairro sob o
controle dos capacetes azuis de
Sri Lanka] que continuam críticas. Porto Príncipe tem todas
as mazelas de uma grande cidade latino-americana sem a infra-estrutura de outras. No Rio,
você sai da Rocinha e vai a Ipanema. Aqui não há Ipanema",
disse o embaixador à Folha.
Bois Neuf era um desses lugares em Cité Soleil onde os
soldados sempre enfrentavam
tiroteios e forte resistência.
Longe de ter a infra-estrutura
da carioca Rocinha -que conta
com comércio irregular significativo e até com uma TV comunitária-, é uma favela com
uma rua principal e muitas vielas com valas abertas, sem luz e
com odor fétido.
O repórter Raphael Gomide viajou a convite do
Exército brasileiro
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