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Em meio a desabastecimento, Chávez ocupa fábrica de arroz
Intenção é forçar cumprimento de preço tabelado; para associação, medida piora escassez
Governo venezuelano, que acusa empresas de estocar para fazer especulação, ameaça com estatização se intervenção não surtir efeito
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
As Forças Armadas venezuelanas iniciaram na noite de anteontem a ocupação da indústria de beneficiamento arroz do
país, determinada pelo presidente Hugo Chávez como medida para garantir o cumprimento dos preços tabelados pelo governo. A medida ocorre em
meio a um aumento no problema de desabastecimento de
produtos como feijão e ovos,
além do próprio arroz.
"Eles se negam a produzir e a
empacotar arroz para o consumo do prato do venezuelano.
Eu me cansei. E disse a Elías
[Jaua, ministro da Agricultura]:
"intervenha e, se eles jogarem
contra, expropriaremos'", disse
Chávez ontem, em seu programa dominical de TV "Alô, Presidente".
Chávez afirmou que, caso haja expropriação, as empresas
passarão de privadas a "sociais", e a indenização será paga
em bônus. "Não creiam que vou
pagar com dinheiro vivo. O governo está aqui para proteger o
povo, e não para proteger a burguesia nem os ricos."
A primeira intervenção ocorreu anteontem à noite, quando
militares da Guarda Nacional
ocuparam a fábrica de arroz
Primor, em Calabozo (180 km
ao sul de Caracas). A planta
pertence à empresa Polar, a
maior produtora de alimentos
da Venezuela.
Ontem, Jaua acusou a empresa Polar de produzir 90% de
seu arroz em versões "coloridas" para fugir da tabela do governo, que só inclui o arroz
branco tradicional. "Hoje [ontem] se iniciou a produção de
arroz 100% tabelado, estabelecido no controle de preços imposto pelo governo revolucionário", disse o ministro, também no "Alô, Presidente".
Na quinta-feira, o governo já
havia confiscado 16 mil toneladas de arroz da fábrica da Polar.
O governo afirmou que irá comercializá-lo pela tabela.
O confisco foi chamado "arbitrário e ilegal" pela empresa
Polar. "O arroz com sabor, assim como o arroz instantâneo e
o parboilizado, são produtos
cuja produção e comercialização estão expressamente permitidas", disse o diretor jurídico da empresa, Guillermo Bolinaga, ao jornal "El Universal".
Até o final da tarde de ontem, a
empresa não havia se pronunciado sobre a intervenção.
Hoje, está prevista a ocupação da fábrica Mary, considerada a maior do país. Jaua disse
que haverá mais ações semelhantes até amanhã. O site da
Asovema (Associação Venezuela de Moinhos de Arroz) lista 11 empresas do setor no país.
Em nota, a Asovema demonstrou "surpresa" com a
medida, negou irregularidades
e alertou que a intervenção pode piorar o desabastecimento.
Em falta
Um levantamento publicado
na sexta-feira pelo jornal "Últimas Notícias", o maior do país,
mostra que, de seis mercados
visitados, apenas um vendia arroz no preço tabelado. O produto estava ausente inclusive na
unidade do Mercal, rede administrada pelo governo nacional.
Pela tabela, o quilo do arroz
branco custa 2,18 bolívares
(R$ 2,40 no câmbio oficial),
mas o levantamento do "Últimas Notícias" encontrou por
até 6,70 bolívares (R$ 7,40), na
versão parboilizada.
Há problemas em outros
produtos. Nos casos mais graves, o levantamento não encontrou ovos ou feijão preto (muito consumido pelos venezuelanos) em nenhum dos seis estabelecimentos.
A escassez tem sido apontada
como um dos principais motivos da inflação mais alta da
América Latina: 30,9% no ano
passado. No mesmo período, o
preço dos alimentos subiu 47%.
O governo tem culpado as
empresas privadas pelo desabastecimento e pela inflação,
acusando-os de estocar alimentos para gerar especulação. No
ano passado, Chávez estatizou
laticínios e frigoríficos em resposta à falta de leite e de carne.
Analistas críticos de Chávez,
por outro lado, dizem que a insegurança jurídica e o excessivo
controle de preços desestimulam o setor privado, estancando a produção e pressionando
os preços.
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