São Paulo, domingo, 02 de abril de 2000


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JUSTIÇA TARDIA
Gregos estão perto de obter retorno dos Mármores de Elgin, exibidos em Londres desde 1816
Caça ao tesouro perdido

Países que tiveram obras saqueadas por potências européias lutam para reavê-las


FÁBIO ZANINI
de Londres

Uma das maiores disputas pela posse de objetos de arte antiga na Europa, a briga entre o Reino Unido e a Grécia pelos Mármores de Elgin, que se arrasta há 150 anos, pode estar chegando ao fim.
Dentro de dois meses, uma comissão do Parlamento do Reino Unido formada para analisar o assunto, que começou a tomar depoimentos de representantes das partes envolvidas na semana passada, anunciará sua decisão.
O relatório da comissão servirá de embasamento para que os deputados britânicos definam se os objetos devem permanecer em exposição no British Museum, em Londres, ou ser devolvidos ao governo da Grécia, de onde foram retirados no século passado.
As relíquias -56 blocos de esculturas (frisos) e 19 estátuas- faziam parte do Parthenon, complexo religioso construído em Atenas há 2.500 anos e cujas ruínas são uma das maiores atrações turísticas da Grécia até hoje.
Entre 1799 e 1802 elas foram retiradas da Grécia e levadas ao Reino Unido. Desde 1816, estão em exposição no museu londrino, um dos maiores do mundo.
A partir da metade do século 19, o governo da Grécia passou a pedir o retorno dos objetos, que representam cenas da mitologia grega.
A última negativa oficial do governo britânico data de 1983, mas, agora, há sinais concretos de que, na batalha de relações públicas em que se transformou o caso, os gregos estão em vantagem.
Prova disso é uma pesquisa promovida pela revista "The Economist" há duas semanas junto a deputados da Câmara dos Comuns (a principal Casa do Parlamento britânico), que decidirão a questão. Nada menos que 66% dos entrevistados se declararam favoráveis ao retorno dos Mármores de Elgin aos gregos.
Outro apoio de peso à solicitação de Atenas veio no final do ano passado, quando o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, em visita ao Parthenon, pediu o retorno dos Mármores de Elgin aos seus antigos donos.
Em fevereiro, o governo turco, rival histórico dos gregos, em gesto surpreendente, reforçou o apelo do presidente norte-americano. O Império Otomano, que permitiu a ida dos Mármores de Elgin para Londres, tinha sua sede na cidade turca de Istambul.
No mês passado, o Parlamento Europeu enviou uma delegação a Atenas para estudar o caso.
Os Mármores de Elgin receberam esse nome em referência ao responsável pelo transporte deles ao Reino Unido, Thomas Bruce, conde de Elgin, então embaixador do Império Britânico no Império Otomano (que dominava a Grécia).
Para os gregos, foi um roubo. Mas a posição oficial dos britânicos durante anos foi a de que a "mudança de endereço" foi perfeitamente legal, porque consentida pelas autoridades locais da época.
"Como se sentiriam os ingleses vendo um pedaço do Big Ben em Paris? O Parthenon é nosso maior patrimônio, e os Mármores de Elgin são parte do complexo", disse Elena Drakopoulou, adida cultural grega em Londres.
Ela diz que, agora, após anos de campanha, os gregos estão finalmente conseguindo convencer os britânicos de que a posse dos Mármores de Elgin é "imoral".
Construído em honra à deusa Athena Parthenos no século 5º a.C., o Parthenon, localizado no alto de uma colina de Atenas, é um dos mais conhecidos patrimônios culturais da humanidade.

Olimpíadas
Os gregos têm pressa. Eles querem fazer dos Mármores de Elgin a principal atração de um novo museu que está sendo construído junto ao Parthenon e que deve ficar pronto em 2004, a tempo para as Olimpíadas de Atenas.
Mas o British Museum, além de dizer que a propriedade das relíquias é perfeitamente legal, aposta no argumento de que os objetos, por serem muito velhos, têm de ser mantidos em Londres.
"Atenas é uma das cidades mais poluídas da Europa. O Parthenon já começa a dar sinais de deterioração por causa disso, e nós tememos que os Mármores de Elgin, se retornados, tenham destino parecido", disse à Folha Andrew Hamilton, porta-voz oficial do British Museum.


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