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JUSTIÇA TARDIA
Gregos estão perto de obter retorno dos Mármores de Elgin, exibidos em Londres desde 1816
Caça ao tesouro perdido
Países que tiveram obras saqueadas por potências européias lutam para reavê-las
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FÁBIO ZANINI
de Londres
Uma das maiores disputas pela
posse de objetos de arte antiga na
Europa, a briga entre o Reino
Unido e a Grécia pelos Mármores
de Elgin, que se arrasta há 150
anos, pode estar chegando ao fim.
Dentro de dois meses, uma comissão do Parlamento do Reino
Unido formada para analisar o assunto, que começou a tomar depoimentos de representantes das
partes envolvidas na semana passada, anunciará sua decisão.
O relatório da comissão servirá
de embasamento para que os deputados britânicos definam se os
objetos devem permanecer em
exposição no British Museum,
em Londres, ou ser devolvidos ao
governo da Grécia, de onde foram
retirados no século passado.
As relíquias -56 blocos de esculturas (frisos) e 19 estátuas-
faziam parte do Parthenon, complexo religioso construído em
Atenas há 2.500 anos e cujas ruínas são uma das maiores atrações
turísticas da Grécia até hoje.
Entre 1799 e 1802 elas foram retiradas da Grécia e levadas ao Reino Unido. Desde 1816, estão em
exposição no museu londrino,
um dos maiores do mundo.
A partir da metade do século 19,
o governo da Grécia passou a pedir o retorno dos objetos, que representam cenas da mitologia
grega.
A última negativa oficial do governo britânico data de 1983, mas,
agora, há sinais concretos de que,
na batalha de relações públicas
em que se transformou o caso, os
gregos estão em vantagem.
Prova disso é uma pesquisa promovida pela revista "The Economist" há duas semanas junto a deputados da Câmara dos Comuns
(a principal Casa do Parlamento
britânico), que decidirão a questão. Nada menos que 66% dos entrevistados se declararam favoráveis ao retorno dos Mármores de
Elgin aos gregos.
Outro apoio de peso à solicitação de Atenas veio no final do ano
passado, quando o presidente dos
Estados Unidos, Bill Clinton, em
visita ao Parthenon, pediu o retorno dos Mármores de Elgin aos
seus antigos donos.
Em fevereiro, o governo turco,
rival histórico dos gregos, em gesto surpreendente, reforçou o apelo do presidente norte-americano. O Império Otomano, que permitiu a ida dos Mármores de Elgin para Londres, tinha sua sede
na cidade turca de Istambul.
No mês passado, o Parlamento
Europeu enviou uma delegação a
Atenas para estudar o caso.
Os Mármores de Elgin receberam esse nome em referência ao
responsável pelo transporte deles
ao Reino Unido, Thomas Bruce,
conde de Elgin, então embaixador do Império Britânico no Império Otomano (que dominava a
Grécia).
Para os gregos, foi um roubo.
Mas a posição oficial dos britânicos durante anos foi a de que a
"mudança de endereço" foi perfeitamente legal, porque consentida pelas autoridades locais da
época.
"Como se sentiriam os ingleses
vendo um pedaço do Big Ben em
Paris? O Parthenon é nosso maior
patrimônio, e os Mármores de Elgin são parte do complexo", disse
Elena Drakopoulou, adida cultural grega em Londres.
Ela diz que, agora, após anos de
campanha, os gregos estão finalmente conseguindo convencer os
britânicos de que a posse dos
Mármores de Elgin é "imoral".
Construído em honra à deusa
Athena Parthenos no século 5º
a.C., o Parthenon, localizado no
alto de uma colina de Atenas, é
um dos mais conhecidos patrimônios culturais da humanidade.
Olimpíadas
Os gregos têm pressa. Eles querem fazer dos Mármores de Elgin
a principal atração de um novo
museu que está sendo construído
junto ao Parthenon e que deve ficar pronto em 2004, a tempo para
as Olimpíadas de Atenas.
Mas o British Museum, além de
dizer que a propriedade das relíquias é perfeitamente legal, aposta no argumento de que os objetos, por serem muito velhos, têm
de ser mantidos em Londres.
"Atenas é uma das cidades mais
poluídas da Europa. O Parthenon
já começa a dar sinais de deterioração por causa disso, e nós tememos que os Mármores de Elgin, se
retornados, tenham destino parecido", disse à Folha Andrew Hamilton, porta-voz oficial do British Museum.
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