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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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PRESSÃO

Chanceler pede "sacrifício" ao ditador; "vá para o inferno", responde o governo iraquiano

Saudita pede renúncia de Saddam

DA REDAÇÃO

"Vá para o inferno." Essa foi a resposta do governo iraquiano ao chanceler saudita, príncipe Saud al Faisal, depois que ele sugeriu que o ditador Saddam Hussein renunciasse para pôr fim à guerra.
"Se a única saída para resolver a situação no Iraque é um sacrifício do presidente Saddam Hussein, e a partir do momento em que ele está pedindo a todos os iraquianos que se sacrifiquem por seu país, então o mínimo que se pode esperar é que ele faça o mesmo e se sacrifique por seu país", disse o príncipe Saud, um dos principais homens do governo saudita.
O chanceler disse que não está intimando ou encorajando Saddam a renunciar. No entanto, ao ser questionado se não achava tarde demais para que o líder iraquiano renunciasse, respondeu: "Por que seria tarde demais?".
Poucas horas mais tarde, em entrevista coletiva em Bagdá, o vice-presidente Taha Yaseen Ramadan se dirigiu diretamente ao chanceler saudita: "Vá para o inferno. Você não vale nada para se dirigir ao líder do Iraque".
O vice-presidente acusou o governo da Arábia Saudita de servir aos interesses norte-americanos ao permitir que suas forças usem seu território e ao aumentar a produção de petróleo para compensar a eventual falta do produto.
Tradicional aliada dos EUA, a Arábia Saudita serviu de ponto de apoio durante a Guerra do Golfo, em 91, mas tem se oposto ao conflito atual. O governo saudita vetou o uso de seu território por tropas terrestres desta vez, mas tem dado suporte às aeronaves militares da coalizão anglo-americana.
A crise iraquiana provocou na Arábia Saudita um debate sobre o jihad, esforço religioso que inclui a chamada "guerra santa".
Bagdá afirma que cerca de 4.000 "voluntários" árabes estão no Iraque. Extremistas dizem que centenas de sauditas teriam cruzado a fronteira para se juntar às forças de Saddam. Um jovem saudita que foi ao país vizinho colocou seu diário na internet.
O governo nega a informação de que teria sido um saudita que explodiu um carro que matou cinco pessoas, em atentado no norte do Iraque ocorrido no último dia 22 de março.
Além disso, muitos sauditas contrários a apoiar diretamente o Iraque se opõem ao conflito, considerado uma invasão ocidental contra um país árabe. Alguns chegam a comparar a guerra atual com a invasão soviética no Afeganistão, quando milhares de muçulmanos foram à região para combater o avanço do comunismo -com o apoio dos EUA.
O Baath, partido de Saddam, no entanto, está longe de ser religioso. Além disso, o ditador iraquiano é responsabilizado por muitos pela morte de milhares de iraquianos, de começar guerras e de ameaçar a Arábia Saudita após a invasão do vizinho Kuait, em 90.
"É um assunto complexo. Não se trata de uma questão tão simples como a do Afeganistão", disse Jamal Khashoggi, editor-chefe do diário "Al Watan".
Na TV do governo saudita, no entanto, o recado é claro: um líder religioso aconselhou os jovens a não dar ouvidos a militantes islâmicos que incentivam a lutar contra os EUA.


Com agências internacionais


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