São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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AMÉRICA LATINA

Carlos Juárez domina Santiago del Estero há 50 anos e, junto com a mulher, é acusado de vários crimes

Argentina intervém em Província e prende caudilho

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO DEL ESTERO

O Congresso argentino aprovou ontem uma intervenção federal na Província de Santiago del Estero (norte), comandada há 50 anos pelo caudilho Carlos Arturo Juárez e sua família -aliados do presidente Néstor Kirchner.
Poucas horas depois de definida a intervenção, o juiz federal Angel Toledo determinou a detenção de Juárez e de sua mulher, Mercedes "Nina" Aragonés de Juárez, até ontem governadora da Província.
O casal deverá ser interrogado na semana que vem. Por causa da idade avançada -a governadora tem 77 anos e seu marido, 87-, eles vão permanecessem em prisão domiciliar, segundo o diário "Clarín".
Sobre os dois pesam denúncias que vão desde fraude até violações graves de direitos humanos. O caudilho, por exemplo, é acusado de chefiar uma rede ilegal de espionagem e de ter participado da detenção, da tortura e do desaparecimento de pessoas durante seu segundo governo (1973-1976) e durante a última ditadura militar (1976-1983).
Justamente para evitar que ele fosse processado, há pouco mais de um mês a governadora nomeou o marido como secretário da Economia, garantindo-lhe assim foro privilegiado.
Já Nina Aragonés sofre ações judiciais por fraude contra o Estado -recebimento indevido de aposentadoria cumulativamente ao salário de chefe de governo. É acusada também de suposta incitação a um atentado contra um deputado.
Além disso, um informe elaborado pelos ministérios de Direitos Humanos e da Justiça apontou a "incapacidade" da Justiça local de esclarecer delitos vinculados ao casal Juárez e práticas de repressão e impunidade na atuação das forças de segurança.
Há cerca de um ano, a população de Santiago del Estero vinha cobrando a renúncia dos Juárez, em protestos detonados pelos assassinatos de Leyla Nazar, 22, e Patricia Villalba, 26. Um dos pivôs no chamado "duplo crime da Dársena" é o ex-chefe de inteligência da Província, hoje preso, Antonio Musa Azar, braço direito dos Juárez por décadas.
As pressões pela saída do casal aumentaram com a descoberta, nas dependências do Departamento de Informações da Polícia da Província, de mais de 40 mil pastas com dados de santiaguenhos, incluindo jornalistas, sindicalistas e religiosos, que vinham sendo espionados - supostamente a mando de Carlos Juárez.

Aliado de Kirchner
Apesar do tamanho da crise, Kirchner vinha evitando um envolvimento na questão, por considerar os riscos políticos muito altos e os ganhos, incertos.
O chefe-de-gabinete, Alberto Fernández, chegou a afirmar, há apenas dois meses, que não havia dados objetivos que justificassem uma intervenção.
Peronista como o presidente, Carlos Juárez foi um dos primeiros a apoiar a candidatura de Kirchner nas eleições do ano passado, quando este era praticamente desconhecido no cenário político nacional.
Kirchner designou o secretário nacional da Justiça, Pablo Lanusse, como interventor. Ele chegou ontem a Santiago del Estero e assumiu suas funções nos três Poderes da Província prometendo gestão "austera". O prazo da intervenção é de 180 dias, prorrogáveis por igual período.
A atual intervenção é a segunda na história de Santiago del Estero. A primeira foi em 1993, durante o governo de Carlos Menem (1989-1999), após graves episódios de revolta popular pelo atraso no pagamento dos salários de funcionários públicos.


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