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AMÉRICA LATINA
Carlos Juárez domina Santiago del Estero há 50 anos e, junto com a mulher, é acusado de vários crimes
Argentina intervém em Província e prende caudilho
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A SANTIAGO DEL ESTERO
O Congresso argentino aprovou
ontem uma intervenção federal
na Província de Santiago del Estero (norte), comandada há 50 anos
pelo caudilho Carlos Arturo Juárez e sua família -aliados do presidente Néstor Kirchner.
Poucas horas depois de definida
a intervenção, o juiz federal Angel
Toledo determinou a detenção de
Juárez e de sua mulher, Mercedes
"Nina" Aragonés de Juárez, até
ontem governadora da Província.
O casal deverá ser interrogado
na semana que vem. Por causa da
idade avançada -a governadora
tem 77 anos e seu marido, 87-,
eles vão permanecessem em prisão domiciliar, segundo o diário
"Clarín".
Sobre os dois pesam denúncias
que vão desde fraude até violações graves de direitos humanos.
O caudilho, por exemplo, é acusado de chefiar uma rede ilegal de
espionagem e de ter participado
da detenção, da tortura e do desaparecimento de pessoas durante
seu segundo governo (1973-1976)
e durante a última ditadura militar (1976-1983).
Justamente para evitar que ele
fosse processado, há pouco mais
de um mês a governadora nomeou o marido como secretário
da Economia, garantindo-lhe assim foro privilegiado.
Já Nina Aragonés sofre ações judiciais por fraude contra o Estado
-recebimento indevido de aposentadoria cumulativamente ao
salário de chefe de governo. É
acusada também de suposta incitação a um atentado contra um
deputado.
Além disso, um informe elaborado pelos ministérios de Direitos
Humanos e da Justiça apontou a
"incapacidade" da Justiça local de
esclarecer delitos vinculados ao
casal Juárez e práticas de repressão e impunidade na atuação das
forças de segurança.
Há cerca de um ano, a população de Santiago del Estero vinha
cobrando a renúncia dos Juárez,
em protestos detonados pelos assassinatos de Leyla Nazar, 22, e
Patricia Villalba, 26. Um dos pivôs
no chamado "duplo crime da
Dársena" é o ex-chefe de inteligência da Província, hoje preso,
Antonio Musa Azar, braço direito
dos Juárez por décadas.
As pressões pela saída do casal
aumentaram com a descoberta,
nas dependências do Departamento de Informações da Polícia
da Província, de mais de 40 mil
pastas com dados de santiaguenhos, incluindo jornalistas, sindicalistas e religiosos, que vinham
sendo espionados - supostamente a mando de Carlos Juárez.
Aliado de Kirchner
Apesar do tamanho da crise,
Kirchner vinha evitando um envolvimento na questão, por considerar os riscos políticos muito altos e os ganhos, incertos.
O chefe-de-gabinete, Alberto
Fernández, chegou a afirmar, há
apenas dois meses, que não havia
dados objetivos que justificassem
uma intervenção.
Peronista como o presidente,
Carlos Juárez foi um dos primeiros a apoiar a candidatura de
Kirchner nas eleições do ano passado, quando este era praticamente desconhecido no cenário
político nacional.
Kirchner designou o secretário
nacional da Justiça, Pablo Lanusse, como interventor. Ele chegou
ontem a Santiago del Estero e assumiu suas funções nos três Poderes da Província prometendo
gestão "austera". O prazo da intervenção é de 180 dias, prorrogáveis por igual período.
A atual intervenção é a segunda
na história de Santiago del Estero.
A primeira foi em 1993, durante o
governo de Carlos Menem (1989-1999), após graves episódios de
revolta popular pelo atraso no pagamento dos salários de funcionários públicos.
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