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A AGONIA DO PAPA
O cardeal Francesco Mario Pompedda, um dos poucos que tiveram acesso ao papa ontem, relatou seu encontro com o pontífice
"Seu olhar sereno se comunicava comigo"
DO "LA REPUBBLICA"
O cardeal Francesco Mario
Pompedda, presidente da Segnatura Apostolica (supremo tribunal do Vaticano), é uma das pouquíssimas pessoas que foram admitidas aos aposentos do papa na
manhã de ontem. Ele conta as impressões que lhe causou o pontífice, deitado em seu amplo leito
branco.
"Cheguei pouco depois do
meio-dia e fui recebido pelo monsenhor Stanislao. Percorrendo o
corredor que conduz ao quarto
do santo padre, nos detivemos
por um instante para rezar na capela", diz.
Pergunta - Cardeal Pompedda,
quais são as impressões que lhe ficaram de sua última visita aos aposentos de João Paulo 2º?
D. Francesco - A cama do papa
estava quase no meio do quarto,
uma cama larga com lençóis
brancos. Era tudo branco. O papa
estava deitado, apoiado em alguns travesseiros, meio curvado
sobre o flanco direito.
Pergunta - E o que se passou?
D. Francesco - O secretário me
apresentou: "Santo padre, o cardeal Pompedda", e o papa se voltou e olhou em minha direção.
Pergunta - Como estava o papa?
D.Francesco - Seus olhos estavam entrecerrados, mas não dormia. Quando meu nome foi dito,
abriu completamente os olhos.
Pergunta - E o sr.?
D. Francesco - Fiquei impressionado com a beleza daquele olhar
sorridente. Ele desejava claramente que eu notasse que me reconhecia.
Pergunta - Como Vossa Eminência reagiu?
D. Francesco - Ajoelhei-me ao lado da cama, apoiei meu braço no
dele e lhe disse, vagarosamente, o
quanto ele era me era caro.
Pergunta - O papa respondeu?
D. Francesco - Percebi que queria me saudar e que se esforçava
por dizer algumas palavras, mas
não conseguiu falar.
Pergunta - Conseguiu se fazer entender de alguma maneira?
D.Francesco- Seu olhar sorridente e sereno se comunicava comigo.
Pergunta - Realmente sereno?
D. Francesco - Sim, não mostrava sinal algum de sofrimento.
Ainda que sua respiração claramente indicasse desconforto, não
era um resfolegar doentio.
Pergunta - O que o sr. fez, então?
D. Francesco - Estava de joelhos e
exprimi a ele o meu afeto filial.
Queria que sentisse que eu estava
com ele e que orava com ele. Fiquei daquele jeito por alguns minutos, meu braço pousado sobre
o dele. Depois o monsenhor Dziwisz fez-me sinal de que era hora
de levantar. Evidentemente, não
queria que o papa se fatigasse.
Pergunta - O papa o saudou?
D. Francesco - Fez um gesto como se quisesse falar, mas não conseguia, mas continuava a me encarar com aquele olhar franco e
aberto.
Pergunta - O sr. refletiu sobre a
possibilidade de que aquele talvez
fosse seu último encontro íntimo
com o pontífice?
D. Francesco - Saí tomado de
uma grande emoção. Vê-lo daquele jeito, deitado no leito de lençóis brancos, me impressionou. E
aqueles olhos, que me acompanharam até que deixei o quarto!
Tradução de Paulo Migliacci
Copyright La Repubblica 2005
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