São Paulo, sábado, 02 de abril de 2005

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A AGONIA DO PAPA

João Paulo 2º é lembrado por seu papel na desintegração da União Soviética; fiéis lotam igrejas na Polônia e na América Latina

Rice louva ajuda do papa na queda do Muro

DA REDAÇÃO

A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, elogiou ontem o papel de João Paulo 2º na queda do bloco soviético. "O papa é um grande símbolo moral, assim como religioso", afirmou Rice.
"Ao observarmos o que ocorreu em 1989, 1990 e 1991, não se pode deixar de reconhecer a tremenda contribuição de João Paulo 2º para esses acontecimentos e, por conseqüência, para a liberdade", disse a secretária de Estado. A União Soviética se desintegrou, em 1991, em diversas repúblicas.
O presidente americano, George W. Bush, e sua mulher, Laura, estão rezando em favor do papa, informou ontem o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.
McClellan disse que Bush acompanha o estado de saúde do papa por meio da Embaixada dos EUA no Vaticano. Segundo a CNN, o presidente deve ir a Roma para os funerais.
Em Nova York, apenas a presença de equipes de TV e um fluxo maior de turistas indicavam a iminente morte do papa no ponto católico mais importante da cidade, a catedral de Saint Patrick.
A China, que não tem relações diplomáticas com o Vaticano, divulgou votos de recuperação.

Europa
Na Polônia, terra natal do papa, Lech Walesa, ex-presidente e fundador do movimento Solidariedade, também elogiou João Paulo 2º por seu papel na derrocada do comunismo. Disse que o país ainda precisava do pontífice.
Em Wadowice, cidade natal de Karol Wojtyla, poloneses rezavam ontem pelo papa na igreja que freqüentou quando criança. A basílica de Santa Maria, construída no século 15 em um parque perto da casa em que Wojtyla nasceu, foi tomada por fiéis.
Em toda a Polônia, escolas e escritórios se esvaziaram. "Nunca chorei na vida. Não vou à igreja. Não acredito em padres ou em Deus. Mas acredito no papa. Ele é um santo, entende as pessoas como eu e fala para nós. Nunca haverá outro como ele", disse Wojtek Wisniewski, 40, desempregado, ao deixar, chorando, a igreja.
Na Rússia, em que há supremacia da Igreja Ortodoxa (que se separou da católica romana em 1054), o arcebispo Tadeusz Kondrusiewicz rezou uma missa em intenção do papa. As tensões entre as igrejas aumentaram desde o colapso da URSS, o que impediu uma visita do papa à Rússia.
Já em Lourdes (França), destino da última viagem pastoral do papa -em agosto de 2004- antes que suas condições de saúde o impedissem de sair de Roma, cerca de 15 mil peregrinos já haviam passado pela cidade para rezar.
Na Itália, os partidos políticos cancelaram as manifestações políticas públicas que ocorreriam no país por ocasião das eleições regionais de 3 e 4 de abril.

América Latina
As cerimônias e manifestações pela saúde do pontífice se repetiram em todos os países da América Latina, onde vive cerca de metade da população mundial de católicos. Os fiéis argentinos acompanharam as condições de saúde do papa com orações e lágrimas.
Na catedral de Buenos Aires, uma pequena multidão assistiu à missa das 18h, desafiando a tempestade que deixou a cidade quase intransitável.
A poucos metros da catedral, na Casa Rosada, sede do governo argentino, o presidente Néstor Kirchner preparou carta de condolências para enviar ao Vaticano e anunciou que decretará luto oficial de três dias pela morte do papa. O presidente não pretende acompanhar os funerais.
A relação da Argentina, país católico, com o Vaticano atravessa crise de proporção inédita. Kirchner destituiu no mês passado o bispo militar, Antonio Baseotto. O Vaticano reagiu dizendo que poderá considerar a Argentina "sede impedida" para o exercício religioso, caso a decisão de Kirchner não seja revista.


Com agências internacionais, Fabiano Maisonnave, de Washington, Silvana Arantes, de Buenos Aires, e Pedro Dias Leite, de Nova York


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