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Cristina põe base na rua contra locaute
Piqueteiros pró-governo e militantes peronistas lotam praça de Maio; país proíbe exportação de carne
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
No 20º dia do locaute agropecuário que levou ao desabastecimento de alimentos em toda
a Argentina, a presidente Cristina Fernández de Kirchner fez
um novo pedido para que os
produtores agrícolas liberem as
estradas bloqueadas por piquetes há três semanas.
Desta vez, o chamado foi feito diante de milhares de manifestantes, entre grupos piqueteiros aliados à Casa Rosada e
movimentos peronistas, que se
reuniram na praça de Maio em
um ato de defesa e demonstração de força do governo.
No discurso, Cristina criticou os líderes agropecuários.
"Como se pode representar o
povo e orgulhar-se de desabastecê-lo?", indagou a presidente.
"Nunca vi tantos ataques a um
governo eleito pelo povo."
Essa foi a quarta fala da presidente em uma semana. Na terça-feira passada, um duro discurso de Cristina agravou o locaute, reação do setor agropecuário ao aumento de impostos
sobre a exportação de grãos.
Em rara declaração pública
desde que deixou o cargo, em
dezembro, o ex-presidente
Néstor Kirchner fez coro aos
discursos da mulher e sucessora, dizendo ontem à imprensa
que "a democracia não se discute com atos de extorsão".
Na praça de Maio, vários
"manifestantes" levavam pedaços de pau sem bandeiras. Policiais, de longe, informavam que
não agiriam por não terem recebido ordens para tanto.
Desabastecimento
Diante da escassez de alimentos, o governo decidiu ontem impedir temporariamente
as exportações de carne bovina
para garantir o abastecimento
interno. Falta carne em 90%
dos estabelecimentos do país.
Como alternativa às estradas
bloqueadas, algumas empresas,
como redes de supermercados,
começaram a alugar aviões da
Força Aérea argentina para
transportar mercadorias.
Embora se mostre "otimista"
em relação ao fim da paralisação agropecuária, o ministro do
Interior, Florencio Randazzo,
afirmou ontem que os ruralistas "têm o povo como refém" ao
impedir que os alimentos cheguem à população.
Os líderes das quatro principais entidades agrícolas, que
comandam o locaute, preferiram manter silêncio ontem. Na
segunda, o governo havia anunciado um pacote de medidas
compensatórias que não agradou aos ruralistas por ser voltado só aos pequenos produtores.
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