São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2008

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Cristina põe base na rua contra locaute

Piqueteiros pró-governo e militantes peronistas lotam praça de Maio; país proíbe exportação de carne

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

No 20º dia do locaute agropecuário que levou ao desabastecimento de alimentos em toda a Argentina, a presidente Cristina Fernández de Kirchner fez um novo pedido para que os produtores agrícolas liberem as estradas bloqueadas por piquetes há três semanas.
Desta vez, o chamado foi feito diante de milhares de manifestantes, entre grupos piqueteiros aliados à Casa Rosada e movimentos peronistas, que se reuniram na praça de Maio em um ato de defesa e demonstração de força do governo.
No discurso, Cristina criticou os líderes agropecuários. "Como se pode representar o povo e orgulhar-se de desabastecê-lo?", indagou a presidente. "Nunca vi tantos ataques a um governo eleito pelo povo."
Essa foi a quarta fala da presidente em uma semana. Na terça-feira passada, um duro discurso de Cristina agravou o locaute, reação do setor agropecuário ao aumento de impostos sobre a exportação de grãos.
Em rara declaração pública desde que deixou o cargo, em dezembro, o ex-presidente Néstor Kirchner fez coro aos discursos da mulher e sucessora, dizendo ontem à imprensa que "a democracia não se discute com atos de extorsão".
Na praça de Maio, vários "manifestantes" levavam pedaços de pau sem bandeiras. Policiais, de longe, informavam que não agiriam por não terem recebido ordens para tanto.

Desabastecimento
Diante da escassez de alimentos, o governo decidiu ontem impedir temporariamente as exportações de carne bovina para garantir o abastecimento interno. Falta carne em 90% dos estabelecimentos do país.
Como alternativa às estradas bloqueadas, algumas empresas, como redes de supermercados, começaram a alugar aviões da Força Aérea argentina para transportar mercadorias.
Embora se mostre "otimista" em relação ao fim da paralisação agropecuária, o ministro do Interior, Florencio Randazzo, afirmou ontem que os ruralistas "têm o povo como refém" ao impedir que os alimentos cheguem à população.
Os líderes das quatro principais entidades agrícolas, que comandam o locaute, preferiram manter silêncio ontem. Na segunda, o governo havia anunciado um pacote de medidas compensatórias que não agradou aos ruralistas por ser voltado só aos pequenos produtores.


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