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Alfonsín tem maior funeral desde Perón
Filas nas imediações do Congresso argentino, onde o corpo do presidente foi velado, superavam 20 quarteirões de extensão
Ao menos 300 mil pessoas comparecem a velório do líder da UCR; cerimônias terminam hoje com enterro no cemitério da Recoleta
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
No maior funeral de Estado
na Argentina desde o enterro
de Juan Domingo Perón, em
1974, centenas de milhares de
pessoas se despediram ontem,
em Buenos Aires, do presidente
Raúl Alfonsín (1983-1989). Alfonsín morreu na noite de anteontem, vítima de câncer, aos
82 anos. Símbolo da democracia argentina, foi o primeiro
mandatário eleito após a última ditadura militar no país vizinho (1976-1983).
Filas que superavam 20
quarteirões de extensão se formaram nas imediações do Congresso argentino, onde o corpo
de Alfonsín seria velado até a
manhã de hoje. A estimativa às
16h era que 300 mil pessoas já
haviam passado pelo local.
Como o estudante de direito
Gastón Colazo, 21. Abraçado a
uma bandeira da UCR (União
Cívica Radical), o partido de Alfonsín, viajou 710 km desde
Córdoba para a cerimônia. "Somos filhos da democracia e temos de lutar para mantê-la."
As homenagens começaram
na noite anterior, com centenas de pessoas concentradas
em frente ao apartamento de
classe média em que Alfonsín já
vivia antes da Presidência. Não
faltaram velas no asfalto, bandeiras alvirrubras -as cores da
UCR- e críticas ao governo peronista de Cristina Kirchner.
Stela Aguero, 41, segurava
um cartaz original da campanha de 1983. Tinha apenas 16
anos à época, mas já militava no
radicalismo. "Os discursos de
Alfonsín me arrepiavam."
Pelo velório passaram políticos argentinos de todas as extrações, como os ex-presidentes Néstor Kirchner, peronista,
e Fernando de la Rúa, da UCR.
Os ex-presidentes brasileiros
Fernando Henrique Cardoso e
José Sarney também estiveram
no local. Kirchner elogiou o caráter "politicamente incorreto"
de Alfonsín, referência às suas
posições pouco alinhadas com
a ortodoxia partidária.
Sarney, presidente do Senado e contemporâneo de Alfonsín na Presidência, foi o representante oficial brasileiro nas
cerimônias, que terminam hoje, com enterro no cemitério da
Recoleta. De Londres, onde
participa da reunião do G20, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse que Alfonsín foi um
"interlocutor e amigo". "Artesão da aliança Argentina-Brasil, Alfonsín deixa a lembrança
de um homem de diálogo com
profundas concepções democráticas", afirmou.
A presidente Cristina Kirchner, que também está em Londres, antecipou sua volta de sábado para amanhã, para se encontrar com a família de Alfonsín. A última manifestação pública do ex-presidente, divulgada em carta, foi uma crítica à
antecipação pelo governo, em
quatro meses, das eleições legislativas, com a justificativa de
encurtar o debate político em
meio à crise econômica.
Para Alfonsín, a medida "não
contribui" para resolver "preocupantes temas institucionais,
sociais e econômicos que agoniam" a Argentina.
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