São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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Alfonsín tem maior funeral desde Perón

Filas nas imediações do Congresso argentino, onde o corpo do presidente foi velado, superavam 20 quarteirões de extensão

Ao menos 300 mil pessoas comparecem a velório do líder da UCR; cerimônias terminam hoje com enterro no cemitério da Recoleta


THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES

No maior funeral de Estado na Argentina desde o enterro de Juan Domingo Perón, em 1974, centenas de milhares de pessoas se despediram ontem, em Buenos Aires, do presidente Raúl Alfonsín (1983-1989). Alfonsín morreu na noite de anteontem, vítima de câncer, aos 82 anos. Símbolo da democracia argentina, foi o primeiro mandatário eleito após a última ditadura militar no país vizinho (1976-1983).
Filas que superavam 20 quarteirões de extensão se formaram nas imediações do Congresso argentino, onde o corpo de Alfonsín seria velado até a manhã de hoje. A estimativa às 16h era que 300 mil pessoas já haviam passado pelo local.
Como o estudante de direito Gastón Colazo, 21. Abraçado a uma bandeira da UCR (União Cívica Radical), o partido de Alfonsín, viajou 710 km desde Córdoba para a cerimônia. "Somos filhos da democracia e temos de lutar para mantê-la."
As homenagens começaram na noite anterior, com centenas de pessoas concentradas em frente ao apartamento de classe média em que Alfonsín já vivia antes da Presidência. Não faltaram velas no asfalto, bandeiras alvirrubras -as cores da UCR- e críticas ao governo peronista de Cristina Kirchner.
Stela Aguero, 41, segurava um cartaz original da campanha de 1983. Tinha apenas 16 anos à época, mas já militava no radicalismo. "Os discursos de Alfonsín me arrepiavam."
Pelo velório passaram políticos argentinos de todas as extrações, como os ex-presidentes Néstor Kirchner, peronista, e Fernando de la Rúa, da UCR. Os ex-presidentes brasileiros Fernando Henrique Cardoso e José Sarney também estiveram no local. Kirchner elogiou o caráter "politicamente incorreto" de Alfonsín, referência às suas posições pouco alinhadas com a ortodoxia partidária.
Sarney, presidente do Senado e contemporâneo de Alfonsín na Presidência, foi o representante oficial brasileiro nas cerimônias, que terminam hoje, com enterro no cemitério da Recoleta. De Londres, onde participa da reunião do G20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Alfonsín foi um "interlocutor e amigo". "Artesão da aliança Argentina-Brasil, Alfonsín deixa a lembrança de um homem de diálogo com profundas concepções democráticas", afirmou.
A presidente Cristina Kirchner, que também está em Londres, antecipou sua volta de sábado para amanhã, para se encontrar com a família de Alfonsín. A última manifestação pública do ex-presidente, divulgada em carta, foi uma crítica à antecipação pelo governo, em quatro meses, das eleições legislativas, com a justificativa de encurtar o debate político em meio à crise econômica.
Para Alfonsín, a medida "não contribui" para resolver "preocupantes temas institucionais, sociais e econômicos que agoniam" a Argentina.


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