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IRAQUE OCUPADO
Presidente faria discurso anunciando fim das grandes operações militares no Iraque; Cheney exalta campanha
Bush anuncia "avanço" na guerra ao terror
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Os Estados Unidos anunciaram
ontem o fim das operações militares de maior porte no Iraque.
Segundo o vice-presidente,
Dick Cheney, a ação americana
que derrubou o regime de Saddam Hussein foi "uma das campanhas de maior êxito militar jamais empreendida".
Às 21h (22h em Brasília), o presidente George W. Bush também
faria um pronunciamento à nação, à bordo de um porta-aviões
no Pacífico, declarando o fim dos
combates em solo iraquiano.
"Temos ainda um trabalho
muito difícil no Iraque. Ficaremos
até que ele seja concluído", diria
Bush, segundo trechos do discurso divulgados antecipadamente
pela Casa Branca.
"Estamos perseguindo e identificando líderes do antigo regime e
começamos uma busca por armas químicas e biológicas. Temos
uma lista de centenas de locais a
serem investigados."
O discurso reforçaria também a
principal bandeira política do
presidente americano.
"Do Paquistão e das Filipinas ao
norte da África, estamos perseguindo os assassinos da Al Qaeda.
A libertação do Iraque é um avanço crucial na guerra contra o terror", diria Bush.
Com duas vitórias militares na
bagagem (Afeganistão, em 2001, e
Iraque) e às vésperas de sua campanha pela reeleição em 2004,
Bush chegou ao porta-aviões USS
Abraham Lincoln, a 150 km da
costa da Califórnia, a bordo de
um avião militar e vestido como
piloto.
Embora a Casa Branca tenha dito que se tratava de uma homenagem aos militares que passaram
dez meses na região do golfo Pérsico, muitos viram o gesto como a
oportunidade para Bush registrar
cenas que serão usadas em sua
campanha à reeleição.
Ao chegar ao navio, na tarde de
ontem, Bush, com um capacete
embaixo do braço, afirmou: "Sim,
eu o pilotei. E claro que gostei disso". Bush voou até o USS Abraham Lincoln a bordo de um S-3B
Viking, um turbo-hélice de quatro lugares usado em missões de
reconhecimento e detecção de alvos para ataques.
Em principio, Bush, que é ex-piloto da Guarda Aérea Nacional do
Texas, queria ir ao porta-aviões a
bordo de um caça F-18, de apenas
dois tripulantes. Foi dissuadido e
viajou no S-3B Viking, o modelo
com o menor histórico de acidentes da Marinha americana, acompanhado de dois pilotos e de um
agente do serviço secreto.
A aterrissagem no porta-aviões
foi feita com a ajuda de cabos de
aço para frear a aeronave, que
desceu a uma velocidade de 225
km/h e teve de parar em menos de
120 metros.
Apesar da cerimônia de ontem,
os EUA não devem declarar oficialmente o fim da guerra, iniciada em 20 de março, já que o país
continuará ocupando militarmente o Iraque, onde enfrenta resistência localizada.
Pela Convenção de Genebra,
um anúncio oficial implicaria
também a devolução de prisioneiros capturados e o fim da tentativa de eliminar alguns líderes iraquianos, como Saddam Hussein e
seus dois filhos.
O pronunciamento do presidente americano ontem marcaria
o fim de um ciclo de seis semanas
desde o início da guerra.
Nesse curto período, foi consolidada a hegemonia dos chamados "falcões" da administração
Bush, as Nações Unidas continuaram tendo um papel secundário
no episódio e os EUA aprofundaram ainda mais as divergências
com os países que eram contra a
ação contra Saddam.
Hoje pela manhã, Bush voltaria
de helicóptero para a terra firme,
onde o aguarda, apesar das duas
guerras vencidas, um front econômico interno capaz de derrubar seus planos de se reeleger à
Presidência dos EUA.
Sem muitas alternativas para
reerguer neste ano a economia
americana, que projeta um crescimento medíocre de 2,2%, os próximos 18 meses da gestão Bush
devem ser marcados por uma série de iniciativas para fazer durar
ao máximo as conquistas e a retórica da guerra ao terror.
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