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São Paulo, sexta-feira, 02 de maio de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Presidente faria discurso anunciando fim das grandes operações militares no Iraque; Cheney exalta campanha

Bush anuncia "avanço" na guerra ao terror

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Os Estados Unidos anunciaram ontem o fim das operações militares de maior porte no Iraque.
Segundo o vice-presidente, Dick Cheney, a ação americana que derrubou o regime de Saddam Hussein foi "uma das campanhas de maior êxito militar jamais empreendida".
Às 21h (22h em Brasília), o presidente George W. Bush também faria um pronunciamento à nação, à bordo de um porta-aviões no Pacífico, declarando o fim dos combates em solo iraquiano.
"Temos ainda um trabalho muito difícil no Iraque. Ficaremos até que ele seja concluído", diria Bush, segundo trechos do discurso divulgados antecipadamente pela Casa Branca.
"Estamos perseguindo e identificando líderes do antigo regime e começamos uma busca por armas químicas e biológicas. Temos uma lista de centenas de locais a serem investigados."
O discurso reforçaria também a principal bandeira política do presidente americano.
"Do Paquistão e das Filipinas ao norte da África, estamos perseguindo os assassinos da Al Qaeda. A libertação do Iraque é um avanço crucial na guerra contra o terror", diria Bush.
Com duas vitórias militares na bagagem (Afeganistão, em 2001, e Iraque) e às vésperas de sua campanha pela reeleição em 2004, Bush chegou ao porta-aviões USS Abraham Lincoln, a 150 km da costa da Califórnia, a bordo de um avião militar e vestido como piloto.
Embora a Casa Branca tenha dito que se tratava de uma homenagem aos militares que passaram dez meses na região do golfo Pérsico, muitos viram o gesto como a oportunidade para Bush registrar cenas que serão usadas em sua campanha à reeleição.
Ao chegar ao navio, na tarde de ontem, Bush, com um capacete embaixo do braço, afirmou: "Sim, eu o pilotei. E claro que gostei disso". Bush voou até o USS Abraham Lincoln a bordo de um S-3B Viking, um turbo-hélice de quatro lugares usado em missões de reconhecimento e detecção de alvos para ataques.
Em principio, Bush, que é ex-piloto da Guarda Aérea Nacional do Texas, queria ir ao porta-aviões a bordo de um caça F-18, de apenas dois tripulantes. Foi dissuadido e viajou no S-3B Viking, o modelo com o menor histórico de acidentes da Marinha americana, acompanhado de dois pilotos e de um agente do serviço secreto.
A aterrissagem no porta-aviões foi feita com a ajuda de cabos de aço para frear a aeronave, que desceu a uma velocidade de 225 km/h e teve de parar em menos de 120 metros.
Apesar da cerimônia de ontem, os EUA não devem declarar oficialmente o fim da guerra, iniciada em 20 de março, já que o país continuará ocupando militarmente o Iraque, onde enfrenta resistência localizada.
Pela Convenção de Genebra, um anúncio oficial implicaria também a devolução de prisioneiros capturados e o fim da tentativa de eliminar alguns líderes iraquianos, como Saddam Hussein e seus dois filhos.
O pronunciamento do presidente americano ontem marcaria o fim de um ciclo de seis semanas desde o início da guerra.
Nesse curto período, foi consolidada a hegemonia dos chamados "falcões" da administração Bush, as Nações Unidas continuaram tendo um papel secundário no episódio e os EUA aprofundaram ainda mais as divergências com os países que eram contra a ação contra Saddam.
Hoje pela manhã, Bush voltaria de helicóptero para a terra firme, onde o aguarda, apesar das duas guerras vencidas, um front econômico interno capaz de derrubar seus planos de se reeleger à Presidência dos EUA.
Sem muitas alternativas para reerguer neste ano a economia americana, que projeta um crescimento medíocre de 2,2%, os próximos 18 meses da gestão Bush devem ser marcados por uma série de iniciativas para fazer durar ao máximo as conquistas e a retórica da guerra ao terror.


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