São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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A EUROPA DOS 25

Líderes e populações comemoram a expansão da UE, que passou a integrar países que fizeram parte do antigo bloco soviético

Europa unida sepulta divisão do pós-guerra

MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A VARSÓVIA

Líderes europeus e centenas de milhares de pessoas celebraram ontem no leste e no oeste da Europa a entrada de dez novos membros na União Européia, levando para 25 o total dos membros do bloco e enterrando de vez a divisão da Guerra Fria entre comunistas a leste e capitalistas a oeste surgida no final da Segunda Guerra Mundial (1939-45).
A adesão da Polônia (maior dos novos países da UE) foi vista como a concretização de um sonho de meio século. "Trata-se da realização de um sonho que, durante décadas, não acreditei que pudéssemos atingir. Estou quase chorando de tanta emoção e sinto muito que meus pais não estejam aqui para viver este momento histórico", afirmou o presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski, em conversa com a Folha concedida após o término da cerimônia oficial, na madrugada de ontem, realizada na praça Pilsudskiego -ao lado do túmulo do soldado desconhecido.
Cenas de júbilo marcaram as festas ontem de norte a sul, de leste a oeste do continente.
Em Dublin, capital da Irlanda, país que preside atualmente a UE, chefes de Estado e de governo dos novos e velhos membros do bloco se reuniram no primeiro encontro de cúpula da união expandida.
"O Primeiro de Maio é um dia de esperança e oportunidade", disse o premiê irlandês, Bertie Ahern. "Aos povos europeus que estão se juntando a nós hoje, estendo minha mão de amizade... centenas, milhares de boas vindas", disse Ahern.
Na fronteira comum entre Alemanha, República Tcheca e Polônia, líderes dos três países celebraram o momento histórico antes de rumarem a Dublin. "A divisão do continente e a separação de seus cidadãos finalmente acabou", disse o chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder.
"Os povos da Europa Central e Oriental são novamente parte da família européia", acrescentou.

Polônia
Mas em Varsóvia, até entre os entusiastas da UE houve vozes de descontentamento. "Fomos obrigados a atravessar mais de 40 anos de jugo soviético para chegar até aqui. Contudo é uma vergonha que um momento tão belo seja protagonizado pelos atuais políticos poloneses, que, em grande parte, participaram do regime que apoiava Moscou", afirmou Jerzy, 65, que não quis revelar seu sobrenome.
O presidente Kwasniewski foi ministro dos Esportes durante o regime comunista polonês, e o premiê Leszek Miller fazia parte do comitê central do partido.
Logo após o final dessa cerimônia oficial, as atenções do público foram transferidas para a praça situada em frente ao Castelo Real, onde foi realizado um evento em que se apresentaram músicos, cantores e dançarinos dos dez novos países da UE. Ao lado do palco, as pessoas podiam observar, num enorme telão, o que ocorria simultaneamente em Berlim, capital alemã, onde houve um espetáculo similar.
Na praça do Castelo, o número de presentes foi bem mais elevado, cerca de 30 mil pessoas, e o ambiente foi menos formal e mais popular. Ainda assim, pequenos grupos de manifestantes antiglobalização tentaram se fazer ouvir, porém não tiveram sucesso.
Na manhã de ontem, vários políticos dos países da UE participaram de um "café da manhã europeu", que foi organizado pela Fundação Robert Schuman. Este foi um dos responsáveis pela criação do bloco quando era chanceler francês, na década de 50.
"É claro que vivo um momento de sonho, pois lutei com todas as minhas forças para chegar aqui. Todavia devemos lembrar que é muito mais fácil lutar contra um regime que detestamos do que conseguir consolidar um que apoiamos", salientou Bronislaw Geremek, ex-chanceler polonês (1997-2000) e um dos arquitetos da adesão do país à UE.
O deputado francês François Bayrou (centro-direita) também expressou contentamento. "Sempre militei pela expansão da UE e fiz questão de vir à Polônia para demonstrar minha alegria com a entrada desse grande país no bloco europeu."


Com agências internacionais


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