São Paulo, domingo, 02 de maio de 2004

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Políticas externa e de segurança comuns desafiam o bloco europeu

Peter Macdiarmid/Reuters
Mulheres vestidas com cores da bandeira da UE celebram expansão em Dublin, na Irlanda


DO ENVIADO ESPECIAL A VARSÓVIA

A Política Externa e de Segurança Comum da União Européia será um dos maiores desafios do bloco no futuro próximo. Mas a adesão de dez novos países à UE, incluindo oito do antigo bloco comunista, não deverá, ao menos no início, ter grande impacto sobre a intenção européia de dotar-se de diretivas comuns nessa área.
Conforme salientaram especialistas consultados pela Folha, a concepção da Pesc já era bastante complexa quando o bloco ainda contava com apenas 15 membros. "É muito difícil harmonizar posições numa área ligada à soberania nacional. A defesa e a política externa são dois pilares de qualquer Estado independente", apontou Michael Kreile, da Universidade Humboldt (Berlim).
"Além disso, qualquer veleidade européia de montar uma força militar independente depende hoje da Otan [aliança militar ocidental], pois o bloco europeu não seria ainda capaz de agir de forma autônoma por conta do pouco que investe nessa área. E um auxílio da Otan a uma força militar européia independente só seria plausível se os EUA aprovassem a criação dessa força", acrescentou.
"Assim, se a posição americana for favorável, a força realmente será criada. E, mesmo nesse caso, a UE nunca poderá fazer algo que atrapalhe os interesses e os objetivos americanos se não passar a investir maciçamente em segurança. Na realidade, a Pesc depende totalmente das relações dos EUA com a Europa", concluiu Kreile.
Vale lembrar que, no ano fiscal que começa em outubro deste ano, os gastos militares americanos previstos no Orçamento serão de US$ 402 bi (sem contar gastos com o Afeganistão e o Iraque): um montante superior aos gastos militares de toda a Europa.
Para exacerbar a enorme diferença existente entre os EUA e a Europa, a maioria da população européia é contrária a uma elevação dos gastos militares. Mesmo assim, as maiores potências militares européias (o Reino Unido e a França) estão avançando na direção da criação de uma força de reação rápida, que teria entre 30 mil e 60 mil homens e seria capaz de responder a crises no continente africano ou em outras zonas de conflito perto da Europa.
De acordo com Charles Kupchan, diretor de estudos europeus do Council on Foreign Relations (Washington), contudo, se mantida, a atual política externa americana acabará fazendo que os europeus (que apresentaram graves divisões no ano passado, antes da Guerra do Iraque) "se reúnam ao menos em torno de uma política externa comum, podendo até atrair a Rússia para o bloco nas próximas décadas". (MSM)


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