São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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ESTRANHOS NO PARAÍSO

Protesto em várias cidades dos EUA visa pressionar o Senado, que pode aprovar lei dura contra ilegais

Milhares aderem ao "Dia sem Imigrantes"

Nam Y. Huh/Associated Press
Multidão segurando bandeiras dos vários países de origem dos manifestantes participa de protesto em Chicago, que reuniu aproximadamente 400 mil pessoas, como parte do "Dia sem Imigrantes"

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Num protesto batizado "Um Dia sem Imigrantes", milhares de pessoas tomaram as ruas das grandes cidades dos Estados Unidos, principalmente de Chicago, em Illinois, Houston, no Texas, e Los Angeles, na Califórnia. O chamado dos organizadores era para que essa fatia da população boicotasse as atividades econômicas do país por 24 horas.
Em Los Angeles, segundo a polícia, duas manifestações reuniram mais de 600 mil pessoas. Em Chicago, cerca de 400 mil pessoas foram às ruas, também pelos cálculos da polícia. Em Washington, milhares se reuniram em frente ao Capitólio, sede do poder legislativo, e parte dos restaurantes e bares permaneceu fechada.
A idéia era fazer sentir o peso econômico dos imigrantes num momento em que o Senado estuda endurecer a lei sobre a entrada de estrangeiros para trabalhar no país. Cerca de 12 milhões de ilegais vivem nos EUA, a maioria de mexicanos; deste total, 7,9 milhões trabalham e chegam a movimentar US$ 1,2 bilhão por dia.
A ação foi bem-sucedida apenas parcialmente. A face mais visível do comércio e da indústria não sofreu grandes paralisações. As empresas que pararam fizeram acordo prévio com os trabalhadores e consideraram a segunda-feira como folga. O 1º de Maio não é feriado nos EUA; o Dia do Trabalho é celebrado em setembro.
Em Las Vegas, os cassinos funcionaram com metade do pessoal. O mesmo ocorreu em algumas empresas da indústria alimentícia, como a Perdue Farms, de frango, e a Tyson Foods, de gado e suínos. "Conseguimos mostrar que, unidos, podemos forçar as mudanças na lei", disse Julie Rodriguez, do Sindicato do dos Trabalhadores Agrícolas.
Em Chicago, o senador Barack Obama afirmou que muitos não aceitam os direitos dos imigrantes. "Há muito medo por aí", disse o democrata negro. "Existem aqueles que querem voltar no tempo. Temos de convencê-los de que nosso futuro será melhor unidos do que divididos."
O Senado estuda uma lei proposta pelos senadores Ted Kennedy, democrata, e John McCain, republicano, que prevê reforço da segurança nas fronteiras, mas que os ilegais que já estão no país sejam beneficiados por uma espécie de "anistia", embora nenhum dos partidos use a palavra.
Assim, os trabalhadores poderiam permanecer se legalizassem seus documentos, pagassem impostos atrasados e multas, aprendessem inglês e não cometessem crimes. Novos imigrantes seriam aceitos segundo uma quota anual ou com vistos temporários. A proposta, menos dura que o projeto aprovado em dezembro na Câmara, tem a simpatia de George W. Bush.
O presidente está em momento delicado. Com a aprovação em queda recorde, enfrenta problemas no front externo, com a guerra no Iraque e a escalada nuclear no Irã, e interno, com o aumento do preço dos combustíveis e uma eleição, em novembro, que renovará parte do Congresso.
De acordo com pesquisa da semana passada da emissora NBC e do jornal "Wall Street Journal", 55% dos hispânicos que pretendem votar escolherão democratas. Já levantamento da CNN mostra que 77% da população americana apóia uma lei mais branda em relação aos ilegais.
Os dias que antecederam a manifestação de ontem, originada do argumento de um filme de Sergio Arau de 2004, "Um Dia sem Mexicanos", por sua vez baseado no clássico anti-racismo Homem Invisível" (1952), de Ralph Ellison, foram de guerra de nervos entre líderes imigrantes e políticos conservadores.


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