São Paulo, domingo, 02 de maio de 2010

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ANÁLISE

Chávez aproveita público fresco para "los cuentos"

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Na Venezuela, quando alguém tenta te enrolar, diz-se que está falando "pura paja [palha]". Mandatário do país em que a retórica e a realidade andam bem distantes, Hugo Chávez é o campeão da categoria.
O país lida há meses com racionamento de energia, Caracas virou a capital mais violenta da América Latina, e a economia registra estagflação pelo segundo ano consecutivo. E qual é a nova de Chávez? Sua conta no Twitter, para despejar "micropajas".
Quando viaja pelo mundo, Chávez aproveita um público mais fresco para "los cuentos", já que seus seguidores e opositores podem recitar de memória suas histórias de infância.
Fora da Venezuela, há espaço para "pajas" que Chávez dificilmente diria em casa. Por exemplo, que só nacionaliza "setores estratégicos". Ora, em fevereiro, ao vivo, no centro de Caracas, ele saiu apontando o dedo a edifícios enquanto ordenava "exproprie-se". Entre os prédios havia joalherias, algumas abertas havia 40 anos.
Em meio a "pajas" e "cuentos", um deslize ao falar da imprensa no país: citou o Twitter, sua coluna, as intermináveis cadeias obrigatórias - pura comunicação unilateral.
Mas Chávez tem razão num aspecto: apesar do acosso, há liberdade de expressão nos meios privados. Liberdade que inexiste nos meios oficiais, onde ele é mais idolatrado que Cristo num culto evangélico. Mas talvez seja esta sua aposta: como diz o jornalista venezuelano Xabier Coscojuela, acreditar em socialismo do século 21 a esta altura do campeonato é puramente uma questão de fé.

O autor foi correspondente da Folha em Caracas de março de 2007 a março de 2010



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