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ANÁLISE
Chávez aproveita público fresco para "los cuentos"
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
Na Venezuela, quando alguém tenta te enrolar, diz-se
que está falando "pura paja [palha]". Mandatário do país em
que a retórica e a realidade andam bem distantes, Hugo Chávez é o campeão da categoria.
O país lida há meses com racionamento de energia, Caracas virou a capital mais violenta
da América Latina, e a economia registra estagflação pelo
segundo ano consecutivo. E
qual é a nova de Chávez? Sua
conta no Twitter, para despejar
"micropajas".
Quando viaja pelo mundo,
Chávez aproveita um público
mais fresco para "los cuentos",
já que seus seguidores e opositores podem recitar de memória suas histórias de infância.
Fora da Venezuela, há espaço
para "pajas" que Chávez dificilmente diria em casa. Por exemplo, que só nacionaliza "setores
estratégicos". Ora, em fevereiro, ao vivo, no centro de Caracas, ele saiu apontando o dedo a
edifícios enquanto ordenava
"exproprie-se". Entre os prédios havia joalherias, algumas
abertas havia 40 anos.
Em meio a "pajas" e "cuentos", um deslize ao falar da imprensa no país: citou o Twitter,
sua coluna, as intermináveis
cadeias obrigatórias - pura comunicação unilateral.
Mas Chávez tem razão num
aspecto: apesar do acosso, há liberdade de expressão nos
meios privados. Liberdade que
inexiste nos meios oficiais, onde ele é mais idolatrado que
Cristo num culto evangélico.
Mas talvez seja esta sua aposta:
como diz o jornalista venezuelano Xabier Coscojuela, acreditar em socialismo do século 21 a
esta altura do campeonato é
puramente uma questão de fé.
O autor foi correspondente da Folha em Caracas
de março de 2007 a março de 2010
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