São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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9h01, 104º andar, torre norte, Uma hora e 27 minutos antes do desabamento

Dois andares apenas abaixo do Windows on the World, o desastre avançou num ritmo estranhamente compassado, obscurecendo o clima de emergência. A sala de conferências noroeste, no 104º andar, continha apenas um dos vários grandes grupos de pessoas que estavam nos cinco andares da torre ocupados pela Cantor Fitzgerald. Ali, a fumaça não se adensou tão rapidamente quanto no Windows. O choque do impacto e o incêndio não tiveram um efeito devastador tão imediato quanto alguns andares abaixo, na Marsh & McLennan.
Na verdade, o corretor de ações Andrew Rosenblum, que trabalhava para a Cantor, achou que seria boa idéia tranquilizar as famílias. Com sua mulher, Jill, ouvindo pelo telefone desde a casa do casal, em Rockville Centre, Nova York, ele anunciou para a sala toda: ""Dêem-me os números de suas casas", recorda sua mulher.
""Tim Betterly", disse Rosenblum no celular, ditando um número de telefone em seguida. ""James Ladley." Outro número.
À medida que a lista foi crescendo, Rosenblum foi se dando conta de que 40 ou 50 colegas estavam na sala, tendo fugido da fumaça. ""Por favor, ligue para as mulheres ou os maridos deles, diga que estamos dentro dessa sala de conferências e que estamos bem", disse ele a sua mulher. Ela se recorda de ter anotado os nomes e números num bloco de anotações amarelo em sua cozinha, enquanto as torres em chamas apareciam num televisor de 13 polegadas posicionado num vão perto da porta dos fundos da casa.
Jill Rosenblum entregou pedaços do papel com os números a amigos e amigas que apareceram em sua casa. Eles foram a seu quintal dos fundos, cheio de plantas ou ao gramado na frente da casa telefonar para as famílias com seus celulares.
O grupo de Rosenblum, que incluía Jimmy Smith, John Salamone e John Schwartz, ficou sentado no lado oriental da área de corretagem de títulos, uma das áreas abertas, segundo John Sanacore, um membro do grupo que não tinha ido trabalhar naquele dia. O local oferecia ampla vista do Empire State Building.
Outros corretores se reuniram do lado oposto à área em que estavam, com vista para o rio Hudson. John Gaudioso, que normalmente trabalhava naquele setor, mas que naquela manhã tinha saído para jogar golfe, recorda que Ian Schneider ocupava a primeira de uma fileira de mesas e chefiava o grupo de finanças globais. Michael Wittenstein, John Casazza e Michael DeRienzo estavam todos naquela área e, como Schneider, estavam usando telefones fixos em suas mesas para receber ligações de clientes, familiares e pessoas queridas preocupadas, de acordo com seis pessoas que falaram com eles. ""O prédio balançou como nunca", contou Schneider, que estava no WTC durante o atentado de 1993, em telefonema a sua mulher, Cheryl.
Na área de corretagem de ações, na parte sul do 104º andar, com vista para a Estátua da Liberdade, havia um terceiro grupo. Ali, Stephen Cherry e Marc Zeplin pressionaram um botão em sua mesa para ativar uma linha de intercomunicação em viva-voz com todos os outros escritórios da Cantor no país. ""Tem alguém ouvindo?", perguntou Cherry. Uma corretora de ações de Chicago que estava na escuta contou que conseguiu falar com bombeiros próximos ao WTC. ""Eles sabem que vocês estão aí", disse a corretora.
Mike Pelletier, corretor de commodities da Cantor no 105º andar, conseguiu falar com sua mulher, Sophie Pelletier, e com um amigo que lhe disse que o desastre tinha sido um ataque terrorista. Ao saber, soltou um palavrão.
Em Rockville Center, no gramado de frente da casa dos Rosenblum, Debbie Cohen discou os números que estavam nos pedaços de papel amarelo que Jill Rosenblum lhe entregara. ""Alô. Você não me conhece, mas quem me deu seu número foi uma pessoa que está no World Trade Center", ela disse. ""Mais ou menos 50 deles estão numa sala de conferências de canto e falaram que estão bem neste momento."


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