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MISSÃO NO CARIBE
Militares brasileiros assumem comando da missão de paz da ONU, cujas tropas ainda não estão completas
Brasil espera "desarmar espíritos" no Haiti
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO HAITI
Mesmo com as forças da ONU
ainda muito fracas no país, o Brasil assumiu ontem o comando da
força de paz da ONU no Haiti -é
a primeira vez que brasileiros lideram uma missão desse tipo.
"Mais importante do que o desarmamento físico, é preciso haver o desarmamento dos espíritos", disse, em francês, o general-de-divisão brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que assumiu
o comando da força de paz, substituta de uma força multinacional
interina liderada pelos Estados
Unidos -França, Chile e Canadá
também participam.
Chegaram ontem, em aviões C-130 da FAB, mais 150 militares
brasileiros -do Exército e do
Corpo de Fuzileiros Navais- à
capital, Porto Príncipe. Entre eles
está o general-de-brigada Américo Salvador, que comandará o
contingente brasileiro. Também
chegou um avião com mais soldados chilenos, 300 dos quais já integravam a força interina.
A cerimônia em que a liderança
da missão passou às mãos dos
brasileiros teve discursos do presidente haitiano, Alexandre Boniface, do primeiro-ministro, Gérard Latortue, e de Reginald Dumas, enviado do secretário-geral
da ONU, Kofi Annan.
Dumas ressaltou a necessidade
de "diálogo e reconciliação" no
país. O ex-presidente haitiano
Jean-Bertrand Aristide foi derrubado por uma revolta no começo
do ano e exilou-se.
A rebelião teve líderes de vários
tipos, entre eles antigos chefes de
esquadrões da morte ligados aos
militares que depuseram Aristide
pela primeira vez, em 1991 -ele
foi reconduzido ao poder por
ação dos EUA em 1994.
Os protestos que derrubaram
Aristide agora foram motivados
pelas suspeitas de fraude na sua
reeleição, em 2000, por sua perseguição a adversários políticos e
pela crônica crise econômica.
Aristide diz que renunciou por
pressão dos EUA e da França.
"É preciso que todos os setores
da sociedade participem do processo", disse Dumas, em um sutil
puxão de orelha nos políticos haitianos.
Trata-se da segunda missão da
ONU no país em uma década, algo que foi lembrado pelo próprio
premiê Latortue. A atual tem também um componente policial, de
desenvolvimento de instituições
políticas e de apoio ao desenvolvimento econômico.
"Não consigo imaginar o tamanho da devastação se não fosse a
rapidez da intervenção da força
multilateral interina", disse ele,
que ressaltou a necessidade de desarmamento da população e do
combate ao "tráfico ilícito".
Para Latortue, a "raiz do mal"
no país é a pobreza. Para observadores estrangeiros, outro "mal" é
a corrupção endêmica.
O general Heleno lembrou que
2004 é o ano do bicentenário da
independência do Haiti e que as
forças da ONU não são de ocupação, mas "estão aqui para ajudar".
Depois da cerimônia, a banda
haitiana tocou o hino do Exército
do Brasil, deixando comovidos os
militares brasileiros presentes.
Os brasileiros logo em seguida
foram vistoriar os locais para o estabelecimento da base permanente, segundo o planejamento da
ONU. Os militares estão preocupados, pois em 15 dias devem chegar mais mil homens e é preciso
estabelecer acantonamento para
eles. Os primeiros locais examinados ontem não tinham tamanho
para comportar todo o material
da força de paz.
A ONU autorizou um total de
6.700 militares e 1.622 policiais,
mas, em junho, apenas os 1.200
brasileiros e 600 chilenos terão
chegado, além dos 500 canadenses que devem permanecer. São
esperadas tropas da Argentina, do
Uruguai e do Paraguai.
Hoje há uma preocupação mais
imediata -tentar achar um meio
para assistir ao jogo entre Brasil e
Argentina em instalações provisórias que ainda não têm TV.
Os poucos brasileiros que saíram às ruas ontem eram cumprimentados efusivamente pelos
haitianos, cuja maioria deve torcer para o Brasil hoje.
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