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Análise
"Modelo líbio" inspira mudança tática dos EUA
GUY DINSMORE
DO "FINANCIAL TIMES"
Para decidir sobre uma
mudança política que poderia oferecer ao Irã a chance
de um diálogo amplo, o primeiro desde a Revolução Islâmica de 1979, o governo
Bush está refletindo sobre
duas experiências similares
mas contrastantes: a da Coréia do Norte e da Líbia.
A experiência norte-coreana é considerada desastrosa por alguns membros do
governo Bush, enquanto a da
Líbia é vista como modelo a
ser seguido no caso do Irã.
Os mesmos integrantes do
governo que se opuseram a
concessões à Coréia do Norte, John Bolton, hoje embaixador na ONU, o secretário
de Defesa, Donald Rumsfeld,
e o vice-presidente, Dick
Cheney, constituem a oposição a um diálogo com o Irã.
Em 1994, o governo Clinton assinou um acordo com a
Coréia do Norte, que superficialmente se assemelha bastante à oferta que se acredita
que tenha sido feita ao Irã.
A Coréia do Norte suspenderia a operação e a construção de reatores nucleares,
considerados parte de um
programa bélico clandestino. Em troca, um consórcio
internacional daria dois reatores de água leve, que não
podem ser usados na produção de bombas atômicas, e a
Coréia do Norte receberia
também certo volume de
óleo combustível.
Mas após a posse do presidente Bush, em 2001, os EUA
passaram a insinuar que a
Coréia do Norte vinha trapaceando e que mantinha um
programa secreto de enriquecimento de urânio.
Ao anunciar a alteração na
política norte-americana para com o Irã, a secretária de
Estado, Condoleezza Rice,
fez uma comparação fugaz
com a Coréia do Norte. No
mesmo dia, um importante
funcionário do governo Bush
estabeleceu uma comparação com a Líbia, um modelo
para o possível sucesso.
Os EUA iniciaram negociações secretas em 2003 sobre o fim do programa de armas nucleares líbio, e Trípoli
anunciou sua capitulação em
dezembro de 2004, após receber de EUA e Reino Unido
garantias de que nenhuma
"mudança de regime" era
parte de suas agendas.
Em maio, EUA e Líbia reataram laços diplomáticos,
para horror dos neoconservadores do governo de Bush,
que temem uma acomodação semelhante com o Irã.
Alguns diplomatas acreditam que canais clandestinos
de comunicação com o Irã
tenham sido utilizados para
abrir caminho à reviravolta
na posição norte-americana
e antecipam um período de
objeções e de contrapropostas da parte dos iranianos,
mas acreditam que acabarão
aceitando negociar diretamente com os EUA.
Alguns observadores consideram a experiência com a
Líbia um testemunho do poder de uma combinação entre coerção e diplomacia.
Mas a Líbia já ocupava uma
posição enfraquecida devido
ao severo embargo internacional imposto após o atentado contra o vôo 103 da Pan
Am, em Lockerbie, Escócia, e
seu isolamento era muito
maior, já que o Irã é grande
fornecedor de petróleo à
Ásia e Europa.
Os ultranacionalistas nos
EUA pressionam por uma
mudança de regime. Mas,
com o Exército norte-americano envolvido em um longo
impasse no Iraque, os EUA
enfrentariam dificuldades
para impor essa solução.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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