São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Refugiados em Timor já se queixam de falta de comida

Apesar da presença de tropas estrangeiras, segurança no país ainda é precária

ONU faz acordo para levar alimentos a 30 mil das 100 mil pessoas que fugiram de suas casas; Gusmão exorta militares à reconciliação

DA REDAÇÃO

A chegada de forças de paz estrangeiras a Timor Leste, nos últimos dias, diminuiu a violência que assola a capital do país, Dili, desde o final de abril. Mas ainda não foi capaz de restaurar a segurança, essencial para que os cerca de 100 mil timorenses que deixaram suas casas possam voltar.
Ontem o presidente Xanana Gusmão visitou um campo de refugiados e tentou, em vão, convencer os moradores a voltar para casa.
Temerosos devido à ação de gangues armadas com facões que diariamente entram em confronto nas ruas, além de pilhar e queimar casas, moradores de Dili se aglomeram em centros comunitários, igrejas, acampamentos improvisados ou casas de parentes.
Nos grandes acampamentos, a maioria passa o dia sob quentes "barracas" improvisadas -muitas das quais se resumem a um plástico sobre suas cabeças. O padre Adriano de Jesus, chefe de um campo de refugiados, descreveu a noite passada: "Uma gangue ficou no portão, fazendo barulho e aterrorizando as pessoas".
No mesmo campo, Carlos Carvalho reclamou da falta de alimentos: "Não temos comida suficiente. E estamos ficando sem água", disse.
A dona-de-casa Angelita Gonzales, no nono mês de gravidez, dorme no chão de uma quadra de basquete há quase um mês. Sob a iminência do parto, afirma: "Não sei para onde vou. Deveria estar em casa".
A ONU anunciou ontem ter feito um acordo com o governo para distribuir alimentos a 30 mil dos refugiados e disse já ter providenciado barras com alto teor energético para as crianças e as grávidas, além de arroz e barras reforçadas para outras mil pessoas. Entidades filantrópicas calculam que entre os refugiados estejam 3.000 crianças e 3.000 gestantes.
Em um novo apelo, o presidente se dirigiu ontem aos militares rebelados, estopim da crise, exortando-os a deixar de lado suas diferenças para "começar a nação das cinzas mais uma vez". O grupo -quase 600 dos 1.400 integrantes do Exército do país- revoltou-se após ser demitido em decorrência de uma greve, na qual alegaram discriminação nas promoções por conta de sua origem. Eles vêm do oeste de Timor.
"Perdoem um ao outro. Não lutamos 24 anos pela independência para chegar a essa situação", declarou Xanana Gusmão. Em 1999, um referendo decidiu pela independência do país, ocupado pela Indonésia.
Cerca de 2.500 militares da Austrália foram enviados para tentar conter a violência. Países vizinhos também colaboraram, e amanhã devem chegar 120 soldados de Portugal -antiga metrópole de Timor.


Com agências internacionais

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