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Refugiados em Timor já se queixam de falta de comida
Apesar da presença de tropas estrangeiras, segurança no país ainda é precária
ONU faz acordo para levar alimentos a 30 mil das 100 mil pessoas que fugiram de suas casas; Gusmão exorta militares à reconciliação
DA REDAÇÃO
A chegada de forças de paz
estrangeiras a Timor Leste, nos
últimos dias, diminuiu a violência que assola a capital do
país, Dili, desde o final de abril.
Mas ainda não foi capaz de restaurar a segurança, essencial
para que os cerca de 100 mil timorenses que deixaram suas
casas possam voltar.
Ontem o presidente Xanana
Gusmão visitou um campo de
refugiados e tentou, em vão,
convencer os moradores a voltar para casa.
Temerosos devido à ação de
gangues armadas com facões
que diariamente entram em
confronto nas ruas, além de pilhar e queimar casas, moradores de Dili se aglomeram em
centros comunitários, igrejas,
acampamentos improvisados
ou casas de parentes.
Nos grandes acampamentos,
a maioria passa o dia sob quentes "barracas" improvisadas
-muitas das quais se resumem
a um plástico sobre suas cabeças. O padre Adriano de Jesus,
chefe de um campo de refugiados, descreveu a noite passada:
"Uma gangue ficou no portão,
fazendo barulho e aterrorizando as pessoas".
No mesmo campo, Carlos
Carvalho reclamou da falta de
alimentos: "Não temos comida
suficiente. E estamos ficando
sem água", disse.
A dona-de-casa Angelita
Gonzales, no nono mês de gravidez, dorme no chão de uma
quadra de basquete há quase
um mês. Sob a iminência do
parto, afirma: "Não sei para onde vou. Deveria estar em casa".
A ONU anunciou ontem ter
feito um acordo com o governo
para distribuir alimentos a 30
mil dos refugiados e disse já ter
providenciado barras com alto
teor energético para as crianças
e as grávidas, além de arroz e
barras reforçadas para outras
mil pessoas. Entidades filantrópicas calculam que entre os
refugiados estejam 3.000
crianças e 3.000 gestantes.
Em um novo apelo, o presidente se dirigiu ontem aos militares rebelados, estopim da crise, exortando-os a deixar de lado suas diferenças para "começar a nação das cinzas mais
uma vez". O grupo -quase 600
dos 1.400 integrantes do Exército do país- revoltou-se após
ser demitido em decorrência de
uma greve, na qual alegaram
discriminação nas promoções
por conta de sua origem. Eles
vêm do oeste de Timor.
"Perdoem um ao outro. Não
lutamos 24 anos pela independência para chegar a essa situação", declarou Xanana Gusmão. Em 1999, um referendo
decidiu pela independência do
país, ocupado pela Indonésia.
Cerca de 2.500 militares da
Austrália foram enviados para
tentar conter a violência. Países vizinhos também colaboraram, e amanhã devem chegar
120 soldados de Portugal -antiga metrópole de Timor.
Com agências internacionais
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