São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Votação de hoje expõe fratura boliviana

Eleitores vão às urnas eleger uma Assembléia Constituinte e decidir em referendo se departamentos terão autonomia

Pleito evidencia oposição entre projeto de refundação proposto pelo presidente Evo Morales e demandas de elites agroindustriais

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Desde 2003 atravessando uma turbulenta transição política, a Bolívia vai às urnas hoje para decidir dois temas que expõem a sua cada vez mais dramática divisão política, étnico-racial e regional: a eleição de uma Assembléia Constituinte e um referendo sobre a autonomia dos departamentos.
A Assembléia Constituinte, demanda antiga do movimento indígena do altiplano andino, é a aposta do governo Evo Morales para continuar sua agenda de "refundação" do país, iniciada com nacionalização dos hidrocarbonetos, em maio.
Já o referendo sobre se os departamentos devem ter maior autonomia administrativa é o resultado de uma longa mobilização liderada pela elite do departamento agroindustrial de Santa Cruz (leste), o mais rico do país, para depender menos de La Paz -proposta antiga, mas reforçada pelo rechaço à agenda do governo socialista.
Apoiado em sua popularidade em torno de 80%, Morales tem defendido o "não" no referendo com duros ataques à elite cruzenha, a quem acusa de "vende-pátrias" e de corrupta. Na Assembléia, o objetivo do seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo) é assegurar dois terços das vagas, meta dificultada pelas regras eleitorais.

Oposição
A oposição a Morales, capitaneada pela agremiação Podemos (Poder Democrático e Social), do ex-presidente Jorge "Tuto" Quiroga, e por seis dos nove governadores, tenta assegurar a vitória do "sim" nas regiões sob sua influência.
Na campanha da Constituinte, Quiroga tem combatido propostas do MAS como a retirada do catolicismo como a religião oficial e a inclusão do quéchua e do aimará como línguas oficiais -hoje, é apenas o espanhol.
Além dessas divergências, governo e oposição também discordam sobre como o resultado final deve ser visto. Para o MAS, o resultado tem de ser levado em conta em nível nacional; a oposição defende que o resultado é por departamento -se o "sim" ganhar hoje em Santa Cruz, haverá mais autonomia, sem depender dos demais resultados.
"O sim e o não neste momento são um pretexto. Ao redor do "não", estão se articulando os povos indígenas, e ao redor do "sim" não apenas os cruzenhos mas também os ocidentais católicos. Será muito interessante ver agora a correlação de forças entre as duas civilizações", disse o analista político Javier Medina.


Texto Anterior: Sensores e barreiras fazem parte da rotina
Próximo Texto: Defensor de autonomia estatal vê tentativa de autoritarismo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.