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Votação de hoje expõe fratura boliviana
Eleitores vão às urnas eleger uma Assembléia Constituinte e decidir em referendo se departamentos terão autonomia
Pleito evidencia oposição entre projeto de refundação proposto pelo presidente Evo Morales e demandas de elites agroindustriais
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Desde 2003 atravessando
uma turbulenta transição política, a Bolívia vai às urnas hoje
para decidir dois temas que expõem a sua cada vez mais dramática divisão política, étnico-racial e regional: a eleição de
uma Assembléia Constituinte e
um referendo sobre a autonomia dos departamentos.
A Assembléia Constituinte,
demanda antiga do movimento
indígena do altiplano andino, é
a aposta do governo Evo Morales para continuar sua agenda
de "refundação" do país, iniciada com nacionalização dos hidrocarbonetos, em maio.
Já o referendo sobre se os departamentos devem ter maior
autonomia administrativa é o
resultado de uma longa mobilização liderada pela elite do departamento agroindustrial de
Santa Cruz (leste), o mais rico
do país, para depender menos
de La Paz -proposta antiga,
mas reforçada pelo rechaço à
agenda do governo socialista.
Apoiado em sua popularidade em torno de 80%, Morales
tem defendido o "não" no referendo com duros ataques à elite
cruzenha, a quem acusa de
"vende-pátrias" e de corrupta.
Na Assembléia, o objetivo do
seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo) é assegurar
dois terços das vagas, meta dificultada pelas regras eleitorais.
Oposição
A oposição a Morales, capitaneada pela agremiação Podemos (Poder Democrático e Social), do ex-presidente Jorge
"Tuto" Quiroga, e por seis dos
nove governadores, tenta assegurar a vitória do "sim" nas regiões sob sua influência.
Na campanha da Constituinte, Quiroga tem combatido propostas do MAS como a retirada
do catolicismo como a religião
oficial e a inclusão do quéchua e
do aimará como línguas oficiais
-hoje, é apenas o espanhol.
Além dessas divergências,
governo e oposição também
discordam sobre como o resultado final deve ser visto. Para o
MAS, o resultado tem de ser levado em conta em nível nacional; a oposição defende que o
resultado é por departamento
-se o "sim" ganhar hoje em
Santa Cruz, haverá mais autonomia, sem depender dos demais resultados.
"O sim e o não neste momento são um pretexto. Ao redor do
"não", estão se articulando os
povos indígenas, e ao redor do
"sim" não apenas os cruzenhos
mas também os ocidentais católicos. Será muito interessante ver agora a correlação de forças entre as duas civilizações",
disse o analista político Javier
Medina.
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