São Paulo, sábado, 02 de agosto de 2008

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Santander confirma negociação com Chávez

Presidente venezuelano anunciara na véspera intenção de nacionalizar filial de banco espanhol, terceira maior do país

Governo Zapatero disse que não pretende intervir em operação, que qualificou de normal; ações do Santander sofreram perdas em Madrid

Henry Solorzano -31.jul.08/France Presse
O presidente do Banco de Venezuela (à esquerda) se reúne com representantes do governo Chávez para discutir nacionalização

DA REDAÇÃO

O grupo espanhol Santander confirmou ontem negociações para a venda de sua filial Banco de Venezuela ao governo do presidente Hugo Chávez, que anunciou na quinta a nacionalização da instituição. As cifras da operação não foram reveladas, mas o valor estimado do terceiro maior banco da Venezuela chega a US$ 1,9 bilhão.
Em nota, o Santander afirmou que tentou vender o Banco de Venezuela a um grupo de investidores privados, mas que, apesar de alguns acordos, o negócio não foi concluído -anteontem, Chávez sugeriu haver impedido a compra.
"Com o recente interesse manifestado pelo governo venezuelano na compra do Banco de Venezuela, o Banco Santander está iniciando conversações a respeito", informou o gigante espanhol em nota.
Caracas afirmou que já na quinta-feira o diretor da filial do banco na capital se reuniu com o vice-presidente Ramón Carrizález para discutir a ação.
A matriz, porém, enfrentou perdas após admitir negociações. As ações do Santander na Espanha se desvalorizaram 2,35% nas primeiras 24 horas após o anúncio, arrastando todo o setor bancário -o Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA), por exemplo, caiu 2,54%.
O governo espanhol descartou ontem intervir na aquisição, que classificou como "uma negociação completamente respeitosa e normal, sem nenhum tipo de problema especial". Segundo a vice-presidente de governo espanhola, María Teresa Fernández de la Vega, ambas as partes asseguraram que a venda deverá ser concluída em breve.

Sem traumas
A incorporação do Banco de Venezuela ao Estado amplia ao setor financeiro a onda de nacionalizações que atingiu sob Chávez as áreas de telecomunicações, energia e indústria.
O Banco de Venezuela, de marca forte e alto valor agregado, tem 10,7% dos depósitos, 285 agências e 3 milhões de clientes do país, de acordo com o balanço semestral do Santander. Com 4.565 empregados, a instituição é conhecida pela alta especialização da mão-de-obra. A unidade foi responsável por 2% dos lucros da matriz (US$ 170 milhões), de acordo com o balanço.
Confirmando a previsão de analistas de um processo sem traumas, o primeiro dia após o anúncio da nacionalização não apresentou turbulência nas agências da filial, onde o clima ontem era de normalidade.
O Banco Central da Venezuela informou que o sistema financeiro operou "de maneira satisfatória e com solidez".
Para prevenir inquietações, pouco após anunciar a nacionalização Chávez fez uma tentativa de tranqüilizar clientes, acionistas e mercados. "Deve ficar claro para a opinião pública nacional e internacional que [a nacionalização] será feita com apego aos procedimentos estabelecidos em nossas leis e com o devido respeito aos atuais acionistas." Caracas também garantiu a estabilidade dos funcionários do banco e disse que os clientes "podem ter total confiança" quanto à normalidade das operações.
Apesar disso, houve alertas contra uma possível fuga de depósitos no banco. O ex-gerente do Banco Central Domingo Maza Zavala disse que "os cidadãos não têm boa opinião sobre a gestão estatal" e "tem que haver temor, pois o sistema financeiro é o coração do sistema circulatório do país".

Última chance
Ainda ontem, o governo venezuelano afirmou que Chávez aproveitou o último dia dos poderes extraordinários para governar por decretos, concedidos pelo Parlamento em fevereiro de 2007, para reformar parcialmente a Lei Geral de Bancos e Outras Instituições Financeiras, que organiza o sistema econômico e financeiro venezuelano. O teor das mudanças, contudo, só deverá ser detalhado na próxima semana.


Com agências internacionais


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