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Inação de Obama acua imigrantes nos EUA
Grupos conservadores procuram dificultar a vida de irregulares para promover uma "autodeportação"
ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO
Eleito com o apoio de grupos
pró-reforma migratória e com
um discurso favorável ao alcance da cidadania pelos estimados 12 milhões de irregulares
nos EUA, o presidente Barack
Obama não só protelou o debate do tema nos primeiros seis
meses de governo como ainda
fortaleceu algumas políticas da
gestão anterior.
O resultado é que grupos
conservadores se viram fortalecidos na tarefa de dificultar ao
máximo a vida de imigrantes
sem documentos, na esperança
de que eles voltem voluntariamente a seus países -tática
apelidada de "autodeportação".
Entre as ações mais polêmicas da nova Casa Branca estão
aumento de acordos que permitem a policiais de municípios agir como agentes de imigração e o investimento em
programas que checam o status
legal de presos para deportar os
que estão no país ilegalmente
-ambas defendidas pelo ex-presidente George W. Bush.
No caso da checagem do status migratório dos presos, o governo recentemente alocou
US$ 195 milhões para o próximo ano para expandir o programa dos atuais 70 condados (inclusive nas regiões de Miami e
San Diego) para o restante do
país até 2012, quando passará a
custar US$ 1 bilhão por ano.
Mas a política mais criticada
pelos grupos pró-imigrantes é
mesmo a atuação de policiais
locais como agentes de imigração. "Comunidades que ajudaram a eleger o presidente Obama acreditavam que haveria
mudanças. Há uma crescente
sensação de traição pelo fato de
o governo estar abraçando e
fortalecendo as políticas mais
contraproducentes da era
Bush", disse em comunicado na
última semana Chung-Wha
Hong, diretora da ONG Coalizão da Imigração de Nova York.
De grão em grão
O adiamento da reforma migratória favorece advogados
como Kris Kobach, um dos líderes do movimento anti-imigração ilegal nos EUA. Kobach
se tornou, nos últimos anos, o
mais conhecido defensor de
Estados e municípios interessados em coibir a presença de
irregulares em seus territórios.
Ele acredita que a melhor
forma de agir não é nem tentar
deportar os 12 milhões de irregulares nem oferecer uma anistia. "O caminho é aumentar
gradualmente a fiscalização,
para que se torne mais difícil
aos irregulares violar a lei. Assim, eles deixarão o país por
conta própria", disse à Folha.
Nos tribunais, ele argumenta
a favor de legislações regionais
que, entre outros, punam proprietários que alugam imóveis
a irregulares e empregadores
que os contratam. Ele também
defende a obrigatoriedade do
uso do "e-verify", um programa
de computador no qual empregadores checam na base de dados do governo se um empregado estrangeiro tem autorização para trabalhar nos EUA.
Kobach rejeita críticas de
que usa os tribunais para mudar políticas federais. "O que
faço é ajudar instâncias locais a
definir a lei onde ela é vaga."
Segundo ele, não houve mudanças visíveis nos casos em
que ele leva aos tribunais desde
que Obama assumiu. Ele reclama, porém, da percebida diminuição do ritmo de batidas dos
agentes de imigração em locais
de trabalho em busca de ilegais,
tática que sob Bush teve aumento de mais de 966% entre
2002 e 2008.
Até agora, os números não o
decepcionaram. Dados da ICE
(agência federal de imigração)
indicam aumento de 18% nas
deportações em entre outubro
de 2008 e junho último, em relação ao mesmo período do ano
fiscal anterior. O número assume nova dimensão quando se
leva em conta que em 2008
houve recorde em deportações,
com 349 mil casos.
Do outro lado da disputa,
grupos pró-imigrantes alertam
sobre riscos de deixar a questão
migratória nas mãos de agentes locais. Segundo Foster
Maer, advogado do grupo Latino Justice, "se policiais agem
como agentes de imigração, as
pessoas param de denunciar
crimes por medo de ser questionadas sobre seu status legal,
o que as torna mais vulneráveis
a ataques e abusos".
O advogado, que já enfrentou
Kobach nos tribunais, diz que
"tornar a vida dos imigrantes
mais difícil não os afastará dos
EUA". "O que veremos é o crescimento de uma subclasse, especialmente de latinos, que vai
se afundar cada vez mais em
um submundo", disse à Folha.
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