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Governo de unidade tira Zimbábue do fundo do poço
Avanços econômicos e administrativos convivem com violência e prisões políticas
União Europeia sinaliza com retomada do diálogo oficial
após 6 meses de governo do presidente Robert Mugabe e do premiê Morgan Tsvangirai
AMARO GRASSI
DA REDAÇÃO
Na última quinta, o Conselho
de Segurança Nacional do Zimbábue realizou o primeiro encontro desde a sua criação, há
cerca de seis meses, para cumprir a função de submeter a cúpula militar ligada ao presidente Robert Mugabe ao novo governo de unidade, chefiado pelo premiê Morgan Tsvangirai.
A reunião, cercada de expectativa, foi precedida de uma série de manifestações entre os
militares, para evitar dar a ideia
de que quem manda hoje no
país é Tsvangirai, líder do MDC
(Movimento pela Mudança Democrática) e pivô da crise que
tomou o país em 2008.
No ano passado, a vitória de
Tsvangirai sobre Mugabe no
primeiro turno da eleição presidencial foi o estopim de uma
onda de repressão à oposição,
que culminou com a desistência do agora premiê de participar do segundo turno.
Em setembro, após intensas
pressões internacionais, foi assinado um acordo entre os rivais para o estabelecimento de
um governo de divisão de poder, que assumiu em fevereiro.
De fato, o ex-líder opositor
não detém o controle do país.
Mas os últimos dois meses, que
completaram o primeiro semestre do governo que uniu os
rivais Tsvangirai e Mugabe
-no poder desde 1980-, foram
generosos em sinais de que algo
pode estar começando a mudar, ainda que lentamente.
Há duas semanas, o ministro
das Finanças, Tendai Biti, ligado ao premiê, anunciou um aumento ao funcionalismo público de 55% e previu para esse
ano um crescimento de 3,7%.
O desempenho é particularmente promissor para um país
que viu a economia ter crescimento negativo desde o início
da década, sobretudo após as
polêmicas desapropriações de
terra de Mugabe. No ano passado, o PIB recuou 12,6%.
A inflação, que alcançava incalculáveis seis dígitos ao mês,
foi controlada com a substituição do dólar zimbabuano pelo
dólar americano e pelo rand
sul-africano. Prateleiras, à época esvaziadas, voltam a oferecer produtos aos zimbabuanos.
Recentemente, após um giro
de Tsvangirai pela Europa, a
União Europeia deu sinais de
que pode retomar o diálogo oficial com o país, alvo de sanções
por violação de direitos humanos. E uma missão do FMI
(Fundo Monetário Internacional) no país disse ver uma "nascente recuperação econômica".
Violência política
Mas o cenário não é tão alentador assim. Após seis meses do
que deveria ser um governo de
reconciliação, crescem relatos
de violência política, sobretudo
no interior, e prisões de políticos do MDC a pedido de uma
Promotoria sobre a qual Mugabe reluta em ceder seu poder.
O recrudescimento da situação é apontado ainda como o
principal fator para o pé atrás
dos investidores internacionais
ocidentais em voltar ao Zimbábue -o vácuo deixado já começa a ser ocupado pela China.
Segundo o ministro das Finanças, serão necessários entre
US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões
para reconstruir o país. Hoje, a
pouca ajuda que chega ainda é
para trabalho humanitário.
Rixas estão também na origem do bloqueio que sofre o
processo constituinte, instituído pelo governo de unidade,
que prevê uma nova Carta até
julho de 2010 e a posterior convocação de eleições gerais.
Para Roger Southall, professor de Sociologia da Universidade de Witwatersrand, em Johannesburgo, o impasse reside
no fato de "Mugabe estar essencialmente em controle das
instituições do Estado", como
as Forças Armadas, a polícia e o
funcionalismo mais antigo.
"Tsvangirai e o MDC terão
que erodir o controle [do presidente Mugabe] a partir de cima.
E esse é um processo complicado", afirmou Southall à Folha.
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