São Paulo, quarta-feira, 02 de setembro de 2009

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Presidente polonês denuncia revisionismo

Em ato de memória aos 70 anos da Segunda Guerra, Lech Kaczynski compara massacre soviético a genocídio nazista

Chefe de governo, premiê considera contraproducente cutucar feridas históricas e destaca negociação de novo acordo de gás com a Rússia

JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Lech Kaczynski, presidente da Polônia, alertou ontem contra a "tentativa de reescrever a história" e comparou o massacre de 22 mil poloneses pela polícia política soviética em 1940 ao genocídio nazista de judeus.
Kaczynski participou de ato em Westerplatte, local dos primeiros embates de poloneses e invasores alemães em 1º de setembro de 1939 -ação que marcou o início, há 70 anos, da Segunda Guerra Mundial.
"Os judeus pereceram por serem judeus, e os poloneses foram mortos porque eram poloneses", disse ele, em referência ao massacre de Katyn (floresta em território russo), para onde foram levados, como prisioneiros, oficiais que compunham a elite militar da Polônia.
Em resposta à invasão alemã, a então União Soviética a seguir também invadiu a Polônia, para limitar àquele país ensanduichado a ofensiva dos alemães. Evocando Katyn, Kaczynski cobrou desculpas dos atuais dirigentes russos.
Horas antes, em outra cerimônia, em Gdansk ao lado de governantes dos ex-beligerantes, o premiê russo, Vladimir Putin, disse que seu país "sempre respeitou a bravura e o heroísmo do povo polonês", o primeiro a resistir a Hitler.
Também conciliador, o premiê polonês, Donald Tusk -um liberal que se opõe ao nacionalismo de Kaczynski-, disse que Varsóvia e Moscou estavam "dando um novo passo para o fortalecimento da confiança sobre o passado, para com isso construírem um melhor futuro". Tusk considera contraproducente cutucar feridas históricas e preferiu sublinhar o acordo que está sendo negociado com a Rússia para ampliar a comercialização de gás.
O Kremlin considera dignificante o papel do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra e evoca os 25 milhões de mortes de soviéticos. Em Varsóvia, no entanto, há um clima de cobrança sobre Katyn e sobre a responsabilidade soviética nos eventos que desencadearam a guerra.
Referindo-se à invasão quase simultânea das tropas de Hitler e de Stálin, Andrzej Halicki, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento polonês, acusou as duas potências de terem, em 1939, dividido seu país e se comportado como tropas de ocupação.
Há também a controvérsia sobre o Pacto de Não Agressão, firmado em agosto de 1939 por Berlim e Moscou, o que os poloneses interpretam como um sinal verde de Stálin para que tropas nazistas invadissem seu território. Putin qualificara o pacto de "imoral" anteontem, mas recusou analogias entre os russos e os agressores de Hitler.
Ele foi conciliador ontem: "A história é complexa e não possui uma só cor. Muitos passos errados foram dados na Europa até chegarmos à tragédia".
Já em Moscou, a polícia política liberou ontem documentos de seus arquivos que comprovariam a cumplicidade de setores da direita polonesa com Hitler. Não há nisso, a rigor, novidade. Setores da extrema direita conviveram em harmonia com ocupantes nazistas na França, Bélgica e Dinamarca.


Com agências internacionais

Leia coluna de Clóvis Rossi sobre a Segunda Guerra folha.com.br/janelarossi


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