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Presidente polonês denuncia revisionismo
Em ato de memória aos 70 anos da Segunda Guerra, Lech Kaczynski compara massacre soviético a genocídio nazista
Chefe de governo, premiê
considera contraproducente
cutucar feridas históricas e
destaca negociação de novo
acordo de gás com a Rússia
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Lech Kaczynski, presidente
da Polônia, alertou ontem contra a "tentativa de reescrever a
história" e comparou o massacre de 22 mil poloneses pela polícia política soviética em 1940
ao genocídio nazista de judeus.
Kaczynski participou de ato
em Westerplatte, local dos primeiros embates de poloneses e
invasores alemães em 1º de setembro de 1939 -ação que
marcou o início, há 70 anos, da
Segunda Guerra Mundial.
"Os judeus pereceram por serem judeus, e os poloneses foram mortos porque eram poloneses", disse ele, em referência
ao massacre de Katyn (floresta
em território russo), para onde
foram levados, como prisioneiros, oficiais que compunham a
elite militar da Polônia.
Em resposta à invasão alemã,
a então União Soviética a seguir
também invadiu a Polônia, para limitar àquele país ensanduichado a ofensiva dos alemães.
Evocando Katyn, Kaczynski
cobrou desculpas dos atuais dirigentes russos.
Horas antes, em outra cerimônia, em Gdansk ao lado de
governantes dos ex-beligerantes, o premiê russo, Vladimir
Putin, disse que seu país "sempre respeitou a bravura e o heroísmo do povo polonês", o primeiro a resistir a Hitler.
Também conciliador, o premiê polonês, Donald Tusk
-um liberal que se opõe ao nacionalismo de Kaczynski-, disse que Varsóvia e Moscou estavam "dando um novo passo para o fortalecimento da confiança sobre o passado, para com isso construírem um melhor futuro". Tusk considera contraproducente cutucar feridas históricas e preferiu sublinhar o
acordo que está sendo negociado com a Rússia para ampliar a
comercialização de gás.
O Kremlin considera dignificante o papel do Exército Vermelho durante a Segunda
Guerra e evoca os 25 milhões
de mortes de soviéticos. Em
Varsóvia, no entanto, há um clima de cobrança sobre Katyn e
sobre a responsabilidade soviética nos eventos que desencadearam a guerra.
Referindo-se à invasão quase
simultânea das tropas de Hitler
e de Stálin, Andrzej Halicki,
presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento polonês, acusou as duas potências de terem, em 1939, dividido seu país e se comportado
como tropas de ocupação.
Há também a controvérsia
sobre o Pacto de Não Agressão,
firmado em agosto de 1939 por
Berlim e Moscou, o que os poloneses interpretam como um sinal verde de Stálin para que
tropas nazistas invadissem seu
território. Putin qualificara o
pacto de "imoral" anteontem,
mas recusou analogias entre os
russos e os agressores de Hitler.
Ele foi conciliador ontem: "A
história é complexa e não possui uma só cor. Muitos passos
errados foram dados na Europa
até chegarmos à tragédia".
Já em Moscou, a polícia política liberou ontem documentos
de seus arquivos que comprovariam a cumplicidade de setores da direita polonesa com Hitler. Não há nisso, a rigor, novidade. Setores da extrema direita conviveram em harmonia
com ocupantes nazistas na
França, Bélgica e Dinamarca.
Com agências internacionais
Leia coluna de Clóvis Rossi
sobre a Segunda Guerra
folha.com.br/janelarossi
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