São Paulo, terça-feira, 02 de outubro de 2001

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EUA e Reino Unido aumentam pressão sobre regime; oposição afegã articula tomada de poder

Paquistão vê Taleban com os dias contados

KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

O Paquistão, único país que mantém relações com o Taleban, disse ontem que parecem contados os dias de poder do grupo extremista islâmico que controla quase todo o Afeganistão.
Enquanto a oposição ao Taleban intensifica o debate sobre a troca de poder no Afeganistão, os EUA seguem reforçando suas tropas na região. Ontem mais um porta-aviões partiu do Japão para compor as forças do país que armam a resposta aos atentados do último dia 11 contra Nova York e o Pentágono, que podem ter matado cerca de 5.000 pessoas.
Fontes próximas ao premiê britânico, Tony Blair, disseram que ele deve anunciar hoje em reunião de seu partido, o Trabalhista, que é inevitável uma ação militar contra os campos de treinamento do líder terrorista saudita Osama bin Laden -apontado pelos EUA como responsável pelos ataques- no Afeganistão.
O Taleban disse anteontem que Bin Laden está sob sua proteção e que só o entregaria se os EUA apresentassem provas contra ele.
"O Taleban teve a oportunidade de entregar os terroristas e preferiu não aproveitá-la. Vamos eliminar seu equipamento pesado, destruir suas fontes de abastecimento e atacar suas tropas", dirá Blair hoje, segundo trechos de seu discurso citados pela agência "France Presse".
O rei deposto do Afeganistão, Mohamad Zahir Shah, 86, e a Aliança do Norte, que controla pequena parte do território afegão, anunciaram ontem um acordo para tentar tirar o Taleban do poder. O acordo prevê a criação de conselho formado pelos líderes das diversas etnias e facções políticas do país. Esse conselho elegeria um chefe de Estado e formaria um governo de transição de dois anos. Zahir Shah encabeçaria essa coalizão.
Ele poderia fazer a união entre os apoiadores do Taleban, formado pela etnia pashtu (majoritária no país), e dos grupos rebeldes, formados por tribos do norte na qual são predominantes as etnias uzbeque e tadjique. Apesar de ser a grande força armada que contesta o Taleban, os membros da Aliança do Norte são minoria e teriam dificuldade para governar sozinhos.
"Estou convencido de que o entendimento ao qual chegamos será o início de uma nova era para o Afeganistão", disse Younus Qanooni, chefe da delegação da Aliança do Norte que participou do encontro em Roma, onde vive o ex-rei.
Os rebeldes afegãos estão recebendo apoio logístico de americanos e russos para uma ofensiva contra Cabul. Ao apoiar abertamente o acordo entre o ex-rei e a Aliança do Norte, os EUA contrariam o Paquistão, que tenta se equilibrar entre o Taleban e Washington. O governo paquistanês tentava uma forma de manter o grupo no poder, ou pelos menos os seus líderes mais moderados, para que o país seguisse sob sua influência.
O presidente paquistanês, um crítico dos rebeldes, deu a entender que está resignado a aceitar o isolamento do Taleban. Pervez Musharraf, que recebeu apoio econômico dos EUA em troca de colaboração, disse ontem à TV britânica BBC: "Parece que os EUA desencadearão uma ação militar no Afeganistão, e nós já informamos isso ao Taleban". Ao ser indagado se os dias do regime em Cabul estavam contados, ele respondeu: "Parece que sim".
O Taleban, no entanto, tem evitado dar sinais de fraqueza. Ontem, anunciou a retomada de áreas no oeste do Afeganistão que haviam sido conquistadas recentemente pelos oposicionistas. Segundo uma agência de notícias islâmica, o ministro da Defesa do Afeganistão, mulá Obaidullah, visitou os soldados na fronteira com o Paquistão e os incentivou a lutar: "Se o inimigo é forte, nosso Deus é o mais forte".

Uzbequistão
Os EUA seguem obtendo apoio internacional para sua ofensiva.
O presidente do Uzbequistão, Islam Karimov, anunciou ontem a abertura de seu espaço aéreo para as operações militares dos EUA. A ex-república soviética tem as bases aéreas mais sofisticadas da Ásia Central e serviu como a principal base das tropas soviéticas na invasão do vizinho Afeganistão, em 1979.
A ex-república soviética da Geórgia também ofereceu uso de seu espaço aéreo aos EUA ontem, embora esteja a muitas centenas de quilômetros do Afeganistão.



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