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EUA e Reino Unido aumentam pressão sobre regime; oposição afegã articula tomada de poder
Paquistão vê Taleban com os dias contados
KENNEDY ALENCAR
ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD
O Paquistão, único país que
mantém relações com o Taleban,
disse ontem que parecem contados os dias de poder do grupo extremista islâmico que controla
quase todo o Afeganistão.
Enquanto a oposição ao Taleban intensifica o debate sobre a
troca de poder no Afeganistão, os
EUA seguem reforçando suas tropas na região. Ontem mais um
porta-aviões partiu do Japão para
compor as forças do país que armam a resposta aos atentados do
último dia 11 contra Nova York e
o Pentágono, que podem ter matado cerca de 5.000 pessoas.
Fontes próximas ao premiê britânico, Tony Blair, disseram que
ele deve anunciar hoje em reunião
de seu partido, o Trabalhista, que
é inevitável uma ação militar contra os campos de treinamento do
líder terrorista saudita Osama bin
Laden -apontado pelos EUA como responsável pelos ataques-
no Afeganistão.
O Taleban disse anteontem que
Bin Laden está sob sua proteção e
que só o entregaria se os EUA
apresentassem provas contra ele.
"O Taleban teve a oportunidade
de entregar os terroristas e preferiu não aproveitá-la. Vamos eliminar seu equipamento pesado,
destruir suas fontes de abastecimento e atacar suas tropas", dirá
Blair hoje, segundo trechos de seu
discurso citados pela agência
"France Presse".
O rei deposto do Afeganistão,
Mohamad Zahir Shah, 86, e a
Aliança do Norte, que controla
pequena parte do território afegão, anunciaram ontem um acordo para tentar tirar o Taleban do
poder. O acordo prevê a criação
de conselho formado pelos líderes
das diversas etnias e facções políticas do país. Esse conselho elegeria um chefe de Estado e formaria
um governo de transição de dois
anos. Zahir Shah encabeçaria essa
coalizão.
Ele poderia fazer a união entre
os apoiadores do Taleban, formado pela etnia pashtu (majoritária
no país), e dos grupos rebeldes,
formados por tribos do norte na
qual são predominantes as etnias
uzbeque e tadjique. Apesar de ser
a grande força armada que contesta o Taleban, os membros da
Aliança do Norte são minoria e teriam dificuldade para governar
sozinhos.
"Estou convencido de que o entendimento ao qual chegamos será o início de uma nova era para o
Afeganistão", disse Younus Qanooni, chefe da delegação da
Aliança do Norte que participou
do encontro em Roma, onde vive
o ex-rei.
Os rebeldes afegãos estão recebendo apoio logístico de americanos e russos para uma ofensiva
contra Cabul. Ao apoiar abertamente o acordo entre o ex-rei e a
Aliança do Norte, os EUA contrariam o Paquistão, que tenta se
equilibrar entre o Taleban e Washington. O governo paquistanês
tentava uma forma de manter o
grupo no poder, ou pelos menos
os seus líderes mais moderados,
para que o país seguisse sob sua
influência.
O presidente paquistanês, um
crítico dos rebeldes, deu a entender que está resignado a aceitar o
isolamento do Taleban. Pervez
Musharraf, que recebeu apoio
econômico dos EUA em troca de
colaboração, disse ontem à TV
britânica BBC: "Parece que os
EUA desencadearão uma ação
militar no Afeganistão, e nós já informamos isso ao Taleban". Ao
ser indagado se os dias do regime
em Cabul estavam contados, ele
respondeu: "Parece que sim".
O Taleban, no entanto, tem evitado dar sinais de fraqueza. Ontem, anunciou a retomada de
áreas no oeste do Afeganistão que
haviam sido conquistadas recentemente pelos oposicionistas. Segundo uma agência de notícias islâmica, o ministro da Defesa do
Afeganistão, mulá Obaidullah, visitou os soldados na fronteira
com o Paquistão e os incentivou a
lutar: "Se o inimigo é forte, nosso
Deus é o mais forte".
Uzbequistão
Os EUA seguem obtendo apoio
internacional para sua ofensiva.
O presidente do Uzbequistão,
Islam Karimov, anunciou ontem
a abertura de seu espaço aéreo para as operações militares dos
EUA. A ex-república soviética
tem as bases aéreas mais sofisticadas da Ásia Central e serviu como
a principal base das tropas soviéticas na invasão do vizinho Afeganistão, em 1979.
A ex-república soviética da
Geórgia também ofereceu uso de
seu espaço aéreo aos EUA ontem,
embora esteja a muitas centenas
de quilômetros do Afeganistão.
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