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SOCIEDADE
Homens de Pitcairn, no Pacífico, alegam que sexo com meninas de 11 anos era um costume local sem violência
Pedofilia leva Justiça britânica a ilhota
DA REDAÇÃO
Pitcairn é uma pequena ilha no
Pacífico Sul, que fica na metade
do caminho entre a Nova Zelândia e o Peru. Ali vivem 47 pessoas,
descendentes de marinheiros ingleses que se amotinaram em
1790. A isolada ilha virou foco da
atenção do mundo em razão de
um escândalo sexual. A Justiça
britânica deu início ao julgamento de sete homens, ou metade da
população masculina da ilha, por
crimes sexuais. Entre as 55 acusações estão pedofilia e estupro. Alguns dos crimes teriam acontecido há 40 anos.
O julgamento em Pitcairn (pronuncia-se Pitquern), com juízes
britânicos vestindo as tradicionais becas negras, começou anteontem e deve durar cerca de seis
semanas. Todos os acusados, incluindo o prefeito, se declararam
inocentes. Eles alegam que manter relações com menores de idade era um costume local e que não
havia violência. A defesa argumenta ainda que a ilha não está
sob o controle das leis inglesas.
O relato das primeiras supostas
vítimas, porém, pode revelar uma
história sinistra. Em testemunho
por vídeo, gravado na Nova Zelândia, mulheres contaram, às vezes chorando, as suas versões dos
fatos. Ao todo, oito mulheres fizeram acusações. Todas já deixaram a ilha.
"As meninas eram tratadas como objetos sexuais. Os homens
faziam o que queriam com elas",
disse uma das mulheres que, de
acordo com as leis britânicas, não
pode ser identificada. Ela teria sido violentada quatro vezes, a primeira quando tinha 11 anos. "Não
havia ninguém naquela ilha com
quem pudesse contar", afirmou.
Segundo ela, ao chegar de um ataque e contar para seu pai o que tinha acontecido, ela apanhou porque iria se atrasar para a igreja.
Outros vídeos foram apresentados para uma platéia quase vazia.
O prefeito, Steve Christian, foi
acusado de violentar uma menina
de 11 anos, enquanto outros dois
amigos seguravam seus braços e
suas pernas. Uma mulher disse
que foi obrigada a fazer sexo oral
com o motorista do trator da ilha,
Dave Brown, quando tinha 5 anos
de idade. Outra acusou o mesmo
homem de tê-la estuprado aos 7
anos, dentro da igreja local.
Costume
Mulheres, irmãs e mães dos
acusados protestaram contra as
acusações e disseram que nunca
foram obrigadas a manter relações sexuais. "Eu fiz sexo aos 12.
Sentia-me uma mulher e queria
isso", disse Darralyn Griffiths, 26.
"Nunca houve um estupro nesta
ilha. Eu fui uma dessas meninas e
tive relações aos 13. Sabia muito
bem o que estava fazendo e não
fui forçada", afirmou Carol Warren. Elas dizem também que as
mulheres que fazem as acusações
teriam sido compradas.
A população assegura que, se os
acusados forem condenados, não
haverá mais gente capaz de navegar os barcos que buscam suprimentos com os navios de cruzeiro
que passam nos arredores da ilha.
Com isso, todos serão obrigados a
deixar o local.
Mesmo algumas das supostas
vítimas dizem que não querem
que os acusados sejam presos.
Elas esperam que eles estejam
conscientes de seus crimes e que
isso não volte a ocorrer.
Direito de desvirginar
Segundo relato de um habitante
ouvido pelo diário britânico "Independent", uma das razões para
as agressões seria uma disputa de
poder. De acordo com essa versão, o prefeito, Christian, acreditava que tinha o direito de desvirginar as meninas. Ele teria despertado a inveja de outros homens da
ilha que passaram a ter relações
com meninas virgens, cada vez
mais novas. Muitas vezes esses
ataques se repetiram por anos e as
mulheres engravidaram e depois
acabaram se casando com esses
mesmos homens.
A denúncia contra os habitantes
de Pitcairn foi feita em 1999 por
uma policial feminina que visitou
a ilha. Outros seis homens que
não vivem mais no local devem
ser julgados.
A lei britânica considera crime
ter relações sexuais com menores
de 16 anos. Os habitantes da ilha
afirmam, porém, que não estão
mais sob as leis do Reino Unido,
pois cortaram os laços com o país
quando seus antepassados fizeram uma revolta em um barco e
chegaram ao local, em 1790.
Em Pitcairn, que tem apenas 42
km2, a luz elétrica dura dez horas
por dia. Não há rede de esgoto,
nem ruas asfaltadas. Cartas demoram meses para chegar e o isolamento foi rompido há poucos
meses com a chegada da internet.
Os habitantes da ilha ganham dinheiro vendendo artesanato, mel
e selos para turistas eventuais.
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