São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

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MÍDIA

Concorrência com outros meios de comunicação, perda de leitores jovens e falta de capitalização são apontadas como causas

Jornais franceses atravessam grave crise

BERTRAND D'ARMAGNAC
DO "LE MONDE"

A imprensa francesa está em crise. Os jornais "Le Parisien" e "Le Monde" anunciaram planos de incentivo às demissões voluntárias, em razão do déficit em suas contas. O "Libération", que há mais de dois anos procura acionista que substitua o fundo de investimentos 3i, está para enfrentar outra crise. "Le Figaro" vem perdendo dinheiro, e a redação teme por sua independência.
Além dos problemas específicos de cada título, todos enfrentam uma crise maior, que tem certas características peculiarmente francesas e outras que se reproduzem nos países vizinhos e em outros ainda mais distantes.
De 1997 a 2003, a base de leitores dos diários nacionais franceses caiu 12%, (perda de 800 mil leitores), diz a EuroPQN. Em 2003 todos os diários de alcance nacional registraram queda de circulação, à exceção de "La Croix" e "Aujourd'hui en France".
De 2001 a 2003, a parte dos títulos nacionais nas receitas da imprensa caiu de 10% para 8,1%. No mesmo período, a parte do mercado publicitário controlada pela imprensa escrita declinou, em benefício das mídias audiovisuais.
Na base dessa mudança está uma alteração de comportamento dos cidadãos. Como destaca estudo do instituto Bipe, a maior disponibilidade de tempo livre não beneficiou a leitura, mas sim a televisão, as atividades de faça-você-mesmo e os esportes e jogos.
No final dos anos 90, das 4 horas e 13 minutos de cada dia dedicadas ao lazer, a TV ocupava 2 horas e 7 minutos, ante 25 minutos para a leitura. Além disso, os franceses agora usam mais seus carros para ir ao trabalho, e se informam basicamente pelo rádio.
O surgimento da internet, outro obstáculo aos jornais, acostumou os franceses a obter acesso instantâneo à informação, pagando apenas pela conexão com a rede.
O sucesso de público dos jornais gratuitos também prejudica publicações pagas. Os leitores desses jornais e revistas, na maioria jovens, são também mais volúveis.
A perda de uma conexão regular entre os diários e os jovens, de acordo com o Bipe, constituiu uma "bomba de ação retardada", porque pesquisas realizadas nos últimos 30 anos demonstram que o índice de leitura de cada geração não cresce com o tempo, e o contrário tende a ser mais verdadeiro.
As dificuldades econômicas e industriais da imprensa cotidiana a colocam em postura pouco favorável para resistir a essas mudanças sociológicas. "O modelo econômico da imprensa não pode continuar sendo o mesmo que existia antes que surgisse a internet e a TV ganhasse tamanha força", destaca Henri Pigeat, consultor e antigo presidente da agência France Presse. Para ele, "a imprensa cotidiana sofre particularmente com a sua subcapitalização. Jamais houve um esforço para atrair capitais para a imprensa, como o que com o cinema."
Mas, mesmo que a situação seja preocupante, o declínio não é irremediável. "É preciso discutir a missão atual dos jornais, agora que as formas de consumo de mídia estão se alterando", diz Pigeat.
No Reino Unido, o jornal "The Independent" ganhou mais de 27,4% em termos de circulação em um ano, graças a uma nova fórmula que alia formato tablóide a um conteúdo mais dinâmico. De maneira geral, em função da internet, os diários ganharam mais leitores em suas versões online. E, se os jornais gratuitos concorrem com os pagos, eles pelo menos estão criando novos leitores para a imprensa.


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