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MÍDIA
Concorrência com outros meios de comunicação, perda de leitores jovens e falta de capitalização são apontadas como causas
Jornais franceses atravessam grave crise
BERTRAND D'ARMAGNAC
DO "LE MONDE"
A imprensa francesa está em
crise. Os jornais "Le Parisien" e
"Le Monde" anunciaram planos
de incentivo às demissões voluntárias, em razão do déficit em suas
contas. O "Libération", que há
mais de dois anos procura acionista que substitua o fundo de investimentos 3i, está para enfrentar outra crise. "Le Figaro" vem
perdendo dinheiro, e a redação
teme por sua independência.
Além dos problemas específicos
de cada título, todos enfrentam
uma crise maior, que tem certas
características peculiarmente
francesas e outras que se reproduzem nos países vizinhos e em outros ainda mais distantes.
De 1997 a 2003, a base de leitores
dos diários nacionais franceses
caiu 12%, (perda de 800 mil leitores), diz a EuroPQN. Em 2003 todos os diários de alcance nacional
registraram queda de circulação,
à exceção de "La Croix" e "Aujourd'hui en France".
De 2001 a 2003, a parte dos títulos nacionais nas receitas da imprensa caiu de 10% para 8,1%. No
mesmo período, a parte do mercado publicitário controlada pela
imprensa escrita declinou, em benefício das mídias audiovisuais.
Na base dessa mudança está
uma alteração de comportamento dos cidadãos. Como destaca estudo do instituto Bipe, a maior
disponibilidade de tempo livre
não beneficiou a leitura, mas sim
a televisão, as atividades de faça-você-mesmo e os esportes e jogos.
No final dos anos 90, das 4 horas
e 13 minutos de cada dia dedicadas ao lazer, a TV ocupava 2 horas
e 7 minutos, ante 25 minutos para
a leitura. Além disso, os franceses
agora usam mais seus carros para
ir ao trabalho, e se informam basicamente pelo rádio.
O surgimento da internet, outro
obstáculo aos jornais, acostumou
os franceses a obter acesso instantâneo à informação, pagando
apenas pela conexão com a rede.
O sucesso de público dos jornais
gratuitos também prejudica publicações pagas. Os leitores desses
jornais e revistas, na maioria jovens, são também mais volúveis.
A perda de uma conexão regular entre os diários e os jovens, de
acordo com o Bipe, constituiu
uma "bomba de ação retardada",
porque pesquisas realizadas nos
últimos 30 anos demonstram que
o índice de leitura de cada geração
não cresce com o tempo, e o contrário tende a ser mais verdadeiro.
As dificuldades econômicas e
industriais da imprensa cotidiana
a colocam em postura pouco favorável para resistir a essas mudanças sociológicas. "O modelo
econômico da imprensa não pode
continuar sendo o mesmo que
existia antes que surgisse a internet e a TV ganhasse tamanha força", destaca Henri Pigeat, consultor e antigo presidente da agência
France Presse. Para ele, "a imprensa cotidiana sofre particularmente com a sua subcapitalização. Jamais houve um esforço para atrair capitais para a imprensa,
como o que com o cinema."
Mas, mesmo que a situação seja
preocupante, o declínio não é irremediável. "É preciso discutir a
missão atual dos jornais, agora
que as formas de consumo de mídia estão se alterando", diz Pigeat.
No Reino Unido, o jornal "The
Independent" ganhou mais de
27,4% em termos de circulação
em um ano, graças a uma nova
fórmula que alia formato tablóide
a um conteúdo mais dinâmico.
De maneira geral, em função da
internet, os diários ganharam
mais leitores em suas versões
online. E, se os jornais gratuitos
concorrem com os pagos, eles pelo menos estão criando novos leitores para a imprensa.
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