São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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"Aqui tentaram assassinar o presidente"

Ministro do Planejamento e do Desenvolvimento afirma que investigação irá até as "últimas consequências"

Para René Ramírez, policiais foram usados politicamente e não há cortes de benefícios para o funcionalismo

ANDRÉ LOBATO
DE SÃO PAULO

O ministro do Planejamento e do Desenvolvimento do Equador, René Ramírez Gallegos, manteve conversas constantes por telefone com o presidente Rafael Correa enquanto ele esteve "raptado" no hospital militar, anteontem.
Ramírez diz que o governo vai às últimas consequências para investigar o que chama de "tentativa de golpe".

 

Folha - Que medidas o presidente vai tomar para resolver a situação dos policiais?
René Ramírez Gallegos -
Estamos estudando uma reforma integral da polícia. Mas o que aconteceu ontem foi uma tentativa de golpe.
Não são só os policiais que estão sendo identificados com nome e sobrenome. Vamos identificar os atores e as ligações entre eles e a liderança de grupos políticos como a Sociedade Patriótica, do ex-presidente Lucio Gutiérrez .

Gutiérrez já disse que Correa o culpa toda vez que um movimento reclama do governo.
É uma cena. Quando ele governava e os cidadãos se revoltaram contra ele, a resposta era com balas. Os policiais o mencionaram.

Algum resultado das investigações? Quantas pessoas participaram? Já se chegou à Sociedade Patriótica?
O gabinete do governo está investigando. Não haverá impunidade. Iremos às últimas consequências para identificar todos os atores que estiveram atrás disso.
Isso não foi um golpe, foi uma tentativa de golpe. Houve muita coordenação. O presidente esteve raptado. Não podia sair do hospital.

Você estava com ele? Tentaram matar Correa?
Eu estava em contato direto com ele por telefone. Havia franco atiradores ao redor do hospital. Parece que um dos militares mortos recebeu um tiro que ia diretamente ao carro do presidente no momento em que estava saindo do hospital.
Foi um tiroteio impressionante. Aqui se atentou contra a vida do presidente.

Os golpes normalmente são feitos pelas Forças Armadas. De onde veio esse novo papel da polícia equatoriana?
É o aspecto político de quem estava articulando. Os policiais se deram conta de que estavam mal informados e de que não haviam lido a lei, de que ela não atentava contra seus direitos ou qualidade de vida.
Houve um exercício de golpe que não veio por parte da própria polícia, mas de atores políticos que estamos identificando.

Que tipo de pena podem pegar? Tem pena de morte por traição no Equador, por exemplo?
Terá de passar pelo processo que prevê a Constituição. Não há pena de morte. São diferentes questões. Tem de ver a legislação.
Alguns terão de ir presos, outros irão para julgamentos políticos. Depende do grau do funcionário.

A revolta não comprova que o governo faz reformas que desagradam ao povo?
A questão do corte de benefícios foi um pretexto. O governo subiu o salário médio da polícia em 123%.
Essas não são reformas para cortar o deficit público. São mais caras para o Estado.


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