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Paquistão baixa
medidas para
conter protestos
DO ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD
No dia em que uma carta
atribuída a Osama bin Laden
conclamou os paquistaneses a
se revoltar contra o apoio de
seu governo à campanha militar dos EUA no Afeganistão, o
presidente Pervez Musharraf
decretou um pacote de medidas repressivas para fazer frente à onda de protestos e violência que se instalou no país.
Já na madrugada de ontem,
um líder de oposição foi preso
sob acusação de estimular a
derrubada do governo.
Mudjun Hashim é presidente
interino da Liga Muçulmana
do Paquistão, que se encaixa
mais na definição nacionalista
do que extremista islâmica e já
foi o maior partido do país.
O pacote atinge em cheio os
partidos e grupos extremistas
islâmicos, que anteontem haviam incitado em uma manifestação ocorrida na cidade de
Rawalpindi a revolta de soldados contra seus superiores e
Musharraf. Primeiro, porque
proíbe o uso de alto-falantes
-um dos principais instrumentos de divulgação no país.
Segundo, porque veta que religiosos usem discursos em
mesquitas para fins "sediciosos", na definição usada pela
imprensa do país, de forma geral alinhada aos militares, mas
nem sempre com o presidente.
Além disso, serão coibidas
manifestações públicas contra
o governo de Musharraf, constituído em 1999 após um golpe
militar. A reação vem no exato
momento em que o Comitê de
Defesa Paquistão-Afeganistão,
uma frente difusa com diversos
grupos e partidos islâmicos,
conclama uma série nacional
de protestos.
Sem medo
"Nós vamos protestar de
qualquer forma", afirmou à
Folha Rukhshanda Kobab, a
chefe do distrito de Rawalpindi
do partido Jamiat-e-Islami, a
maior agremiação islâmica do
Paquistão.
Se ocorrerem, os protestos
deverão ser marcados por bloqueios de estradas pelo país
durante a semana que vem,
culminando numa manifestação em 9 de novembro em Islamabad, a capital.
O pacote tem efeito imediato
e foi definido em uma reunião,
na noite de anteontem, entre
Musharraf, líderes políticos
que o apóiam e os presidentes
(governadores) das Províncias
do país. Não há necessidade de
ratificação legislativa.
O teste de fogo para a medida
do governo será hoje, dia sagrado de orações para os muçulmanos.
Geralmente os sermões mais
inflamados são feitos por religiosos nas mesquitas, e sexta-feira é, por assim dizer, o horário nobre dessas manifestações. Há a expectativa de mais
confrontos.
Além das manifestações, a
morte de 18 cristãos em uma
igreja, supostamente por extremistas islâmicos, estimulou a
confecção do pacote.
Pipas proibidas
O governo da capital do Paquistão emitiu um decreto curioso: está proibido, por dois
meses a partir de ontem, soltar
pipa em Islamabad.
A alegação é que, como alguns modelos do brinquedo
também conhecido como papagaio ou quadrado são em
forma de asa-delta, houve relatos de moradores que andaram
se assustando ao olhar para o
horizonte -a pipa lembraria
um avião de ataque.
O principal ponto de onde os
moradores de Islamabad soltam pipa fica nas colinas de
Margalla, ao norte da cidade.
A medida pode ser renovada
se "o clima de ansiedade" prosseguir, de acordo com o governo.
(IG)
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