São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2001

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Paquistão baixa medidas para conter protestos

DO ENVIADO ESPECIAL A ISLAMABAD

No dia em que uma carta atribuída a Osama bin Laden conclamou os paquistaneses a se revoltar contra o apoio de seu governo à campanha militar dos EUA no Afeganistão, o presidente Pervez Musharraf decretou um pacote de medidas repressivas para fazer frente à onda de protestos e violência que se instalou no país.
Já na madrugada de ontem, um líder de oposição foi preso sob acusação de estimular a derrubada do governo.
Mudjun Hashim é presidente interino da Liga Muçulmana do Paquistão, que se encaixa mais na definição nacionalista do que extremista islâmica e já foi o maior partido do país.
O pacote atinge em cheio os partidos e grupos extremistas islâmicos, que anteontem haviam incitado em uma manifestação ocorrida na cidade de Rawalpindi a revolta de soldados contra seus superiores e Musharraf. Primeiro, porque proíbe o uso de alto-falantes -um dos principais instrumentos de divulgação no país.
Segundo, porque veta que religiosos usem discursos em mesquitas para fins "sediciosos", na definição usada pela imprensa do país, de forma geral alinhada aos militares, mas nem sempre com o presidente.
Além disso, serão coibidas manifestações públicas contra o governo de Musharraf, constituído em 1999 após um golpe militar. A reação vem no exato momento em que o Comitê de Defesa Paquistão-Afeganistão, uma frente difusa com diversos grupos e partidos islâmicos, conclama uma série nacional de protestos.

Sem medo
"Nós vamos protestar de qualquer forma", afirmou à Folha Rukhshanda Kobab, a chefe do distrito de Rawalpindi do partido Jamiat-e-Islami, a maior agremiação islâmica do Paquistão.
Se ocorrerem, os protestos deverão ser marcados por bloqueios de estradas pelo país durante a semana que vem, culminando numa manifestação em 9 de novembro em Islamabad, a capital.
O pacote tem efeito imediato e foi definido em uma reunião, na noite de anteontem, entre Musharraf, líderes políticos que o apóiam e os presidentes (governadores) das Províncias do país. Não há necessidade de ratificação legislativa.
O teste de fogo para a medida do governo será hoje, dia sagrado de orações para os muçulmanos.
Geralmente os sermões mais inflamados são feitos por religiosos nas mesquitas, e sexta-feira é, por assim dizer, o horário nobre dessas manifestações. Há a expectativa de mais confrontos.
Além das manifestações, a morte de 18 cristãos em uma igreja, supostamente por extremistas islâmicos, estimulou a confecção do pacote.

Pipas proibidas
O governo da capital do Paquistão emitiu um decreto curioso: está proibido, por dois meses a partir de ontem, soltar pipa em Islamabad.
A alegação é que, como alguns modelos do brinquedo também conhecido como papagaio ou quadrado são em forma de asa-delta, houve relatos de moradores que andaram se assustando ao olhar para o horizonte -a pipa lembraria um avião de ataque.
O principal ponto de onde os moradores de Islamabad soltam pipa fica nas colinas de Margalla, ao norte da cidade.
A medida pode ser renovada se "o clima de ansiedade" prosseguir, de acordo com o governo. (IG)


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