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Mídia foi "superficial", diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A cobertura da campanha feita
pela mídia americana foi, como
de costume, "superficial", insistindo em temas menores e negligenciando os importantes, como
a Guerra do Iraque e a economia.
A análise é de Thomas Patterson, professor da Kennedy School
of Government da Universidade
Harvard (EUA) e diretor de seu
centro de acompanhamento da
mídia. Ele é autor de "Mass Media
Election" (eleição na grande imprensa) e de "The Vanishing Voter" (o eleitor evanescente).
Folha - Como o sr. analisa o papel
da mídia na campanha eleitoral?
Thomas Patterson - Não vi nenhuma novidade na cobertura,
que foi bastante superficial. A
grande imprensa tem a tendência
de dar uma enorme ênfase a pequenas controvérsias, como o histórico militar de [George W.]
Bush ou a passagem de [John]
Kerry pela Guerra do Vietnã, mas
negligencia os temas relevantes.
Um exemplo foi emblemático:
após o terceiro debate, no qual
Kerry mencionou a filha homossexual de [Dick] Cheney [vice-presidente] ao defender suas posições sobre o tema, a mídia passou uma semana discutindo a
"importância" do comentário.
A grande imprensa não consegue deixar passar questões irrelevantes. Contudo não cobre profundamente assuntos muito sérios, como a Guerra do Iraque ou
a situação econômica do país.
Folha - Qual foi a real importância dos debates na TV?
Patterson - Se os debates não tivessem ocorrido, a disputa não
estaria tão equilibrada hoje. Eles
serviram para que Kerry, que se
mostrou sensato e comedido,
apresentasse sua candidatura a
milhões de americanos.
Antes deles, Bush tinha uma
vantagem razoável nas pesquisas,
de dez pontos percentuais. Assim,
os embates na TV puseram Kerry
na disputa novamente. Bush não
pareceu muito "presidencial" ou
seguro e confundiu algumas coisas, o que também ajudou Kerry.
Ainda é cedo, todavia, para dizer
que os debates serão decisivos.
Folha - E quanto à propaganda
política na televisão?
Patterson - Não vimos muitos
anúncios aqui em Massachusetts
porque a disputa no Estado, que é
democrata, já está definida. Porém viajamos bastante pelo país e
fizemos pesquisas a esse respeito.
Os ataques feitos por ambas as
partes foram realmente duros.
Republicanos e democratas dispuseram de muito dinheiro nos
últimos meses por conta de furos
na legislação sobre financiamento
de campanha. Com isso, foi possível concentrar uma quantidade
enorme de anúncios nos Estados
ainda indefinidos, e o tom foi claramente ofensivo e pessoal.
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