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Japão refará Constituição e terá Exército, diz o premiê
Para Shinzo Abe, Forças Armadas dariam ao país papel internacional atuante
A atual Carta, de 1946, foi redigida durante ocupação americana; premiê também
quer que cidadãos superem antigo sentimento de culpa
DAVID PILLING
DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO
Shinzo Abe, o novo primeiro-ministro japonês, disse que seu
governo reescreverá a Constituição pacifista do país durante
seu mandato, pondo fim a mais
de 60 anos de vigência de um
texto redigido após a Segunda
Guerra, durante a ocupação
militar americana.
Em sua primeira entrevista a
um jornal desde que assumiu a
chefia do governo, no final de
setembro, afirmou ao "Financial Times" que "o povo japonês
deveria elaborar uma Constituição digna do século 21".
O Artigo 9 do texto, existente
desde 1946, afirma que o Japão
renuncia ao direito de travar
guerras ou manter Forças Armadas. "Acredito que esse artigo precisa ser revisado do ponto de vista da defesa do Japão",
disse. A seu ver, há a expectativas de que o país desempenhe
papel na segurança internacional que esteja mais próximo de
sua condição de segunda maior
economia do mundo.
Sem Forças Armadas, o Japão possui, na prática, a força
policial mais bem-equipada do
planeta. "Passados 60 anos",
diz ele, referindo-se ao artigo,
"há cláusulas que não mais refletem as realidades atuais".
O Japão enviou forças ao Iraque e se comprometeu a participar das inspeções a navios
norte-coreanos, previstas pelas
sanções votadas na ONU.
Primeiro chefe de governo
japonês nascido depois da Segunda Guerra, Abe disse que
seu mandato tem três anos, e
que o presidente do Partido Liberal Democrata, no poder, pode servir até dois mandatos.
Nesse prazo, de seis anos, "tentarei fazer a revisão constitucional", afirmou.
Sucessor apontado pelo ex-premiê Junichiro Koizumi, ele
enfatizou a restauração do orgulho nacional japonês e afirmou ser necessário superar "o
sentimento coletivo de culpa"
deixado pela guerra.
Qualificou a reaproximação
com a China e com a Coréia do
Sul como o resultado de "uma
visão esclarecida dos interesses
nacionais". Sobre a China, disse
que, "sobretudo na economia,
precisamos um do outro. Os
chineses estão conscientes disso e provavelmente não poderiam permitir que as tensões
políticas persistissem, em razão do impacto negativo também sobre a economia deles".
Abe foi recebido em visita
oficial a Pequim apenas dez
dias depois de assumir o posto,
o que faz dele o único chefe de
governo japonês a fazer da China o seu primeiro destino internacional. Antes dele, todos os
premiês viajaram primeiramente a Washington.
A China e a Coréia do Sul
protestaram violentamente
contra as visitas de Koizumi ao
templo de Yasukuni, santuário
xintoísta que honra os 2,5 milhões de mortos japoneses na
Segunda Guerra, entre os quais
14 condenados por crimes de
guerra. A reação de Pequim e
Seul fez com que as relações de
Tóquio com o primeiro e o terceiro maiores parceiros comerciais do Japão caíssem a seu nível mais precário em décadas.
No cenário interno, Abe conseguiu se apresentar de maneira positiva, como político moderado, e não como o direitista
radical que sua reputação parecia indicar. Seu partido foi vitorioso em duas recentes eleições
distritais. Ele neutralizou rumores de que seria um primeiro-ministro-tampão, que não
sobreviveria às eleições para a
Câmara Alta do Parlamento,
em julho do ano que vem. Sua
popularidade está próxima a
70%, menor que a de Koizumi
no início do governo, mas bem
acima da aprovação média de
governantes japoneses.
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