São Paulo, quinta-feira, 02 de novembro de 2006

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Japão refará Constituição e terá Exército, diz o premiê

Para Shinzo Abe, Forças Armadas dariam ao país papel internacional atuante

A atual Carta, de 1946, foi redigida durante ocupação americana; premiê também quer que cidadãos superem antigo sentimento de culpa


DAVID PILLING
DO "FINANCIAL TIMES", EM TÓQUIO

Shinzo Abe, o novo primeiro-ministro japonês, disse que seu governo reescreverá a Constituição pacifista do país durante seu mandato, pondo fim a mais de 60 anos de vigência de um texto redigido após a Segunda Guerra, durante a ocupação militar americana.
Em sua primeira entrevista a um jornal desde que assumiu a chefia do governo, no final de setembro, afirmou ao "Financial Times" que "o povo japonês deveria elaborar uma Constituição digna do século 21".
O Artigo 9 do texto, existente desde 1946, afirma que o Japão renuncia ao direito de travar guerras ou manter Forças Armadas. "Acredito que esse artigo precisa ser revisado do ponto de vista da defesa do Japão", disse. A seu ver, há a expectativas de que o país desempenhe papel na segurança internacional que esteja mais próximo de sua condição de segunda maior economia do mundo.
Sem Forças Armadas, o Japão possui, na prática, a força policial mais bem-equipada do planeta. "Passados 60 anos", diz ele, referindo-se ao artigo, "há cláusulas que não mais refletem as realidades atuais".
O Japão enviou forças ao Iraque e se comprometeu a participar das inspeções a navios norte-coreanos, previstas pelas sanções votadas na ONU.
Primeiro chefe de governo japonês nascido depois da Segunda Guerra, Abe disse que seu mandato tem três anos, e que o presidente do Partido Liberal Democrata, no poder, pode servir até dois mandatos. Nesse prazo, de seis anos, "tentarei fazer a revisão constitucional", afirmou.
Sucessor apontado pelo ex-premiê Junichiro Koizumi, ele enfatizou a restauração do orgulho nacional japonês e afirmou ser necessário superar "o sentimento coletivo de culpa" deixado pela guerra.
Qualificou a reaproximação com a China e com a Coréia do Sul como o resultado de "uma visão esclarecida dos interesses nacionais". Sobre a China, disse que, "sobretudo na economia, precisamos um do outro. Os chineses estão conscientes disso e provavelmente não poderiam permitir que as tensões políticas persistissem, em razão do impacto negativo também sobre a economia deles".
Abe foi recebido em visita oficial a Pequim apenas dez dias depois de assumir o posto, o que faz dele o único chefe de governo japonês a fazer da China o seu primeiro destino internacional. Antes dele, todos os premiês viajaram primeiramente a Washington.
A China e a Coréia do Sul protestaram violentamente contra as visitas de Koizumi ao templo de Yasukuni, santuário xintoísta que honra os 2,5 milhões de mortos japoneses na Segunda Guerra, entre os quais 14 condenados por crimes de guerra. A reação de Pequim e Seul fez com que as relações de Tóquio com o primeiro e o terceiro maiores parceiros comerciais do Japão caíssem a seu nível mais precário em décadas.
No cenário interno, Abe conseguiu se apresentar de maneira positiva, como político moderado, e não como o direitista radical que sua reputação parecia indicar. Seu partido foi vitorioso em duas recentes eleições distritais. Ele neutralizou rumores de que seria um primeiro-ministro-tampão, que não sobreviveria às eleições para a Câmara Alta do Parlamento, em julho do ano que vem. Sua popularidade está próxima a 70%, menor que a de Koizumi no início do governo, mas bem acima da aprovação média de governantes japoneses.


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