São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

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OS ELEITOS

Obama

Democrata quer governar com gabinete bipartidário

Do enviado a Cincinnati (Ohio)


John Podesta, que trabalhou com Clinton, foi indicado há três meses para coordenar transição

No comício dessa tarde gelada de uma quarta-feira recente, John McCain anima as centenas de pessoas reunidas num hangar do aeroporto municipal de Lunken, em Cincinnati, no importante Estado-pêndulo de Ohio. À maneira dos "stand-up comedians" e como faz também seu oponente, Barack Obama, ele repete os pontos do texto que vem martelando quatro, cinco vezes por dia.
Tem a parte do aplauso emocionado, quando o senador diz que ele vem lutando pelo país desde os sete anos e tem "as cicatrizes para provar". A do final épico, em que repete a ordem de comando "lute!" mais de dez vezes e diz que "nada é inevitável". E a do momento cômico, em que fala que Obama "já está medindo as cortinas da Casa Branca", referindo-se ao clima de "já ganhou" que às vezes toma a campanha do democrata.
Em público, o senador democrata de 47 anos pede cautela e prega modéstia. No privado, no entanto, sua campanha já "mede as cortinas da Casa Branca" metaforicamente desde julho, quando John Podesta foi escolhido para comandar o gabinete de transição junto ao governo de George W. Bush. Esse gabinete iria se reunir pela primeira vez mais de três meses depois.
Desde então, especulações sobre quem ocupará os cargos-chave de uma administração Obama são o passatempo predileto de analistas e políticos de ambos os partidos.
Não há nomes de consenso para os cinco postos principais -secretários de Defesa, Estado e Tesouro, chefe-de-gabinete e assessor de Segurança Nacional. Esses postos são ocupados hoje respectivamente por Robert Gates, Condoleezza Rice, Henry Paulson, Joshua Bolten e Stephen Hadley.
Os nomes mais persistentes para esses cargos são, respectivamente, o próprio Gates, que seria convidado a ficar; Richard Lugar, senador republicano com quem Obama tem afinidade; Timothy Geithner, atual presidente do Fed (banco central) de Nova York, ou Lawrence Summers, que ocupou o cargo no governo de Bill Clinton; o ex-senador democrata Tom Daschle; e Susan Rice, secretária assistente de Estado de Bill Clinton.
Podesta, que dirige o centro de pensamento progressista Centro para o Progresso Americano, de Washington, não comenta o assunto desde que o "New York Times" publicou reportagem em que diz que o ex-chefe-de-gabinete de Bill Clinton já teria até mesmo feito o esboço do discurso inaugural de Barack Obama no dia 20 de janeiro. O texto apareceria no novo livro do acadêmico.
É "The Power of Progress -How America's Progressives Can (Once Again) Save Our Economy, Our Climate, and Our Country" (O Poder do Progresso - Como os Progressistas dos EUA Podem Salvar Nossa Economia, Nosso Clima e Nosso País, editora Crown), lançado em agosto. De fato, há um discurso de posse imaginário ali, que lança as bases do que imagina ser um governo de centro-esquerda ideal.
Mas ele nega que tenha algo a ver com o discurso que Obama faria se for eleito. "Foi um artifício literário que usei para resumir os pontos do livro", escreveu. "Ninguém na equipe de transição escreveu qualquer coisa que tenha a ver com o discurso inaugural."
A favor de Podesta está o fato de o candidato democrata ter orgulho de escrever ele mesmo seus textos principais, que depois submete para opinião e edição de três ou quatro pessoas em quem confia.
Entre elas seu estrategista político, David Axelrod. Na dança dos cargos, aliás, o ex-jornalista de Chicago é o mais cotado para suceder o que o republicano Karl Rove foi para George W. Bush. Alguém que ocupa um cargo nominalmente abaixo do radar -Rove era chefe-assistente de gabinete-, mas de poder de fato sobre o presidente e suas decisões.
De qualquer maneira, há um texto de 26 páginas circulando entre a equipe de transição obamista e seus assessores preparado pelo centro progressista. Nele, estão listadas dia a dia as atividades, indicações e ações feitas e tomadas pelos últimos cinco presidentes entre a eleição e a posse, que neste ano distam 77 dias uma da outra.
A iniciativa demonstra uma certa afluência do grupo formado em sua maioria por ex-membros do gabinete de Bill Clinton, mas é mais provável que eles tenham apenas um naco do poder. O resto será composto pelo "pessoal de Chicago", como é chamado o time que acompanha Obama pelo menos desde sua corrida ao Senado federal, em 2003/ 2004. E um ou outro nome republicano. (SÉRGIO DÁVILA)

MCCAIN IRONIZA ADVERSÁRIO POR "MEDIR CORTINAS" DA CASA BRANCA
Em público, democrata pede modéstia; privadamente, desenha transição


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